Estes vinhos têm a arte de se tranformar em si próprios

Tapada de Chaves (Frangoneiro), Torre de Palma (Monforte) e Herdade do Rocim (Vila de Frades): três lugares clássicos que bebem das mais ancestrais tradições e que por mãos sábias conhecem vidas inteiramente novas.

Há muito de humano e épico nos relatos convictos do filósofo Nietzsche quando se refere ao profeta Zaratustra. É humano reconhecer a derrota em relação ao tempo e à ruína que ele inexoravelmente instala, assim como é épico o esforço que a espécie humana aceita a que o profeta chamava tripla metamorfose, a última das quais para se transformar em criança. Essa capacidade inata do homem de se regenerar e tudo renovar é a essência da nossa relação com o património.

O Velho Mundo em geral e Portugal em particular vai para além do culto do vinho, a génese e o futuro estão na vinha, nos encepamentos e no trabalho de regeneração. Para o filósofo citado, é imperativa a transformação em si próprio e foi esse impulso que em boa hora tiveram Pedro Baptista, da Fundação Eugénio de Almeida, Paulo Barradas Rebelo, da Herdade Torre de Palma e Catarina Vieira, da Herdade do Rocim.

Os primeiros compraram a célebre Tapada do Chaves com o fito de a fazer voltar a brilhar, alavancados no imenso valor da vinha velha que ainda resta e nas castas historicamente melhores naquele terroir de base granítica, de há mais de um século. Paulo Baptista e a sua brilhante equipa produziram já três vinhos novos que visam a tempo renovar totalmente a oferta. Amantes e cultores do belo, Ana Isabel e Paulo Rebelo ficaram cativos do local que um dia visitaram, a ponto de lhe dedicar uma força especial.

Foram recompensados pelos céus, pelo hotel sofisticado que fizeram e pela ousadia de fazer valer e lutar pelo património que não param de descobrir em mais e mais matizes. Tudo acontece de forma orgânica e sustentada, e os vinhos aí estão, disponíveis não se fizeram esperar. A dinâmica está criada, aguardamos os próximos movimentos com expetativa. Para já, a grande transformação do casal está consumada, com a ligação à terra e ao turismo. Ligada à terra sempre esteve Catarina Vieira, da Herdade do Rocim. Estudou enologia e teve desde nova o impulso da vinha e do vinho.

A família do lado do pai – Catarina lembra-se bem do avô, da adega nas Cortes, Leiria – tinha ligações antigas ao vinho, pelo que o prematuramente desaparecido José Ribeiro Vieira seguiu com entusiasmo o entusiasmo da filha enóloga. Ana, a outra filha está mais ligada ao projeto da Arquivo, a um tempo livraria e dínamo cultural da região. Foi de resto a literacia que fez com que desde 2001, ano em que a Herdade do Rocim começou a fazer vinho, o vinho de talha fosse prioridade máxima.

Catarina casou com Pedro Ribeiro, também ele enólogo e deixou os projetos que tinha em mãos para se dedicar de corpo e alma ao Rocim. Três casos bem diferentes uns dos outros estes que aqui alinhámos, com o denominador comum do património transformado em amor e entrega.

 

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