Crítica de vinhos de Fernando Melo: Quando a única certeza é a surpresa

Os tempos que vivemos são os mais excitantes de sempre para os enófilos. Estilos inovadores, repescagens de castas de outrora e enologia de gabarito são alguns dos fenómenos que definem a cena actual. Felizmente, procura-se elegância e equilíbrio e é só abrir as portas ao inteiramente novo.

Longe vão os tempos dos vinhos duros marcados por amargos impenetráveis que forçavam mesmo o mais afoito a uma grande careta, para logo a seguir classificar como grande vinho o que a custo tinha acabado de engolir. A enologia tem doutos e capazes especialistas que tornam tudo mais simples e claro. De tal forma que ao fim de algumas experiências chamamos a nós os da nossa predileção. Ao mesmo tempo, são muitos já os especialistas de outros países e escolas de pensamento que estão entre nós perfeitamente integrados em equipas tradicionalmente portuguesas. Portugal está na moda e não podemos passar ao lado da corrente, até porque fazemos parte dela. Na seleção que fizemos para si optámos pela surpresa como charneira de mudança. Sair da zona de conforto vale mesmo a pena e o custo nalguns casos é bem apetecível. Boas provas!

Poças Fora da Série French Connection Douro tinto 2018 (14%)
Manoel D. Poças Júnior
Produzido a partir de uma parcela de vinhas velhas da Quinta de Santa Bárbara. Este vinho nasce do diálogo da equipa de enologia da Poças e da consultoria do reputado enólogo francês Hubert de Boüard. Estágio de 20 meses em barrica nova de carvalho Francês de 300 litros. Taninos finos, frescura a toda a prova. Incrível elegância, a partir das castas tradicionais do Douro Preço: 35 euros

Classificação: 19/20

Espargal de D. Luís Castelão Tejo tinto 2021 (14%)
Casa Agr. Rebelo Lopes
Vinho Homenagem da actual proprietária a seu pai, Luís Saldanha Oliveira e Sousa. Provém de um microterroir estreme de Castelão, tem uma cor granada aberto e o património olfactivo evoca o ambiente aromático de um tinto da Borgonha sinfonia clássica do maestro e enólogo Filipe Sevinate Pinto. Cereja madura, grupo de amargos mineral na boca e muito prazer a beber. Preço: 12 euros

Classificação: 18/20

Pessegueiro Reserva Douro tinto 2021 (13%)
Quinta do Pessegueiro
Chega de Ervedosa do Douro esta boa surpresa, declinação enológica do paradigma da frescura e taninos finos de que tanto se fala e que afinal se vê tão pouco. Produzido a partir das castas Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta da Barca, tem o equilíbrio dos grandes vinhos e dá uma prova como poucos no Douro. Entra muito ligeiro e termina longo, em viagem vagarosa. Preço: 17,5 euros

Classificação: 18,5/20

Bojador Vinho de Talha Alentejo branco 2022 (12%)
Espaço Rural
É exemplar este vinho de talha, por várias razões, a começar por renunciar ao standard costumeiro da sobrecarga de notas terrosas. Em segundo lugar apresenta-se vibrante e fresco. E finalmente, revela a muita sabedoria de outrora, que Pedro Ribeiro (Rocim) tem perseguido. Perrum (40%), Roupeiro (30%), Rabo de Ovelha (20%) e Manteúdo (10%). Preço: 40 euros

Classificação: 18,5/20

Lugar do Gato Dão tinto 2022 (13,5%)
Maria Celeste Fonseca
O enólogo António Pina conhece bem a região de Dão/Lafões e é dos obreiros da sua afirmação no seio do Dão. Este tinto impressiona pela personalidade e pela abordagem pouco interventiva, permitindo que seja o terroir a manifestar-se. Numa espécie de field blend, as castas Touriga Nacional, Jaen, Alfrocheiro e Tinta Roriz criam um vinho diferente, alicerçado na tradição. Preço: 15 euros

Classificação: 17/20

 


Herdade Grande Roupeiro Vinhas Velhas Alentejo branco 2022 (13%)
António Lança
Fermentação de 50% do lote em barricas de 400L de carvalho francês, com bâtonnage de 7 meses nas borras finas. Foram produzidas apenas 500 garrafas e é grande a expressividade da casta na propriedade. Aqui mostra-se com grande nobreza. Fruta branca de caroço e malmequeres. Comprimento notável na boca. Trabalho genial. Preço: 23,50

Classificação: 17,5/20

Quinta Nova NS Carmo Reserva Blanc de Noir Douro branco 2022 (13,5%)
Quinta Nova
Surpresa absoluta este branco de Tinta Roriz com que a dupla Ana Mota e Jorge Alves nos agracia. Estágio de seis meses em barrica de carvalho francês. Nacarado ligeiro na cor, aroma fino de groselhas e esteva, boca copiosa e fresca, assente numa acidez trabalhada à maneira do ourives e a dar impressões de fruta de caroço. Preço: 18 euros

Classificação: 18/20


Mamoré de Borba Touriga Nacional tinto 2019 (13%)
Sovibor
De Borba surgem vinhos muito especiais, da lavra da grande revelação enológica que é Rita Tavares, e a casa tem-nos habituado a vinhos de talha de alto nível. Este vinho conheceu há pouco tempo a luz do dia e impressiona pelo capital patrimonial que representa. Cítrico, floral e muito fino, marca-o a definição e tensão e a surpresa é garantida. Tudo inesperado. Ainda bem. Preço: 16 euros

Classificação: 17,5/20

Adega 23 Rufete Beira Interior tinto 2021 (13%)
Adega 23
Este vinho estreme de Rufete exprime vastamente o terroir altaneiro e mineral de toda a Beira Interior. A casta dá-se particularmente bem nos declives e rigores que vão de Castelo Branco a Pinhel e está perfeitamente adaptada ao clima. Caruma verde, frutos do bosque e alcaçuz tornam o vinho apetecível, e a boca pouco extraída e de acidez pronunciada chegam-no à mesa tradicional Preço: 14.50 euros

Classificação: 17,5/20


São Luiz Winemaker’s Collection Rufete Douro tinto 2021 (13,5%)
Sogevinus
O desafio da casta Rufete no Douro é patrimonial e até mesmo estruturante, pois tem história nos primórdios de todo o vale vinhateiro, especialmente quando se encontra com o Dão. É interessante constatar que está presente o que é identitário da casta e aconselhamos a prova comparada com o vinho anterior nesta seleção. Preço: 60 euros (pack de Rufete branco, rosé e tinto)

Classificação: 17/20




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