Lisboa, Santarém e Funchal conquistam novas estrelas Michelin

Vítor Matos gere neste momento nove projetos, incluindo o 2 Monkeys, em Lisboa. (Fotografia: DR)
Vítor Matos foi o chef de cozinha que mais se destacou na primeira gala portuguesa do Guia Michelin, ao conquistar a primeira estrela para o restaurante lisboeta 2 Monkeys e a segunda para o Antiqvvm, no Porto. O SÁLA, de João Sá, em Lisboa; Ó Balcão, do chef Rodrigo Castelo, em Santarém; e o Desarma, do chef Octávio Freitas, no Funchal, fecharam a atribuição de estrelas. A gala decorreu no NAU Salgados Palace & Congress Center, em Albufeira.

O saldo da primeira gala portuguesa do Guia Michelin, relativo ao ano de 2024, não pôde ser mais positivo para o chef Vítor Matos, que se tem desdobrado entre nove restaurantes, entre Lisboa e o Porto. O ponto alto da noite foi a atribuição da segunda estrela ao restaurante Antiqvvm, na Invicta, um feito que não estava nos planos do chef. “[À semelhança de poder vir a] ganhar três estrelas, para mim já era impensável ganhar duas”, confessou ele aos jornalistas após o término do evento, no NAU Salgados Palace & Congress Center, na Guia, em Albufeira.

“Ganhar duas estrelas Michelin não é ganhar só um prémio. É uma responsabilidade muito grande perante os nossos clientes e as pessoas que nos visitam. Quer dizer que não podemos parar aqui, temos de subir mais”, concluiu o chef, com duas novas jalecas entregues pelo Guia Michelin. Além de proporcionar uma vista panorâmica sobre o Douro, o restaurante tem colhido a preferência dos clientes graças às propostas do chef, que garante trabalhar com produtos “90% portugueses”, dando forma a uma cozinha “cultural, natural, evolutiva, social e artística”.

Um dos pratos do 2 Monkeys. (Fotografia: DR)

Em resposta aos jornalistas, Vítor Matos colocou o foco sobre o trabalho desenvolvido pelas equipas maioritariamente muito jovens que o acompanham nas cozinhas onde trabalha e que tem sob a sua tutela gastronómica – como os restaurantes Blind, Hool, 2 Monkeys, Salão Nobre e Onze, entre outros. “Ser chef é saber gerir pessoas, e esta juventude tão focada tem dado alento à minha vida. A Rita Magro [eleita Jovem Chef neste guia] é um deles. Todos estiveram comigo no Antiqvvm e no Casa da Calçada. Na cozinha é preciso paixão e irreverência”, disse.

Rita Magro, conimbricense de 27 anos, ganhou o prémio de Jovem Chef atribuído pela primeira vez na história do Guia Michelin e, à semelhança de outros premiados, “não estava nada à espera”. “Pensei que o motivo de aqui estarmos fosse a entrega de alguma distinção ao Blind, que é para isso que temos trabalhado desde há cinco anos. É um reconhecimento pessoal enorme e espero que seja um caminho a seguir por todas as mulheres, porque é uma luta tentar ver mulheres lutarem por este protagonismo”, realçou a braço-direito do chef Vítor Matos.

A chef Rita Matos e a sua equipa no restaurante Blind, no Porto. (Fotografia: DR)

Rita formou-se em Gestão e Produção de Cozinha na Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra, mas entrou neste universo “de forma um pouco aleatória”, tendo descoberto a vocação ao fim de várias sessões de cozinha com o irmão. No seu percurso, esteve nos restaurantes do Vila Vita Parc, Salpoente e Antiqvvm, antes de se juntar à equipa do Blind, o fine dining do Torel Palace Porto, que também foi distinguido, entre outros 20, como Restaurante Recomendado pela presente edição do popularmente conhecido guia vermelho.

Para a atual lista de 31 restaurantes portugueses galardoados com uma estrela Michelin entraram também ainda o SÁLA, do chef João Sá, em Lisboa, e o Desarma, do chef Octávio Freitas, no Funchal (Madeira). Falando do seu restaurante situado na Baixa lisboeta, e no qual serve um menu inspirado nas viagens dos Descobrimentos, João Sá disse aos jornalistas que ganhar a estrela Michelin era uma ambição há cinco anos e sempre acreditou que esse dia iria chegar. “É uma boa abertura de caminho para quem quiser acreditar que é possível”.

