Passeio por quatro dos lugares emblemáticos do 25 de Abril em Lisboa

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)
Lisboa concentrou o essencial das manobras militares do 25 de abril de 1974, que, ao contrário das anteriores tentativas de derrubar do regime, se estenderam a todo o país. A Evasões destaca quatro dos lugares mais simbólicos da revolução que abriu enfim caminho à liberdade.

Lisboa concentrou o essencial das manobras militares do 25 de abril de 1974, que, ao contrário das anteriores tentativas de derrubar do regime, se estenderam a todo o país, incluindo as ilhas dos Açores e da Madeira, e as colónias. A capital juntou forças próprias, como a Escola Prática de Administração Militar e a Escola Prática de Transmissões, e recebeu também forças vindas de Almada, Aveiro, Estremoz, Figueira da Foz, Mafra e Santarém, entre muitas outras. Naquele dia, o golpe de Estado executado pelo Movimento das Forças Armadas abarcou toda a cidade.

Por altura dos 45 anos da revolução, a Associação 25 de Abril e a Câmara Municipal de Lisboa encetaram um projeto conjunto de mapeamento de 25 locais para sempre associados às ações do MFA, intitulado Lugares de Abril. Disponível tanto online como em formato desdobrável, em papel, o projeto instalou placas informativas em cada local e, mais recentemente, lápides com QR codes que encaminham para a página da associação com a descrição pormenorizada dos lugares e do que neles sucedeu no “dia inicial inteiro e limpo”, citando Sophia de Mello Breyner.

Falta colocar sinalética apenas em dois, explica Alfredo Sanches Vieira, adjunto da Direção da associação fundada a 22 de outubro de 1982 por oficiais dos quadros permanentes das Forças Armadas. São eles o posto de comando do MFA na Pontinha, integrado num quartel da GNR; e o edifício da Companhia Portuguesa Rádio Marconi, que foi ocupado pelos homens da Escola Prática de Cavalaria de Santarém sob comando do capitão Salgueiro Maia. Abaixo, a Evasões destaca quatro dos lugares mais simbólicos da revolução que abriu enfim caminho à liberdade.

 


Terreiro do Paço/Rio Tejo
Centro do poder político do Estado Novo, o Terreiro do Paço foi um dos cenários principais das ações militares do 25 de abril de 1974. O Movimento das Forças Armadas decidiu ocupá-lo não apenas por motivos simbólicos, mas também porque era ali que se situavam os ministérios do Exército e da Marinha, que podiam interferir com a revolta em curso. Segundo a Associação 25 de Abril, a ocupação foi consumada por cerca de 220 militares da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, às ordens do capitão Salgueiro Maia. Porém, os revoltosos depararam-se com a resistência do regime, nomeadamente com a fragata Gago Coutinho, que nessa madrugada se preparava para sair para um exercício da NATO e foi mandada regressar, para poder abrir fogo sobre os blindados de Salgueiro Maia. Há, no entanto, diferentes versões sobre este momento.

(Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)


Rua do Arsenal
Segundo informação disponibilizada pela Associação 25 de Abril, na Rua do Arsenal, junto aos Paços do Concelho, houve “confrontos” entre forças revoltosas da Escola Prática de Cavalaria e do Regimento de Cavalaria 7, fiel ao regime e que, vinho de oeste, surpreendeu as tropas de Salgueiro Maia que rodeavam o Terreiro do Paço. “Foi neste confronto que o tenente Alfredo Assunção se distinguiu, ao procurar negociar com as forças opositoras [de braços abertos em frente ao carro de combate], mantendo-se sereno, mesmo depois de ter sido agredido por um oficial [Coronel Romeiras] das forças do regime. Os acontecimentos tiveram lugar entre as 07h e as 10h30”. Apesar da tensão sentida durante a manhã, não houve nenhum disparo e há quem diga que o desfecho da revolução se decidiu naquela rua e na Ribeira das Naus.

(Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)


Largo e Quartel do Carmo
“O Quartel do Carmo é o local mais emblemático, pois foi ali que se deu a rendição de Marcelo Caetano [à época primeiro-ministro e que ali se havia refugiado desde as 06h]. Ele exigiu que o poder não caísse na rua e passasse para o general Spínola”, explica Alfredo Vieira, ato que se consumou pelas 18h30, dando a vitória aos revoltosos. Até 12 de maio, as portas do Quartel do Carmo estarão abertas a visitas gratuitas (segunda a sábado e feriados, das 10h às 18h), com acesso ao Museu da Guarda e à exposição temporária “A GNR no 25 de Abril”. O corredor D. Nun’Álvares, o salão nobre, os gabinetes do Comando e a varanda sobre o Rossio estarão abertos das 10h às 17h30. A iniciativa decorre no âmbito do 113.º aniversário da Guarda Nacional Republicana e do Plano Nacional das Comemorações dos 50 anos da Revolução.

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)


Praça do Rossio
A Praça D. Pedro IV, comumente conhecida como Praça do Rossio, reveste-se de simbolismo por ter sido o local onde os lisboetas manifestaram a completa adesão à revolução. Havia povo nas ruas quando a coluna de Salgueiro Maia, vinda do Terreiro do Paço, passou a caminho do Largo do Carmo, por volta das 12h. Foi também no Rossio que Celeste Caeiro entregou um cravo a um militar, que o colocou no cano da espingarda, eternizando-o como símbolo da revolução. Na verdade, tratou-se de uma casualidade. É certo que as floristas do Rossio já os vendiam, mas muitos foram aproveitados de uma ação de boas-vindas aos turistas que deveria ter acontecido na véspera, Dia do Turista. Como a infraestrutura também tinha sido ocupada, não houve tráfego aéreo e os cravos foram levados e distribuídos pela população.

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)




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