Crítica: restaurante Venda da Donna Maria, no Funchal

Quase ao lado do Mercado dos Lavradores, metemos por uma das pequenas ruas para dar com o Venda de Donna Maria de Rui Lopes e abrir devagar um extenso livro de memórias culinárias, de ontem e de hoje.

Em pleno centro histórico do Funchal, onde tudo nos recorda que somos viajantes espácio-temporais de passagem pelo paraíso que é a ilha a que queremos sempre voltar, há o que há nos outros paraísos. Vozes e gestos vigorosos que à hora da refeição nos convocam para as suas mesas, música tocada na rua e pequenas lojas que oferecem o que queremos muito acreditar existir só ali. Ainda não foi desta que consegui comprar uma frigideira de lapas, diferente das outras por ter pequenas covas para as albergar e uma pega quase vertical para facilitar o manuseamento sem queimar, mas vagueei, como sempre, por ali em toada tranquila.

Aqui e ali, mostruários de peixe com os respectivos oficiantes a indicar e explicar a quem passa. A Venda da Donna Maria, que outrora há de ter sido isso mesmo, daqueles locais onde se tomava um copo rápido e comprava tudo o que fazia falta, fica nessa fiada de portas. O proprietário Rui Lopes fez há três anos um MBO (management buyout) e comprou a casa de que era gestor. Juntamente com o filho Marco, acrescentou em sofisticação e diversidade, pratos para todos os gostos e dietas, secção à parte só para grelhados, cuidado invulgar com o conforto e sossego dos clientes. Não é, do pequeno casbá onde estamos, o mais povoado, mas vai-se ficando.

A toada petisqueira apetece, há atum de escabeche (7 euros), polvo de cebolada (11 euros), iscas à Madeira (6 euros) e lapas grelhadas (7,50 euros), estas servidas naquelas frigideiras que não cheguei a encontrar, e outras graças, a mais engraçada sendo a fruta regional da época com camarão (10 euros), promoção imediata de uma das riquezas da ilha. Cinco sopas todas de truz e cunho, inevitável a sopa de peixe à pesquito (4 euros), inefável a sopa de tomate e cebola com ovo (4 euros), maravilhosa a açorda regional do Poiso (4 euros), que mesmo os «locais» gostam de conferir. O peixe-espada e o atum são vezeiros e que bem saem da cozinha desta venda, declinados como filete de espada com banana e maracujá (12 euros) e bife de atum à madeirense com molho «vilhão» (12 euros). Ainda assim chama mais por mim o filete de espada de vinho e alhos (12 euros), nem sempre o tropical apetece. A extravagância de dois acompanhamentos de milho, maçarocas com manteiga (3,50 euros) e milho frito (4 euros) é de meter requerimento para passar a iguarias nacionais obrigatórias, pena é que não se encontre facilmente e bem feitas como aqui.

Nas carnes perdemo-nos gulosos nos bifes de fígado à Madeira (13 euros), no peito de frango à Curral das Freiras (12 euros), que é enriquecido com castanhas e no exótico cardápio da brasa, seja na espetada regional (15 euros), costeletas de borrego com alecrim (15 euros) ou misto de carne na telha (26 euros, duas pessoas). Rendido a este lugar, saio madeirense, com muito gosto.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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