Onde encontrar comida do Médio Oriente em Lisboa?

Há vinte anos, poucos saberiam o que era húmus ou babaganoush, mas hoje fazem parte das cartas de muitos restaurantes por todo o mundo. Lisboa não escapou à febre e, só nos últimos meses, abriram três restaurantes e uma padaria libanesa, além de uma mercearia de dois palestinianos. Mas o que terá, afinal, a cozinha do Médio Oriente para nos conquistar?

Grão-de-bico sempre casou bem com guisados e sopas portuguesas, além de fazer um par perfeito com o bacalhau. Mas nunca o moemos, juntámos pasta de sésamo, especiarias, limão e azeite. O húmus não nos pertence, mas nos últimos dois anos tomou conta das cartas de restaurantes, em Portugal e mundo fora. Seja como entrada ou parte do brunch, esta versátil pasta de grão tornou-se, subitamente, palavra internacional. «É o efeito de uma crescente preocupação com a cozinha saudável e o movimento vegetariano», diz Tarek Mabsout, nascido em Beirute, mas criado em Lisboa. É dono do Atalho Real e, recentemente, resolveu homenagear a avó libanesa ao abrir um segundo restaurante no Príncipe Real, o Sumaya.

A cozinha libanesa foi, talvez, a primeira a conquistar a capital a sério. Os Fenícios, aberto desde 2009, é uma referência na cidade, mas entre os mais recentes contam-se o restaurante-mercearia Casa dos Cedros que acaba de abrir no Marquês de Pombal (pertence à filha dos donos d‘Os Fenícios); e, no Cais do Sodré, o Muito Bey, a padaria Saj Bakery e o Za’atar, fruto da parceria entre José Avillez e o chef de Beirute Joe Barza. «Comecei a promover a cozinha libanesa há 20 anos e acho que agora está entre as cinco melhores do mundo. É talvez das mais saudáveis», diz Barza. «Somos quatro milhões a viver no Líbano, mas espalhados pelo mundo fazemos 20 milhões. A gastronomia libanesa é conhecida no Brasil e nos Estados Unidos. Na Europa está também a crescer», continua o chef.

O húmus do Sumaya, o novo restaurante da Rua da Escola Politécnica, no Príncipe Real.
(Jorge Amaral / Global Imagens)

 

Itamar Eliyahu, que abriu com o marido Elad Budensthteiin o restaurante israelita Tantura, no Bairro Alto, sublinha que a maioria das cozinhas do Médio Oriente em Lisboa são libanesas. Reforça, no entanto, que «há um movimento para abrir restaurantes de diferentes gastronomias do mundo na capital». «Antes parecia que só havia espaço para tascas, restaurantes, italianos e franceses, mas está a mudar. Fico contente por termos sido pioneiros com a comida israelita», diz Elad, que é de Tel Aviv.

É impossível não referir ainda o projeto de integração de refugiados sírios Pão a Pão, que deu origem ao restaurante Mezze, no Mercado de Arroios, e que inspirou um casal palestiniano, Serenah Sabbat e Hendi Mesleh, a abrir a sua mercearia no mesmo bairro, a Zaytouna. Vendem húmus em lata e babaganoush (pasta de beringela) para os mais preguiçosos, mas também produtos raros como cerveja com aroma de romã e o tradicional doce árabe de pinhões, o halawa. Com tantos pratos semelhantes, afinal o que separa e une a comida israelita, da libanesa, da palestiniana e da síria?

A cozinha que é um «caldeirão de culturas»

Levante é o termo geográfico dado à área que hoje conhecemos como Médio Oriente: Líbano, Síria, Jordânia, Israel e territórios palestinianos. Ou Grande Síria, como era conhecida a região até à queda do Império Otomano. Não é, por isso, de estranhar que grande parte das técnicas culinárias e forma de comer sejam comuns a todo o Levante. «Alimentos crus, o uso de ervas como ingredientes (e não apenas condimentos), sabores ácidos, temperos (como o za’atar), frutos secos (pinhões, pistácios), leguminosas, cereais, pão ázimo e azeite» são elementos comuns a todos estes países, refere Mina Holland no livro O Atlas Gastronómico: Uma Volta Ao Mundo Em 40 Cozinhas (ed. Lua de Papel, 2015). «Tratando-se de um local tão devastado por conflitos, a sua comida tem uma capacidade incrível de unir as pessoas, uma qualidade que se espelha na cultura da mezze da partilha de pratos, mas também no número de pratos que diferentes países ou comunidades religiosas desta área têm em comum». «O libanês gosta de ter muita comida à frente», confirma Tarek Mabsout, dono do Sumaya. «Mas há uma ordem à mesa. Começa-se pelas mezze (pequenos pratos) frias, depois as quentes e no fim os grelhados.»

Uma das discussões mais comuns prende-se com a origem de um destes petiscos, o húmus. «É quase como perguntar quem inventou a vida? É uma eterna questão», diz Elad Budensthteiin do israelita Tantura. A forma de fazer varia de país para país e até de religião. «Nós, judeus, comemos húmus a partir do almoço; já os muçulmanos comem ao pequeno-almoço», acrescenta o companheiro Itamar: «Um prato que não se vai ver no Líbano é a shakshouka [ovos escalfados em molho de tomate e pimentos], que originalmente é da Tunísia, mas foi introduzido na cozinha israelita».

