Crítica de Fernando Melo: restaurante A Cave

Há lugares assim, feitos paraísos, que nos prendem a alma e nos levam em viagens impressionantes. Se é verdade que o mar e o peixe que temos é de excelência, não é menos verdade que não são muitos os templos onde os podemos viver com esta intensidade. A Cave, na Gafanha da Encarnação, é um deles.

O prodígio marítimo acontece de tal forma aqui nestas latitudes entre Ílhavo e Aveiro, que somos tentados a tomar o todo pela parte e achar que é assim no país inteiro. A que conhecemos como ria de Aveiro é um dos palcos mais sublimes da pescaria mundial, unindo tradição, diversidade e história com nenhuma outra.

Passamos facilmente pelo restaurante que visitamos sem dar por ele, na primeira vez, depois da primeira é ao contrário, nem queremos saber de mais nada até lá chegar. Sabemos que nos aguardam o talento do chef Carlos Graça, conhecido como Kalú neste lugar da Gafanha da Encarnação, e o coração de Dino Carapelho da Cunha, proprietário que tomou conta da casa em 2016, quarenta anos depois de ser fundada pelo seu pai. Serve-se a tradição ponteada da fundamental modernidade.

Enchem a alma as coisas simples, como sabemos, e são de levitar o berbigão ao limão (6,50 euros), a amêijoa à Bulhão Pato (13,50 euros) e o queijo amanteigado gratinado (5,50 euros), uma derivação particularmente bem conseguida. O bacalhau grelhado (12,50 euros) e o bacalhau com broa (14 euros) são belíssimos anfitriões e para puxar um dos bons vinhos brancos de que dispõe a garrafeira ao fundo da sala para o frapé da nossa mesa não é preciso mais. Bacalhau é assunto sério, aqui. Em dias de ligeireza, ou quando prevemos episódio carnívoro a seguir, é de mandar vir a espetada de lulas com gambas (14 euros), que de comum com a das outras casas só mesmo o nome.

Na sua época – março e abril – sai caldeirada de galeota (25 euros, 2 pessoas), inefável concentrado de sabor e só há aqui nesta região; passou de isco a petisco. A casa produz um arroz de peixe e berbigão (30 euros, 2 pessoas) que pede espera e claro que se espera por ele. E há raia de pitéu/pitau (30 euros, 2 pessoas) maravilhosa para incrustar no código genético. Inevitável e recomendável a caldeirada de enguias (30 euros, 2 pessoas). Há cascaria bem tratada e declinada, preços razoáveis, doses copiosas.

A empreitada das carnes tem várias opções, boas e tentadoras. Os ossinhos de vitela (14,50 euros), miminhos da costela grelhados, são deliciosos, há um bife Wellington (17,50 euros) que é obrigatório conferir e um costeletão maturado de vitela (30 euros/kg) que nos faz perceber o ecletismo e capacidade da cozinha. Sobremesas caseiras primorosas, oferta de luxo de vinhos a preços módicos e uma atmosfera que nos vai sempre fazer voltar. Voltamos, pois então.
A refeição ideal:
Berbigão ao limão (6,50 euros)
Raia de pitéu (30 euros, 2 pessoas)
Espetada de lombinho de porco com gambas (14,50 euros)
Tábua de queijos (10 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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