Monsaraz: a vila em colina que é um tesouro por descobrir

Em 2017, a CNN considerou Monsaraz uma das mais bonitas vilas em colina da Europa. Em 2014, a National Geographic destacava-a como um dos 21 destinos mundiais a visitar. Nos últimos anos, a vila medieval alentejana tem andado na boca do mundo, mas por cá há muito nos rendemos aos seus encantos. E são vários.

Ainda que em torno de Monsaraz tudo esteja diferente, mais povoado e mais edificado do que há uns anos, fruto do crescimento turístico, agrícola e vinícola, dentro da vila as ruas continuam a ser de xisto, sem carros e com pouca gente. Foi contido o progresso de betão dentro das muralhas onde o cenário parece de filme romântico, daqueles de domingo à tarde com chuva; ou de história infantil, daquelas com princesas e cavaleiros que as salvam; ou de literatura histórica, com batalhas e conquistas de território.

O castelo de Monsaraz, concluído por D. Dinis, foi, de facto, palco de grandes batalhas entre cristãos e mouros, entre portugueses e espanhóis. A localização estratégica da fortaleza aliada à capacidade de improviso tão caraterística do povo português proporcionaram um momento sui generis da história nacional. Ou, pelo menos, contribuíram para uma lenda que gostamos de acarinhar. Inclui portugueses, espanhóis e seis vacas. Em versão resumida: Nuno Álvares Pereira, em 1384, investiu sobre Monsaraz então sob domínio espanhol. Para o efeito, soltou seis vacas nas proximidades da vila, calculando – e bem! – que a fome é má conselheira. Ora, as tropas leais a Castela não resistiram à ideia de vaca no espeto e tentaram capturar os animais, saindo do perímetro amuralhado. Aí, enquanto os outros, como o peixe, morriam pela boca, os homens de Nuno Álvares tomavam o castelo. Vitória, vitória, acabou-se a história.

A Casa Tial, junto à Porta da Vila, é café e loja onde vende pastéis, doces e bolachas, azeites, conservas e vinhos, ervas aromáticas, chocolate e licores de cerca de trinta produtores familiares.

Em Monsaraz, o caminho faz-se andando…

Literalmente! O carro fica estacionado do lado de fora das muralhas, sendo que há quatro grandes portas de acesso à vila. A principal, a Porta da Vila, está protegida por dois torreões semicilíndricos; a Porta d’Évora está no lado norte; e as restantes, a d’Alcoba e a do Buraco, são portas de arco pleno. Passear por Monsaraz é sempre um prazer; seja pela primeira ou pela vigésima vez, há sempre pormenores que saltam à vista, mas também o conforto de reconhecer alguns dos projetos que se mantêm firmes, ano após ano, na preservação das tradições da região. Como a Loja da Mizette, que continua a vender as mantas tradicionais produzidas na sua Fábrica Alentejana de Lanifícios, em Reguengos de Monsaraz. Tudo é feito em teares manuais, de madeira, que já teceram parte da nossa história rural, mas também tecidos para a Kenzo Home, do estilista japonês Kenzo Takada.

A outras modas pertence Thierry Bernard. Ex-booker em Paris, comprou, há 11 anos, um monte alentejano em Monsaraz para passar férias. Quando decidiu deixar a Cidade das Luzes foi daquela vila alentejana que fez morada. Abriu a Casa Tial, junto à Porta da Vila, começando uma nova etapa de vida. É café e loja, onde vende pastéis, doces e bolachas, azeites, conservas e vinhos, ervas aromáticas, chocolate e licores de cerca de trinta produtores familiares. Thierry fala dos produtos com paixão, como se fossem seus; fala de Monsaraz com carinho, como se fosse sua. E já é.

Alqueva: a primeira praia e os passeios pelo Grande Lago

A par das caraterísticas arquitetónicas da vila, a paisagem circundante é um atrativo inquestionável. Acompanhando a muralha até ao castelo, classificado como Monumento Nacional, encontra-se a antiga praça de armas. Daqui, a vista sobre o Alqueva é privilegiada. O maior lago artificial da Europa é resultado de uma empreitada controversa, ora apontada como um desastre ambiental ora eleita das melhores obras do século XX português. Verdade é que, apreciado de cima, o Grande Lago silencia todos os argumentos, os pró e os contra. A beleza da paisagem vale a viagem. Do cimo da colina, o mundo é lindo.

