Crítica de Fernando Melo: Cais da Villa, Vila Real

crítica Fernando Melo Cais da Villa Vila Real
(Fotografia de Rui Manuel Ferreira/GI)
Já foi lugar de perder o comboio e de confluência de todas as pressas, a estação velha e desativada de Vila Real. No velho armazém contudo, a vida renova-se a cada dia, a insistir connosco para instalar a urgência de ficar.

Temos razões para estar otimistas e acreditar que fora das grandes urbes também há uma revolução culinária em curso. Nos seus trintas, chefs decidem estabelecer-se em lugares a que estão ligados ou por via familiar ou por opção de vida, instalando os ventos modernos que tanta falta nos fazem. Por muito simples que possa parecer, não é; abraçar um estilo de vida onde muito pouco à volta mexe, quando já se esteve no centro de furacões, exige maturidade e coração.

Dar em 2010 com o chef Daniel Gomes no Cais da Villa foi um sinal positivo desse fenómeno, que todos desejamos que se massifique. Não estavam, contudo, criadas ainda as condições para a sua fixação na casa, aspetos de equipa, mercado e serviço conduziram a um intervalo de cerca de três anos que permitiram a todos crescer e criar maturidade. O alforge do ainda jovem cozinheiro conta com presença em cozinhas de grande gabarito, entre as quais Quinta das Lágrimas em Coimbra, Vintage House no Pinhão, Vila Vita Parc em Armação de Pêra e Vila Joya na Galé. Voltou para o Cais da Villa apostado em criar equipa e oferta de primeira linha, servindo-se de tudo o que aprendeu e com a ideia fixa de criar uma proposta abrangente e mais ligada ao produto de época. E mudou tudo, o chef Daniel. Hoje tem uma brigada de truz, organizou as partidas na cozinha e afinou o gosto dos pratos até ao limite. Agora estamos na linha da frente, totalmente acompanhados na viagem a que só os melhores chegam.

No carpaccio de vitelão, azeite trufado, queijo terrincho e pesto de beterraba (10 euros), o produto ao rubro, a ligação de temperos e produtos em modo ligeireza absoluta, dá-nos o mote para todo o resto. O vezeiro salmão aqui atinge pináculo de impressões e sabores; falamos do salmão gravlax de citrinos e funcho (10 euros), assessorado por um brilhante tártaro de frutos exóticos e requeijão. Guloseima total, a salada cremosa de bacalhau e grão-de-bico (10 euros). Tudo em toada de revelação, que maravilha estar nas mãos de quem cozinha assim.

No capítulo marítimo há glória no polvo grelhado com escalivada – declinação catalã da ratatouille – e batata braseada (20 euros) e viagem feliz na vieira e camarão corados (20 euros) com risoto de abóbora e funcho. Bom para um primeiro prato o cantaril corado (18 euros), trabalho conseguido com couve-flor, castanhas, abóbora e molho de vinho branco. Já se vê que o ideal é ir acompanhado para poder parar em todas as estações.

Vale bem a pena conferir a volta que o chef Daniel Gomes dá ao arquitradicional da terra joelho da porca assado (25 euros) com batata alourada e couve salteada com toucinho, e é de alta escola o peito de pato rosado com molho de vinho do porto (18 euros). Impossível partir sem passar pela delícia de noz com creme de ovos (7,50 euros) e mousse de aguardente. Melhor mesmo é não partir e ir ficando, que é o mesmo que partir muitas vezes para outras tantas voltar.

Classificação
O espaço: 4,5
O serviço: 3,5
A comida: 5

A refeição ideal
Salada cremosa de bacalhau e grão-de-bico (10 euros)
Vieira e camarão corados com risoto de abóbora e funcho (20 euros)
Cordeiro transmontano assado com alecrim (20 euros)
Delícia de noz com creme de ovos e mousse de aguardente (7,50 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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