Descobrir a história e os encantos da Fortaleza de Valença

Se um dia a Fortaleza de Valença serviu para defender a fronteira e evitar invasões, hoje é um ponto de encontro de pessoas de todo o mundo, que ali chegam pela peregrinação, pelo comércio, pela gastronomia e pela história.

Numa colina na margem esquerda do Rio Minho estendem-se por mais de cinco quilómetros as muralhas da fortaleza de Valença. É grandiosa, sem deixar de ser discreta e, graças à sua monumentalidade e ao comércio do seu interior, atrai milhares de visitantes todos os meses. A maioria deles são espanhóis, o que nos pode levar a pensar numa ironia do destino – é que esta fortificação, que começou a ser construída no século XVII, no contexto das Guerras da Restauração da Independência Portuguesa, destinava-se a posicionar-se como uma ameaça face a eventuais avanços de Espanha por aquela fronteira.

O projeto da sua construção ficou a cargo do engenheiro militar francês Miguel Lescole, contudo foi um seu discípulo, Manuel Pinto Vilalobos, que o pôs em execução, em finais de 1691. Por volta de 1700, a obra estaria praticamente concluída. Hoje, livre das funções de outrora, a fortaleza de Valença é candidata a Património Mundial da UNESCO. E são precisamente os espanhóis que ali vão às compras. Que o diga Álvaro Santos, que ao lado da mulher, gere a loja de têxteis-lar Lenipaula. É precisamente aos visitantes espanhóis que vende mais atoalhados nacionais, e outros produtos como robes e chinelos. Os clientes chegam pela qualidade dos artigos e pela possibilidade de personalização. «É nisso que somos diferentes», afiança Álvaro.

A Lenipaula situa-se na Coroada, uma área a sul da fortaleza, quase sem construções, que se interliga pela Porta do Meio a uma outra área – a Vila -, onde residia grande parte da população e se encontravam os principais equipamentos sociais. Hoje, são poucos aqueles que, à semelhança de Hélder Castelão, responsável pela loja de decoração Da Vinci, nasceram e ainda habitam dentro de muralhas. «Só no largo onde vivia, havia 25 miúdos. Hoje não há nenhum», lamenta. Mas é com carinho que relembra a altura em que não precisava de sair da fortaleza porque estava lá tudo. «Havia farmácia, bombeiros voluntários – eu fui bombeiro aqui dentro -, hospital, que era a maternidade […], Finanças – que ainda cá estão -, tribunal e a primeira delegação da CGD foi aqui.» Sair da muralha era mesmo «só para apanhar o comboio». Até as brincadeiras eram adaptadas ao monumento. Os jogos de futebol disputavam-se nos fossos interiores porque tinham «um espaço grande».

As várias esplanadas dos restaurantes e dos cafés da fortaleza enchem-se de trausentes quando o sol aparece. (Fotografia: Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Até hoje, muita coisa mudou. O edifício do hospital acolhe um lar de idosos e o quartel dos bombeiros voluntários tornou-se o Museu do Bombeiro Manuel Valdés Sobral, onde cerca de quatro mil peças, entre capacetes e instrumentos de combate ao fogo, contam a história deste ofício. Na antiga Moradia Régia encontra-se agora o Núcleo Museológico de Valença, dividido por três salas – a de exposições temporárias, a da Fortificação Medieval com uma maqueta à escala e da sala de Arqueologia. Perto, fica a Casa da Vila, uma acolhedora cafetaria, onde Artur Vidinha e Rita Tiago preparam torradas em pão alentejano e bolos caseiros que acompanham chás, chocolate quente e bebidas de café. As mesas costumam estar sempre ocupadas e é sem surpresa que a língua espanhola enche o espaço. No verão, costuma haver exposições de fotografia e pintura.

No ponto quase oposto da fortaleza, o restaurante Fatum, dentro de uma casamata – uma fortificação fechada -, inserida num baluarte, promove noites de fado todos os sábados. Gonçalo Silva passou pelas cozinhas dos restaurantes Tram e Pimms, ambos no Porto, e regressou à sua cidade porque acredita que «Valença tem um potencial muito grande». O chef confeciona «comida honesta sem grandes segredos» como o pernil de porco confitado, e pratos vegan e vegetarianos, uma raridade em Valença. Mas é o bacalhau um dos pratos mais pedidos, sobretudo por espanhóis.
Se um dia a fortaleza serviu para defender a fronteira e evitar invasões, hoje é um ponto de encontro de pessoas de todo o mundo, que ali chegam pela peregrinação, pelo comércio, pela gastronomia e pela história.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

Leia também:

Ecopista portuguesa foi eleita uma das melhores da Europa
Vila Nova de Cerveira: Uma galeria de arte e de sabores
Neste convento do Norte dorme-se entre obras de arte

 




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend