As lendas e a terra para explorar da Serra do Soajo

Neste canto da cadeia montanhosa do Parque Nacional Peneda-Gerês, vestígios de culturas milenares fundem-se com a paisagem natural da serra. Entre os cumes das montanhas e os vales que refrescam no verão, imperam as lagoas, a fauna autóctone e as raízes da tradição rural portuguesa.

«O ritual era feito dentro da anta. Eram colocados em posição fetal e virados para o nascer do sol, porque acreditavam que iriam voltar a nascer», explica Dominico Gomes. É natural do Soajo e desde há cinco anos uma das caras que recebe com simpatia quem entra no Parque Nacional pela Porta do Mezio. Fazer lá uma paragem é um bom ponto de partida para conhecer os segredos deste território, seja através de uma visita ao centro interpretativo ou, metendo pés ao caminho, com um passeio guiado pelos principais trilhos da região.

Basta dar alguns passos além da porta para dar de caras com uma dessas construções primitivas de que fala Dominico, associadas ao ritual fúnebre que há mais de 5 mil anos era realizado pelos povos que habitavam os planaltos da Europa Ocidental, incluindo a Serra do Soajo.

A Anta Grande do Mezio é um dos exemplos mais bem conservados da necrópole megalítica do parque, e foi classificada como Monumento Nacional, em 1910, mas está longe de ser o único vestígio dessas civilizações.

«Quando tapavam a anta ficava uma forma oval saliente no solo», continua Dominico, semelhante ao seio de uma mulher, pelo que ao chegarem à Península Ibérica, os romanos apelidaram-nas de mammulas. São onze as mamoas do núcleo megalítico do Mezio, que se erguem rústicas e quase camufladas no topo da montanha. À sua volta paira um silêncio solene, apenas interrompido pelo cantar dos pássaros ou o som do vento na folhagem dos carvalhos, e quase se torna forçoso acompanhar a quietude do lugar.

Continuando o passeio até à área arqueológica do Gião, encontram-se outros tesouros milenares, como as pinturas e gravuras rupestres. Mas quem não quiser fazer o percurso a pé encontra uma boa alternativa no Centro Hípico do Mezio. Ali, Fábio Rua e Hugo Torres unem o melhor de dois mundos. «Conseguimos complementar a experiência a cavalo com a paisagem natural do parque», destaca Fábio.

Desde janeiro que se dedicam a recuperar o centro hípico – esteve encerrado durante alguns anos -, onde promovem a interação com os cavalos e dão a conhecer os garranos, raça autóctone da região, de porte mais pequeno, e tradicionalmente usada para carga ou trabalho no campo. É que além dos passeios equestres, também há aulas de equitação e sessões de hipoterapia, estas ao encargo de Fábio, não fosse ele fisioterapeuta.

«A interação com o cavalo ajuda imenso a nível social, psico-emocional, e a nível motor também, para corrigir a postura», explica.

Os trilhos duram, no mínimo, uma hora e podem levar até dois dias. Este último tem como destino o Sistelo ou a Sr. da Peneda, e, com alguma sorte talvez o passeio se faça no dorso do Jackie, o garrano do centro. Pelo caminho hão de encontrar-se mais. Andam livres pela serra, assim como as cachenas, que passeiam, vagarosas, pela estrada.

Nas encostas acidentadas do parque há também, ainda que mais difíceis de encontrar, raposas, javalis, gatos-bravos, e até lobos, o símbolo máximo da fauna do Parque Nacional Peneda-Gerês. Já sobre a montanha, o céu é domínio da águia-real, que paira majestosa entre as nuvens.

Casa Videira, um restaurante típico com mais de três décadas.
(Fotografia: Gonçalo Delgado/Global Imagens)

Um dos percursos a cavalo leva a conhecer a vila do Soajo, a sete quilómetros da Porta do Mezio, as suas ruas estreitas, a calçada medieval e as casas em granito. Conhecem-se também as suas gentes, as que ficaram, e que em grande parte ainda se dedicam aos afazeres do campo, ainda que haja exceções. É o caso Joaquim Lage, que desde há dois anos para cá comanda a cozinha da Casa Videira, um restaurante típico com mais de três décadas. «Eu nasci aqui, mas estive 25 anos em França, até que voltei para cá e tomei conta disto», explica Joaquim. A carne de cachena é, sem dúvida, a especialidade mais popular da casa e da região, seja assada no forno ou uma bela posta grelhada, sempre com arroz de feijão tarrestre a acompanhar, ou não se estivesse em terras de Arcos de Valdevez.