O chef João Sá é o anfitrião e chef do SÁLA, em Lisboa. (Fotografia: DR)

Já Octávio Freitas, com carreira firmada na gastronomia madeirense há 26 anos, não escondeu aquilo a que chamou “falsas modéstias” no momento de receber a distinção Michelin. “Estava à espera de ganhar. Se não acontecesse agora, ia acontecer para o ano”, dado que o projeto foi pensado, desde início, para alcançar este patamar. Visivelmente satisfeito, realçou também o “orgulho” em “poder ver brilhar” a terra-natal com a terceira estrela, fazendo contas aos restaurantes William e Il Gallo D’Oro, que mantiveram as respetivas distinções do guia.

O profissional realçou ainda o facto de o Desarma se encontrar no hotel The Views Baía do Funchal, uma unidade de quatro estrelas aberta há cerca de um ano, com o primeiro espaço à la carte. “Um restaurante com esta segmentação leva-me a dizer que talvez estejamos a fazer duplamente história, esta noite”. A seu lado, o chef tem uma equipa jovem e “irreverente”, em que deposita toda a confiança e admiração. “Se esta equipa num ano fez isto, pergunto o que será capaz de fazer em cinco ou 10 anos”, afirmou, ansioso por voltar ao trabalho na ilha.


Os Bib Gourmand e os Recomendados

No Guia Michelin Portugal 2024 couberam também, além dos espaços estrelados, oito novos restaurantes com o selo Bib Gourmand, isto é, onde a refeição apresenta uma boa relação qualidade/preço, na ordem dos 45 euros. São eles o Flora (Viseu), o Inato Bistrô (Braga), o Norma (Guimarães), O Pastus (Paço de Arcos), o Olaias (Figueira da Foz), o Oma (Baião), o Pátio 44 (Porto) e o Poda (Montemor-o-Novo). No total, existem agora 46 destes no país.

Ainda fora das estrelas, o guia ganhou 21 novos restaurantes recomendados: Apego (Porto), BAHR (Lisboa), Blind (Porto), Bonfim 1896 with Pedro Lemos (Pinhão), Casa do Gadanha (Estremoz), Cavalariça (Comporta), Downunder by Justin Jennings (Lisboa), Fago (Marvão), Fauno (Porto), Gastro by Elemento (Porto), Horta (Funchal), Lamelas (Porto Covo), MA (Coimbra), Noélia (Cabanas de Tavira), Numa (Portimão), O Palco (Coimbra), Quinta do Tedo – Família Geadas (Folgosa), Seiva (Leça da Palmeira), Sem (Lisboa), Sem Porta (Muda) e Vinha (Vila Nova de Gaia).

Peixe-de-rio, no Poda (Fotografia: DR)


Estrelas verdes e a estreia de novos prémios

Na atribuição das estrelas verdes, que homenageiam as práticas sustentáveis e a pegada ecológica dos restaurantes, as novidades destinaram-se à Malhadinha Nova (do chef João Sousa, em Albernoa, Beja) e ao Ó Balcão (do chef Rodrigo Castelo, em Santarém). Anteriormente, já haviam sido distinguidos com este selo os restaurantes Esporão, em Reguengos de Monsaraz; Mesa de Lemos, em Passos de Silgueiros; e Il Gallo d’Oro, no Funchal, Madeira.

De referir ainda que, pela primeira vez, foram atribuídos em Portugal os prémios Sala (Pedro Marques, que lidera o serviço de sala do The Yeatman, em Vila Nova de Gaia), Sommelier (Leonel Nunes, que assume este cargo no Il Gallo d’Oro, Funchal) e Jovem Chef (entregue a novas promessas da gastronomia, este ano para as mãos de Rita Magro, do restaurante portuense Blind).

Rodrigo Castelo, no seu restaurante escalabitano Ó Balcão. (Fotografia: DR)


Gwendal Poullennec, diretor internacional dos Guias Michelin, declarou, em comunicado, que “desde há vários anos” que os inspetores “constatam, com satisfação, o auge constante do panorama gastronómico português”, “impulsionado, entre outros, por jovens chefs locais, que têm a audácia e a coragem de lançar o seu próprio conceito, assim como por chefs mais consolidados, que há muito estão comprometidos em reescrever a face moderna da cozinha lusófona”. O guia de 2024 “ilustra”, por isso, o “alto nível” da gastronomia moderna portuguesa.

O Guia Michelin Portugal recomenda um total de 167 restaurantes, dos quais 30 são novos. Existem oito com duas estrelas (um novo); 31 com uma estrela (quatro novos), cinco com estrela verde (dois novos), 32 Big Gourmand (oito novos) e 96 Recomendados (21 novos). A seleção do Guia Michelin Portugal está disponível para consulta gratuita no website oficial e na aplicação Guia Michelin disponível para dispositivos com sistemas iOS e Android. Em papel, estará à venda, num futuro breve, em livrarias.




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