Um dos que navega as águas calmas do lago é o veleiro Sem Fim, construído em 1913. Veio da Holanda, já foi um centro de jardinagem e uma casa de habitação. Hoje é palco de passeios individuais ou de grupo, com possibilidade de serem servidas bebidas, petiscos e refeições a bordo.

Lá em baixo, foi inaugurada, em junho, a Praia Fluvial de Monsaraz para contentamento dos muitos visitantes que se encontram longe das praias da costa. No interior alentejano, o calor não dá tréguas. O verão é quente e seco, com temperaturas que facilmente ultrapassam os 30 graus – e no início de outono as coisas não mudam muito. A praia de água doce, vigiada, é por isso bem-vinda. Dispõe de uma série de infraestruturas de apoio como bar-restaurante, casa de banho, chuveiros e parque de estacionamento para facilitar a vida aos turistas, que são muitos no pico do verão.

A praia fica no Centro Náutico, de onde saem os barcos de passeio pelo Alqueva. Um dos que navega as águas calmas do lago é o veleiro Sem Fim, construído em 1913. Veio da Holanda, já foi um centro de jardinagem e uma casa de habitação. Hoje é palco de passeios individuais ou de grupo, com possibilidade de serem servidas bebidas, petiscos e refeições a bordo. A embarcação é conduzida pelo mestre Pereira, que pertenceu à Marinha durante 36 anos. Nasceu em Grândola, viveu entre Lisboa e Setúbal, mas há 11 anos rendeu-se a Monsaraz. Conta que neste veleiro já assistiu a casamentos, festas de despedida de solteiro e festas privadas de amigos que se juntam para celebrar em grande. A «praia» favorita do mestre Pereira é a da «ilha dourada», que deve o nome à mica misturada na areia. Daqui, entre mergulhos, avistam-se os castelo de Monsaraz e Mourão, cada qual na sua margem. É bonito de se ver.

Tiago Kalisvaart é o dono do veleiro e do restaurante Sem Fim. O antigo lagar de azeite foi comprado pelo pai, era Tiago ainda criança. Lembra-se de ajudar a limpar o espaço, à época velho e a precisar de restauro. Aqui abriram um dos restaurantes mais emblemáticos da zona; o projeto foi evoluindo até se transformar num ponto de paragem obrigatório em Monsaraz. Hoje, integra ainda uma galeria privada onde está exposta a arte do pai de Tiago, Gil Kalisvaart. Pintura, escultura, serigrafia ampliam a criatividade de um lugar que, antes de ser negócio, é um projeto de vida.

OLA: o último grito do céu de Monsaraz

Em Monsaraz, por estes dias, muito se fala do Observatório do Lago de Alqueva (OLA). Trata-se de um parque temático, junto à albufeira do Alqueva, em plena Reserva Dark Sky, e foi inaugurado por três sócios, que sonham alto. Daqui até ao céu. Nelson Nunes, Leonel Godinho e Francisco Moio perceberam o potencial da região para o astroturismo e o turismo ornitológico. Da ideia à concretização – que implicou a construção de edifício e outras infraestruturas – passaram cerca de seis anos entre desenvolvimento de projeto e angariação de financiamento. Hoje em pleno funcionamento, o OLA apresenta uma programação muito dinâmica com propostas como ser «Astrónomo por uma noite» (20 de outubro), ou ser «Astrofotógrafo por uma noite» (27 de outubro); e ainda sessões dedicadas a «Astrónomos de palmo e meio» (21 de outubro). Merecem também destaque as sessões de observação do céu noturno com o auxílio de um conjunto de telescópios de várias aberturas, orientada por uma equipa formada na área da astronomia. Fazem-no com humor e usando uma linguagem que todos – os mais e os menos «astrónomos» – entendem. Brilhante!

Para conhecer a história e tradição oleira da zona, merece visita a Casa do Barro, Centro Interpretativo da Olaria de São Pedro do Corval. Outro elemento tradicional alentejano é o mobiliário pintado à mão.

