Crítica de restaurante: Chalet Vicente, Funchal

Faz parte da exploração pedestre essencial do Funchal a Avenida Monumental, onde marcam presença muitos dos melhores hotéis, debruçados sobre o Atlântico. Encontrar o restaurante Chalet Vicente, lugar especial onde vinho e gastronomia têm encontro feliz, abrilhanta – e muito – o percurso.

Foi no Cipriani, restaurante de invulgar beleza, cozinha de inspiração italiana feito balaustrada adjacente ao hotel Reid’s, que conheci Nélio Ferreira, então na função de escanção. Além de ficar fã, nunca mais o perdi de vista e confesso aqui pela primeira vez que tive pena de nunca o ter conseguido distinguir como escanção do ano. Deveu-se apenas ao facto de ser praticamente desconhecido no continente na altura, o que, diga-se, se tinha resolvido com um par de viagens. O mérito, esse nunca o mereceu menos, os vários anos que entretanto passaram só lhe confirmam a autoridade e o jeito que era fácil pressentir.

Chegou o momento da mudança e já no cargo de diretor do restaurante onde de forma impecável oficiou tomou a decisão de, em sociedade com Brito Figueira e Alexandre Costa, tomar conta do Chalet Vicente, quase em frente. Levou consigo o arsenal de sabedoria e as excelentes relações com o mundo do vinho e da restauração, tornando-se rapidamente o ponto focal dos enogastrónomos locais e de passagem.

Brilha na cozinha José Manuel Perestrelo Reis, conhecido entre os pares apenas pelos apelidos, e tudo é intencional na ementa, todos os pratos são amigos do vinho. Nélio Ferreira e o chef são unha com carne e confesso que mesmo sem a harmonização vínica suspiro por alguns deles. Nas entradas, as iscas com madeira boal (6,80 euros) configuram fantasia gulosa, os mexilhões gratinados à chalet (9,70 euros) e a perninha de rã panada e seu molho branco (12,50 euros) são de pedir e suplicar. A sopa de peixe no pão (6,90 euros) é rica, copiosa nos sabores e nos aromas que nos dispensa, e faz-se aqui o bem madeirense caldo da romaria (5,80 euros), uma espécie de sopa de cozido produzida a partir da cozedura de carnes.

Nunca encontrei prato sequer parecido com os brilhantes lombinhos de atum com molho vilão (11,40 euros), há o inevitável peixe-espada com maracujá e banana (11,30 euros), de conferência obrigatória, aqui em declinação delicada e sofisticada, assim como filetes de polvo grelhado com ervas (14,30 euros), cuja memória faz salivar mesmo os mais insensíveis. Carnes de seleção cuidada a fazer-nos perder, começando logo na espetada regional (11,20 euros), avançando para as costeletas de borrego no carvão (12,20 euros) e tendo o pináculo – digo eu – na almofada de vaca com flor (11,40 euros). Depois, os quintessenciais especiais do chalet, guloso o leitão assado à pastor (14 euros), viciante o arroz de feijão na panela com nacos de novilho, matricial o arroz de pato à antiga (10,90 euros).

Pela localização tão especial e turística podia julgar tratar-se de local evitado pelos funchalenses, mas nada disso, são eles os principais clientes e promotores desta casa única. Só falta um heliporto no telhado para numa fome no degredo continental poder ir muitas vezes almoçar ou jantar. Eu ia.

Classificação
O espaço: 4,5
O serviço: 4
A comida: 4,5

A refeição ideal
Peixinhos da horta com maionese (6,90 euros)
Mexilhões gratinados à chalet (9,70 euros)
Lombinhos de atum com molho vilão (11,40 euros)
Arroz de feijão na panela com nacos de novilho (13,90 euros)
Tiramisù da casa (4,95 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

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