A diretora do Museu da Água, Mariana Castro Henriques, pára a meio do túnel e sinaliza com a voz: “É aqui que começa o novo troço visitável do Aqueduto das Águas Livres, desde a arcaria do vale de Alcântara até ao Reservatório da Mãe de Água das Amoreiras. “Sempre quisemos abrir o percurso todo; até hoje só dava para visitar o aqueduto parceladamente”. Desativada há 50 anos, a infraestrutura em cantaria e alvenaria de calcário, encomendada por D. João V e financiada pelo real d’água (imposto sobre vinho, azeite e carne), ainda faz mover os lisboetas.
É a caminhar que se descobre o fio que a água seguiu entre a Quinta das Águas Livres, em Sintra, e os chafarizes, conventos, hospitais, fábricas e casas nobres da cidade. Do Museu da Água, em Campolide, o troço passa pelo reservatório das Amoreiras, segue por Campo de Ourique até ao Arco Triunfal, nas Amoreiras, e chega ao Reservatório da Mãe de Água, de cujo terraço se avista Lisboa. É, porém, a partir da descida às catacumbas da Casa do Registo – a medição dos caudais de água – que se inicia “o mais misterioso” percurso, a Galeria do Loreto.
Quem o diz é Bárbara Bruno, diretora do serviço educativo, acendendo a lanterna led presa na cabeça, fornecida aos visitantes para iluminar o túnel escuro, húmido e exíguo. A primeira das cinco galerias do aqueduto conduzia a água até ao Largo de São Carlos, no Chiado, em 2835 metros. Desses, anda-se em pouco mais de metade, podendo sentir-se a trepidação do elétrico no Largo do Rato, a três metros do solo. Daí continua-se pela Rua da Escola Politécnica e pelo Príncipe Real, até chegar a São Pedro de Alcântara. Ilustrações ajudam as pessoas a situar-se.
Mas, afinal, como chegava a água a Lisboa? Através da gravidade e dos vasos comunicantes, uma notável engenharia hidráulica construída entre 1731 e 1799 e que deu água pela primeira vez em 1746. Este enquadramento histórico é dado pelos painéis no jardim do museu da EPAL, onde iniciam as visitas orientadas ao aqueduto, com 14 arcos sobre o vale de Alcântara. Antes usados como ponte, os corredores de manutenção testemunharam os crimes de Diogo Alves, que atirava pessoas do topo do arco de 65 metros depois de as assaltar, durante o século XIX.
Aqueduto das Águas Livres
Calçada da Quintinha, 6 (Campolide)
Tel.: 218 100 215
Web: epal.pt
Aberto de terça a domingo, das 10h às 17h30.
Visitas livres, a partir de 2 euros/pessoa. Visitas guiadas, a partir de 6 euros/pessoa.