Café Santa Cruz, em Coimbra: fado, crúzios e um legado centenário

O Café Santa Cruz, na praça 8 de maio. (Fotografia de Maria João Gala/GI)
O Café Santa Cruz, na Baixa de Coimbra, fez 100 anos em maio último, mas o programa de comemorações continua: nos planos estão tertúlias e lançamento de livros. Não faltam histórias para contar, num espaço que começou por ser igreja.

A arquitetura é um dos atrativos do Café Santa Cruz, que leva um século de existência na Baixa de Coimbra, com a sua fachada imponente, os vitrais coloridos, as mesas de tampo hexagonal, todo um ambiente capaz de nos fazer recuar no tempo. O negócio arrancou em 8 de maio de 1923, num edifício já com longa história: foi construído, por volta de 1530, para ser igreja paroquial (a antiga Igreja de S. João de Santa Cruz, parte do Mosteiro de Santa Cruz), e após a dessacralização teve diversos usos. Funcionou como armazém de ferragens e canalizações, esquadra de polícia, casa funerária, quartel de bombeiros e mais.

Hoje, o espaço, localizado na Praça 8 de maio, dedica-se só à cafetaria, mas chegou a servir refeições – a cozinha permaneceu ativa até 1975; data de novembro desse ano o último casamento ali festejado. No interior ou na esplanada, o café pode vir acompanhado por um crúzio, doce de amêndoa com creme de ovo cujo nome remete para a Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho – conhecidos como crúzios, habitavam o Mosteiro de Santa Cruz. A casa recebe ainda eventos culturais, como apresentações de livros ou música ao vivo (há fado todos os dias, às 18 horas, e por vezes repete-se às 22 horas).

O café acolhe sessões de fado diariamente.
(Fotografia de Maria João Gala/GI)

Aquelas e outras informações são partilhadas por Vítor Marques, sócio-gerente do Santa Cruz que é também presidente da Associação dos Cafés com História e impulsionador da Rota dos Cafés com História (ler abaixo). Além de estar inserido nesse projeto, que junta estabelecimentos de Portugal continental e ilhas, o café centenário de Coimbra é membro da Historic Cafes Route, uma rota cultural certificada pelo Conselho da Europa.

Entretanto, o programa comemorativo dos 100 anos do Santa Cruz continua em marcha. Das atividades previstas para 2024 consta o lançamento de dois livros: um deles é uma reedição que inclui fotografias antigas do espaço; o outro é um livro de atas de um encontro sobre cafés históricos ali ocorrido. Nos planos está ainda a realização de tertúlias, aproveitando outras efemérides. A propósito: num ano em que se celebram os 50 anos da Revolução que pôs fim à ditadura do Estado Novo, Vítor adianta uma última curiosidade: no 25 de abril de 1974, o Café Santa Cruz esteve aberto – tem faturas que o atestam. Pretexto para nova viagem no tempo: “Imaginemos como seria estar aqui nesse dia…”.

Vítor Marques.
(Fotografia de Maria João Gala/GI)


Uma rota nacional com 40 paragens

Desde que foi apresentada, há praticamente dez anos, a Rota dos Cafés com História de Portugal passou de 23 membros para os atuais 40, conta Vítor Marques, sócio-gerente do Café Santa Cruz, em Coimbra, e mentor do projeto. Visitar cafés históricos e descobrir as cidades a partir deles (até porque ficam mesmo no centro) é missão que abraça com entusiasmo – e um desafio que lança aos demais.



Café Santa Cruz
Praça 8 de Maio, Coimbra
Tel.: 239 833 617
Das 08h à 24h (domingo, até às 20h). Não encerra.
Preço do crúzio: 1,40 euro/unidade




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