Vila Nova de Cerveira: uma galeria de arte e de sabores

A edição XIX da Bienal de Arte Internacional de Vila Nova de Cerveira começa dia 15 de julho. Oportunidade para visitar esta vila do Alto Minho que tem muito para oferecer em termos de arte, lazer e boa comida.

No alto do Monte da Encarnação, um elegante e altivo cervo feito em ferro parece observar Vila Nova de Cerveira. Quando, em 1985, esta escultura de José Rodrigues foi inaugurada, Cerveira estava a tornar-se, aos poucos, na ‘vila das artes’. A Bienal Internacional de Arte Contemporânea (BIAC) que se começou a realizar na então pacata vila em 1978, não sem algum escândalo, por iniciativa de Rodrigues e Jaime Isidoro alterou-a definitivamente. Quase 40 anos depois, a vila minhota é um museu de escultura contemporânea ao ar livre. Dezenas de obras de autores portugueses e estrangeiros ocupam ruas, praças e jardins. José Rodrigues, falecido em setembro do ano passado aos 79 anos, deixou uma marca que perdura, incluindo a recuperação do Convento San Payo, onde «ia para recuperar energias e trabalhar», como explica Ágata Rodrigues, filha mais velha do artista, diretora da Fundação José Rodrigues, no Porto, e uma das responsáveis pela Associação Cultural Convento de San Payo, que explora hoje o espaço que é museu e casa de turismo rural.

As oito suites são de uma rusticidade confortável, decorados com algumas obras e antiguidades da família. Os hóspedes podem usufruir de uma cozinha comum, quatro salas de estar e da piscina.

«José Rodrigues tinha um lado muito social. Esta casa sempre foi ponto de encontro de artistas e intelectuais», diz. Quando adquiriu o convento fundado por franciscanos galegos, cuja primeira edificação remonta ao século XIV, este não passava de uma ruína. Foram necessários 30 anos a reerguer, com projeto do arquiteto Viana de Lima. No museu, que ocupa as salas à volta do claustro, encontram-se várias obras do artista – desenhos, esculturas, maquetes, e também uma sala dedicada à correspondência com o poeta Eugénio de Andrade. Isto além de antiguidades que revelam a sua vertente de colecionador. Os jardins da casa, de onde se vê a vila, o rio Minho e a sua famosa Ilha dos Amores, e a Galiza, estão também transformados em museu. Uma das suas famosas «anjas» e esculturas com espelhos que ao mesmo tempo se disfarçam na paisagem e a prolongam, transformam o jardim num espaço onde apetece passear relaxadamente, mas de sentidos abertos.

As oito suites são de uma rusticidade confortável, decorados com algumas obras e antiguidades da família. Os hóspedes podem usufruir de uma cozinha comum, quatro salas de estar e da piscina.

Para ver obras de José Rodrigues e outros artistas não é preciso subir ao Monte San Payo, pois a arte está em todo o lado. Uma das obras mais recentes é um mural de oito metros que homenageia Rodrigues. «Lacunas da Memória», do brasileiro Elton Hipólito, ocupa uma parede do Cineteatro de Vila Nova de Cerveira. Uns metros à frente, mesmo junto ao rio, está o Parque de Lazer do Castelinho. Neste espaço verde bastante completo, atravessado pela ecopista do Minho, há arte e outros motivos de interesse, como o Aquamuseu do Rio Minho, uma parque aquático que reproduz o rio com jatos e repuxos de água e até um mini-golfe.

Em Cerveira, a arte não é só para ver. Também é para levar para casa. Na Galeria e Loja da Bienal é possível tanto comprar merchandising do evento como obras originais e serigrafias de artistas como Ângelo de Sousa, Henrique Silva ou Júlio Pomar.

 

Diversidade de boa comida

Quem for à Bienal, que começa dia 15 de julho e se estende até 16 de setembro, vai encontrar uma vila muito animada por turistas e pelos emigrantes que regressam à terra para passar férias. É um bom momento para aproveitar o que a Cerveira tem de melhor, incluindo a comida. Um dos restaurantes com mais história é a Casa de Lau, com duas décadas. Apesar de o restaurante ser conhecido pela sua vista panorâmica sobre Cerveira é o que sai da sua cozinha que o faz famoso. Júlio Vaz está à frente desta casa rústica, modernizada há nove anos (e cujo nome é uma homenagem ao seu pai Ladislau que teve um restaurante ao lado da câmara). Júlio, que cresceu entre sala e cozinha diz que é uma vida «stressante». Mas isso não o impede de saber receber e ter orgulho no que serve.

A comida farta minhota contrasta com as ‘tapas’ do outro lado do rio.

Nas entradas, aposta em vários tipos de queijo, seja tostas de queijo da serra com presunto ou queijo de cabra com mel. Quanto aos principais, há lampreia e sável na época deles e durante todo o ano há pratos de carne e peixe fresco e também de bacalhau, sendo o bacalhau à Maria José (a sua mulher que lidera a cozinha) um dos que tem mais saída.

A comida farta minhota contrasta com as ‘tapas’ do outro lado do rio. Mas se há uns anos para comer as ditas era necessário passar a fronteira, hoje, Cerveira já tem uma variedade de sítios onde as tapas de influência espanhola e os petiscos portugueses dominam.

Um deles é Colher de Pau, projeto das irmãs Sónia Martins e Iolanda Martins. Nascidas na Holanda, foram para a terra dos pais ainda crianças. Há um ano e meio abriram o espaço. «Gostamos muito de tapas. Aqui já havia muita comida tradicional, faltava isto», esclarecem. Encontraram um espaço onde antes funcionava um tasco e ficaram com ele. Revestiram-no de madeiras claras e um design discreto. Para as mesas chegam pataniscas, lombinhos com pimenta, ovos à purgatório e crocantes de queijo. Para beber, há vinho e cervejas artesanais portuguesas e estrangeiras. O espaço tem duas salas de refeições. Uma delas separa-se por um vidro de uma sala vários divertimentos para crianças. Aqui, os miúdos por brincar enquanto os pais comem. Também está disponível para festas infantis.

Quem também está a aumentar a diversidade gastronómica da vila é o italiano de Milão Alessandro Miracapillo e a portuense Cláudia Bacelos, casal que abriu um restaurante italiano no centro de Cerveira. Quando há três anos se mudaram para a vila, por questões familiares, quiseram apostar na comida italiana tradicional. Alessandro tinha já vários anos de formação na área e aqui queria mostrar que a cozinha italiana não são só pizas e massas. La Scarpetta nasceu dessa vontade. «A ideia era ter uma restaurante elegante, com pães diferentes para acompanhar pratos específicos», explicando que «fare la scarpetta» é, em Itália, aquele ato no final da refeição de pegar no pão para ‘limpar o prato’. Apesar de ter as pizas e massas, tem pratos regionais italianos elaborados com técnicas modernas. O espaço tem uma cozinha para workshops, que decorrem na época baixa, até porque o objetivo é educar gostos. E se uma vila mudou pela arte também pode mudar pelo estômago.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.
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