Olaria e mobiliário alentejano, pintado à mão

São Pedro do Corval, a 10 minutos de Monsaraz, orgulha-se de ser, segundo a autarquia, o maior centro oleiro de Portugal – e um dos maiores da Península Ibérica. A aldeia cresceu em torno do barro e, ainda que a atividade tenha reduzido, há cerca de 21 olarias em funcionamento. Na de Joaquim Lagareiro, por exemplo, o barro já não se amassa à mão, há rodas elétricas e alguma parafernália que veio facilitar a vida dos oleiros como o sr. Joaquim, nesta profissão desde os 13 anos de idade. Numa sala à parte das massas e dos fornos, duas senhoras pintam à mão as peças, uma a uma.

Para conhecer a história e tradição oleira da zona, merece visita a Casa do Barro, Centro Interpretativo da Olaria de São Pedro do Corval. Outro elemento tradicional alentejano é o mobiliário pintado à mão. Também nesta arte, o saber passa de geração em geração, como aconteceu na Somodel onde trabalham avô e neto, José e David Brites, a ornamentar cadeiras de madeira. José, o mentor do negócio em 1972, chegou a vender jornais, entre eles o Diário de Notícias quando este custava 50 centavos (0,25 cêntimos). David aprendeu em duas semanas a técnica para «florir» os móveis e tem vindo a aperfeiçoá-la desde 2008.

 

SÃO LOURENÇO DO BARROCAL

Alem das vinhas, campos cultivados e do gado, havia padaria, oficinas, cavalaricas, carpintaria, escola e casas habitadas pelas 50 familias que faziam vida na herdade de São Lourenco do Barrocal. Funcionava como uma pequena comunidade ate ser nacionalizada, apos o 25 de Abril. A historia deste lugar e longa e feita de sobressaltos, como sao todas as boas historias. Em versao resumida, apraz dizer que aqui se produz bom vinho e bom azeite; o edificado foi recuperado pela mestria do arquiteto Souto de Moura, e os interiores decorados pelo estudio Anahory‑Almeida. A antiga herdade agricola inaugurou, em 2016, uma nova valencia: hotel rural de cinco estrelas. Mas poderiam ser mais. Uma das mais‑valias do São Lourenco Barrocal e o Susanne Kaufmann Spa Barrocal. Em Portugal, os produtos da reconhecida marca austriaca são apenas comercializados na Skinlife (Lisboa) e neste spa de sotaque alentejano, distinguido pela ‘Monocle’ como Melhor Spa de Hotel (2016-2017).

 

FICAR

SÃO LOURENÇO DO BARROCAL
São Lourenço do Barrocal, Monsaraz
Tel.: 266247140.
Web: barrocal.pt
Quarto duplo a partir de 168 euros por noite (inclui pequeno-almoço).

COMPRAR

LOJA DA
MIZETTE
Rua dos Celeiros, Monsaraz
Tel.: 266557159
Web: mizzete.pt
Das 10h00 às 19h00. Não encerra.

CASA TIAL
Rua de Santiago, Monsaraz
Tel.: 266557138

OLARIA JOAQUIM LAGAREIRO
Rua de Monsaraz, 9, São Pedro do Corval.
Tel.: 964029776.
Das 08h30 às 12h30 e das 13h30 às 18h00. Encerra ao domingo.

CENTRO INTERPRETATIVO DA OLARIA DE S. PEDRO DO CORVAL
Rua do Jardim, 32, São Pedro do Corval.
Tel.: 266508040. Das 09h30 às 13h00 e das 14h00 às 17h30. Não encerra.

SOMODEL
Rua Luís Camões, 9, Reguengos de Monsaraz.
Das 09h30 às 13h00 e das 15h30 às 19h00 (loja).
Rua da Junqueira, 5, Reguengos de Monsaraz.
Das 8h00 às 13h00 e das 14h00 às 17h00 (fábrica).
Tel.: 266502459.
Web: somodel.pt

COMER

SEM FIM
Rua das Flores, 6A, Telheiro, Monsaraz
Tel.: 962653711
Web: sem-fim.com
Das 11h00 às 02h00 (bar); das 12h30 às 16h00 e das 19h00 às 22h30 (cozinha). Encerra à quarta, entre 1 de maio e 15 de outubro (resto do ano, abre de sexta a domingo).
Preço médio: 18 euros

VISITAR

OLA
Courela da Coutada, CM 1127, Monsaraz
Tel.: 960361906
Web: olagoalqueva.pt
Sessões de observação noturna de terça a sábado, às 21h30 (sessões às 18h30, a partir de novembro).

 

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