Ainda que tradicionais, na confeção e no sabor, os pratos que Joaquim prepara têm algo que os torna distintos. «O que nos difere é que apostamos mais nos legumes como acompanhamento», nota. Em boa verdade, todos os pratos chegam à mesa com uma boa dose de curgete e pimento grelhados, couve salteada em alho, batata a murro e cenoura, numa composição colorida. O polvo à lagareiro e o peixe fresco grelhado também têm lugar na ementa, e no inverno é tempo de rojões e cozido à soajeira, com feijão vermelho, para apreciar ao calor da lareira.

Espigueiros do Soajo.
(Fotografia: Gonçalo Delgado/Global Imagens)

Enquanto é verão aproveita-se a esplanada, e depois de um almoço reforçado vale a caminhada até um dos locais mais emblemáticos da vila. Instalados sobre uma enorme laje granítica com vista para o vale do rio Lima estão 24 espigueiros de pedra, construídos entre os séculos XVIII e XIX.

O lugar era usado como eira comunitária pela população da aldeia, e a par da sua dimensão há outras características que tornam estas construções tão curiosas, como as pedras arredondadas que suportam os espigueiros e impedem os roedores de chegar ao milho, ou a cruz que os coroa, com o fim de proteger e abençoar os cereais. É que apesar de o tempo correr ladeiro, seja há 5 mil ou há 300 anos, as crenças e superstições sempre andaram de mão dada com os costumes e afazeres das gentes desta terra, muitas delas associadas à própria montanha, que em qualquer recanto guarda um segredo.

Ao partir à aventura, não é difícil encontrar muitas das lagoas e cascatas que se escondem nas redondezas, como o Poço Negro, como lhe chamam os locais, uma lagoa rodeada de árvores verdejantes que se espelham na água fresca e límpida do rio Adrão. Um dos muitos tesouros naturais a conhecer na Serra do Soajo e por todo o extenso território do parque nacional, que a pouco e pouco, se deixa descobrir.

Dormir na aldeia
À porta do parque nacional, desde 2009 que Rui Marinho e a esposa se têm dedicado a recuperar as antigas casas da Aldeia Rural de Oucias, quase abandonada desde a década de 1950. «Mantivemos a estrutura original e tentamos recuperar materiais ou só usar materiais nobres, como a madeira, o barro, granito e xisto», explica Rui. Ao todo são 13 casa, com todas as comodidades e mais, já que algumas dispõem de jacúzi, sauna e piscina privada. O complexo inclui ainda um bungalow, quase camuflado na paisagem, feito com cortiça e madeira reciclada, já que a sustentabilidade ambiental é outra das preocupações do casal.

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Morada
GPS: 41.5305, -8.1848
Telefone
258510100
Horário
Das 09h30 às 20h00. Não encerra.

Website

GPS
Latitude : 41.8848904
Longitude : -8.313087699999983
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Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica
Morada
Vilar de Soente, Soajo
Telefone
258109814

Website

GPS
Latitude : 41.8725288
Longitude : -8.298957900000005
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Morada
Avenida 25 de Abril, 1734, Soajo
Telefone
258576205
Horário
Das 12h00 às 15h00 e das 18h30 às 22h00. Encerra terça ao jantar e quarta todo o dia.


GPS
Latitude : 41.873494
Longitude : -8.26533130000007
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Morada
Lugar de Oucias, Carralcova
Telefone
258514317
Custo
(€€) Preço médio: 25 euros
Horário
Das 12h30 às 15h00. Só abre no verão.


GPS
Latitude : 41.904446
Longitude : -8.366304000000014
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Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica
Morada
Lugar de Oucias, Carralcova
Telefone
969804619

Website

GPS
Latitude : 41.904119
Longitude : -8.365370999999982
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Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica

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