Crítica de restaurante: Bon Bon, Carvoeiro (Lagoa)

(Fotografia: Jorge Simão)
O talento de Louis Anjos jorra de uma fonte que parece não ter fim. Nasceu no outro lado do Atlântico, descobriu a vocação aos 15 anos, já em Portugal e até hoje não parou um minuto, sempre em progressão na técnica e diversidade. Assumiu há três meses a cozinha do Bon Bon, com uma proposta brilhante de raízes e proximidade.

Há poucos cozinheiros assim, que nada desperdiçam dos lugares e experiências por que passam, antes recombinam dentro de si à maneira do magma, tornando-se mais matizados e fortes. Louis – vocativo americano de Luís – foi nascer aos EUA, e por determinação familiar cresceu em estatura e graça junto a seus pais perto de Minde. Aos 15 anos, Louis Anjos era já um rapaz adulto quando lhe subiu a moção de aprender cozinha e pastelaria, ingressando na escola de hotelaria de Fátima. Depois, rumou a sul, para experiências nalgumas das grandes cozinhas algarvias, posto temporário na Batalha, terra próxima das suas origens, onde mediu forças consigo próprio ao inaugurar no Villa Batalha a cozinha.

Voltou para o Algarve com a autoconfiança consolidada e um sentido de equipa que é invulgar numa profissão algo solitária como é a de chef de cozinha. Louis Anjos é um líder genuíno, aprendeu a dar apoio antes de exigir. Experiências internacionais em Londres, no Viajante de Nuno Mendes, em San Sebastian junto de Martin Berasategui, que ajudaram a esculpir o criador que hoje vive no peito do ainda jovem chef Anjos. Dei tardiamente por ele, no restaurante Morgadinho Suites Alba, em Lagoa, há cerca de sete anos, numa experiência de grande esclarecimento e novidade. Meses mais tarde, vencia a etapa regional sul do concurso chef cozinheiro do ano, para em 2012 chegar ao galardão máximo nacional. Em boa hora aceitou há cerca de três meses o posto de chef no Bon Bon, em Sesmarias, Carvoeiro, vaga criada pela saída de Rui Silvestre para projeto próprio em Lisboa.

O líder tranquilo que aprendeu a ser transmite segurança a todos, coreografia de sala impecável, serviço de vinhos irrepreensível e a proximidade marítima do barlavento declina-se em criações de rasgo. Do menu a Essência em quatro momentos (95 euros) retenho tudo com o mesmo detalhe com que nos é oferecido no prato. Sapateira, couve-flor e caviar imperial num mix em que não há medo da intensidade aromática nem do sabor, legume assumidamente a marcar presença. Peixe de linha – salmonete, no caso -, dashi de algas e peixe seco, choco e mexilhão, festival de sabores populares com o brilho da extração muito suave de caldos. Pombo royal, foie gras, salsifis e vinho do Porto, o prato da noite que é preciso provar e voltar para provar de novo, brilhantemente casado pelo proprietário Nuno Diogo com o Syrah da vizinha Quinta do Francês.

Da lavra sábia do chef de pastelaria Raul Cachola veio a bem conseguida amêndoa, mel, alfazema e moscatel, festival de doces texturas a honrar o prodigioso Algarve. Mais que evidente a manutenção da estrela, a prazo chegar mesmo à segunda. Tudo muito acima, aqui.


Classificação
O espaço: 5
O serviço: 5
A comida: 5

A refeição ideal
Menu 6 momentos (125 euros)
Harmonização vínica dos seis pratos (75 euros)
Sapateira, couve-flor, caviar imperial
Lavagante azul, açafrão, tangerina, beterraba
Peixe de linha, dashi de peixe seco, choco, mexilhão
Borrego alentejano, pá, lombo, cenoura algarvia
Pombo royal, foie gras, salsifis, vinho do Porto
Amêndoa, mel, alfazema, moscatel

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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