Esta é, aliás, a gastronomia que mais se destaca dentro do Levante, merecendo um capítulo próprio da autora Mina Holland. Esta descreve-o como um «caleidoscópio evolutivo do antigo e do moderno», citando o chef Yotam Ottolenghi, natural de Jerusalém. Mina fala ainda de «uma cozinha em formação e a encontrar o seu lugar» desde que, no pós-guerra, os judeus asquenazes (com origem da Europa Central) e os sefarditas (estes já nos anos 1970-80, vindos de Norte de África e Leste do Mediterrâneo) se fixaram em massa no território, trazendo as suas tradições e adaptando-as aos ingredientes locais.

Nas sobremesas predominam os frutos secos, como pistácios e amêndoas.

A verdade é que estes produtos-base da cozinha do Levante estão facilmente disponíveis em vários pontos do mundo, fazendo que os pratos sejam mais fáceis de exportar, vinca Joe Barza: «Em termos de sabor, a receita acaba por resultar da mesma forma num país estrangeiro». Barza fala do húmus, mas até este tem técnica na hora de fazer. «Encomendo grão-de-bico mexicano, de 12 milímetros, o português é mais pequeno. Coze-se em água com bicarbonato, lava-se outra vez, antes de lhe juntar o tahini [pasta de sésamo], as especiarias, azeite e sumo de limão», explica o chef libanês do Sumaya. Tradicionalista que é, recusa-se a fazer húmus de beterraba e outras variações, só para mostrar algo diferente. «Posso fazer e já fiz, mas não é melhor do que o húmus normal.» Que o caldeirão de culturas que é o mundo também nunca o desvirtue.

Percorra a fotogaleria acima para conhecer os restaurantes que têm comida do Médio Oriente, em Lisboa.

Partilhar
Morada
Rua do Conde Redondo, 141-A LISBOA
Telefone
212448703
Custo
(€€) 20
Horário
De terça a domingo, das 12h00 às 15h00 e das 19h00 às 00h00. Encerra à segunda-feira.


GPS
Latitude : 38.7249951
Longitude : -9.145963800000004
Partilhar
Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica
Partilhar
Morada
Rua Castilho, 14 C, Piso 7, Lisboa
Telefone
213141045
Custo
(€€) Preço médio: 20 euros (restaurante)
Horário
Restaurante aberto das 19h30 às 23h00, fecha aos domingos. Level Eight aberto todos os dias das 17h00 às 02h00.


GPS
Latitude : 38.7203466
Longitude : -9.149022899999977
Partilhar
Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica
Partilhar
Morada
Rua Angela Pinto Loja 22/23, Mercado de Arroios
Telefone
939 806 699
Custo
(€€) Preço médio: 20 euros
Horário
De quarta a domingo, das 12h00 às 22h. Encerra segunda e terça.


GPS
Latitude : 38.7352595
Longitude : -9.132670200000007
Partilhar
Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica
Partilhar
Morada
Rua do Trombeta, 1 D (Bairro Alto), Lisboa
Telefone
218096035/938381922
Custo
(€€) Preço médio: 25 euros.
Horário
De terça a domingo, das 18h às 24h. Brunch ao sábado, das 12h às 15h30.


GPS
Latitude : 38.711567
Longitude : -9.145140999999967
Partilhar
Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica
Partilhar
Morada
Rua da Escola Politécnica, 40 (Príncipe Real), Lisboa, Lisboa
Telefone
213470351
Custo
(€€) Preço médio à carta: 20 euros.
Horário
Diariamente, das 09h às 24h. Segunda e terça, encerra entre as 16h e as 19h.


GPS
Latitude : 38.7173649
Longitude : -9.149829700000055
Partilhar
Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica
Partilhar
Morada
Av. Duque de Loulé, 1 E (Marquês), Lisboa
Telefone
218680041
Custo
(€) Menu de almoço (prato e bebida) 8,90 euros.
Horário
De segunda a sexta, das 09h30 às 19h30. Sábado, das 10h00 às 18h00. Encerra domingo.


GPS
Latitude : 38.728067
Longitude : -9.145002999999974
Partilhar
Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica
Partilhar
Morada
Rua Ângela Pinto, 19 (Arroios), Lisboa
Telefone
926369317
Horário
Das 10h00 às 19h00. Encerra ao domingo


GPS
Latitude : 38.73502209999999
Longitude : -9.132244899999932
Partilhar
Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica
Partilhar
Morada
Rua do Arsenal, 118 (Cais do Sodré), Lisboa
Horário
Das 11h00 às 20h00. Não encerra


GPS
Latitude : 38.7074614
Longitude : -9.140801099999976
Partilhar
Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica

Leia também:

10 restaurantes tradicionais chineses para ir em Lisboa
8 restaurantes acolhedores para fugir ao frio em Lisboa
As novas e boas pizas artesanais de Benfica junto a um lago

 




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend