Robicquet: «A uva é história, é religião e emoção»

Há mais de dez anos, Jean-Sébastien Robicquet elevou a fasquia ao fazer vodka a partir de uvas e, mais tarde, repetiu a provocação com o gin de aguardente vínica e flor de videira. Nascia o G'Vine.

Como é que um mestre destilador usa um alambique de perfumaria para fazer gin?
Se pensarmos fora da caixa, cada ingrediente dos botânicos que integram um gin pode ser tratado como um perfume. No nosso caso, a flor de videira é a grande assinatura da marca e queríamos manter o seu aroma. Por isso, fomos buscar a Grasse (região francesa onde são produzidos perfumes) os alambiques florentinos, usados pelos mestres perfumeiros.

Porquê um gin feito a partir de uvas?
Sempre pensei na uva como um alimento instrumental para a civilização. Basta olhar para os últimos 2000 anos: a uva é história, é religião e emoção. Desperta sentimentos e não defrauda a definição base de uma bebida espirituosa, que é ser produzida a partir de uma origem agrícola. No entanto, fazer gin a partir de uva custa quatro vezes mais do que fazê-lo com grão.

No início não havia receita. Quão difícil foi encontrar o balanço certo deste gin?
Logo no primeiro ano, desperdicei a flor de videira, que só floresce uma vez por ano, num período curto de 15 dias. Esperei outro ano por ela para fazer o gin. Mas eu já tinha produzido vodka a partir de uvas e a história da minha família estava ligada ao vinho. A minha atitude francesa de ser um pouco provocador levou-me a acreditar que podia fazer gin não tradicional. Em 1495, já um holandês tinha publicado uma receita de gin, em que sugeria que a este fosse acrescentado vinho destilado.

Quando criou a G’vine, o gin aguardava ainda o salto para a ribalta. O que mudou nesta década?
Testemunhámos a quantidade de novas marcas. Está a acontecer com as espirituosas o mesmo que aconteceu com o vinho há 30 anos. As pessoas bebiam vinho de má qualidade, até que o consumo desceu e a qualidade aumentou. A beleza da tendência é que eleva a fasquia. Mas quando a guerra do gin terminar, ainda haverá G’Vine.

Guerra?
Considero quase como uma guerra quando temos dezenas de gins a entrar no mercado. Temos de beber com responsabilidade e não se pode fazê-lo provando 10 gins numa noite. A guerra é pela atenção do consumidor. Mas acredito que este sabor é único e a imagem também.

O que é G’Vine?
É um gin suave, elegante e floral no nariz, por ser feito a partir de aguardente vínica e ter como botânico a verde flor de videira. É fácil de beber. Em jeito de brincadeira, costumo perguntar às pessoas se preferem mastigar grão ou uvas.

O GIN À LUPA
Em 2006 surgia a marca de gin premium, fundada pela Maison Villevert de Jean-Sébastien, em França. O gin contém dez botânicos no total, incluindo zimbro, cardamomo, gengibre e, claro, flor de videira. Em Portugal, pode ser encontrado em garrafeiras e espaços selecionados, a partir de 34,90 euros.




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