Ourense: Conhecer a cidade para além das termas

Conhecida como a cidade galega do termalismo, onde mesmo no centro se pode aproveitar os mananciais de água quente, Ourense é, de facto, boa para relaxar, mas não apenas para ir a banhos. É urbe com vida - diurna e noturna -, onde comer e beber bem é quase uma questão de orgulho. Fica ali, na vizinha Galiza, a cerca de 2h30 de viagem para quem parte do Porto.

Não é, certamente, tão turística como Santiago de Compostela. Não é destino de peregrinos, apesar de ter uma das mais belas catedrais românicas da Galiza e de toda a Espanha, nem tem as praias e as afamadas ilhas de Vigo. As termas são um chamariz mas não esgotam a cidade, que deve ser descoberta em passeios descontraídos, e, de preferência, seguindo os passos dos habitantes pelos seus locais de eleição.

E é no pedonal centro histórico que os aurienses se juntam para ‘tapear’ quando a noite cai. Passando junto à Catedral, vozes altas e muito movimento chamam a atenção para a Casa do Pulpo. A especialidade é, claro, o polvo, uma tradição galega que faz eco da tradição pesqueira desta região autónoma. Embora afastada do mar, Ourense não deixa de ter sítios exímios em servir o petisco, nas suas várias versões. Aberta em 1955, e há 15 anos nas mãos de José Gomes Lopes, esta é a pulperia mais antiga de Ourense.

Há três anos, passou por um susto, quando um incêndio deflagrou na cozinha. Na altura, fecharam, mas aproveitaram para abrir a Casita do Pulpo, na Rua Viriato. Agora são, então, duas as casas em que se pode comer o famoso polvo à feira (com pimentão) e o polvo grelhado, servido com batata cozinha e pão estaladiço. Isto além de outros produtos do mar, como mexilhões ou navalhas. O polvo, garante José, é da costa da Galiza, mais pequeno e escasso do que o importado da Mauritânia e de Marrocos; o sabor apurado e a textura macia compensa o preço mais alto.

Polvo à Galega
(Fotografia: Pedro Granadeiro/GI)

Nos vinhos, dá-se prioridade às regiões de denominação de origem da província de Ourense, que produzem brancos aromáticos : Monterrei, Ribeiro, Ribeira Sacra e Valdeorras. Nestes anos em que está à frente do negócio, José vê Ourense a mudar e a crescer no seu potencial turístico. Além da proximidade com Portugal, «é a porta de entrada da Galiza de quem vem de Madrid», explica.

Quem também apostou nesta zona de ‘comes e bebes’ de Ourense foi a cerveja Áncora. Tal como acontece em Portugal, a Galiza tem cada vez mais produtores de artesanais. Há seis anos, os dois amigos de infância Esteban Loureiro e Martín Labrador decidiram deixar de fazer da cerveja uma brincadeira para se dedicaram à produção a sério.

Nasceu, então, a microcervejeira Áncora Bros. Brewery, com fábrica nos arrabaldes de Ourense e bar – Cervexaria Áncora – no coração da cidade, este aberto há um ano. A pintura de um marinheiro com um cachimbo na boca e uma barba feita de lúpulo ocupa uma das paredes do bar, onde o universo náutico se destaca, a condizer com o nome. Mais marinheiros, piratas e sereias decoram as paredes das salas.

Estebán, atrás do balcão – onde se servem as 10 cervejas disponíveis à pressão, não apenas da Áncora, mas também de outras marcas galegas e internacionais – diz que «viver da cerveja» não é fácil. Em Ourense, a bebida ainda «tem mais saída no verão». E para preparar a época alta, a dupla está a elaborar uma série de novas cervejas.

Música ao vivo

Não fica na zona histórica pedonal, mas o projeto dos irmãos David e Isaac Pedrouzo está a fazer história, principalmente para quem gosta de música. Abriram há 15 anos aquilo que era um «café de bairro» e que se tornou num dos mais importantes bares de música ao vivo de Ourense, o Café & Pop Torgal. «Estivemos um ano a trabalhar para reformular o espaço», contam os irmãos. O que os levou a abrir um bar foi estarem «entediados», dizem. «Não havia em Ourense um sítio onde se pudesse ver músicos ao vivo, principalmente de que gostássemos».

Começaram, então, a programar artistas da cidade e o sucesso não demorou a chegar. De há oito anos para cá, integram o circuito Son Galicia (projeto da marca de cervejas Estrella Galicia), que promove concertos de música indie e alternativa, nacional e internacional, do qual fazem parte uma série de locais de toda a Espanha e alguns do Reino Unido e Brasil. Mas não é só de concertos que o bar vive. Durante a manhã, servem-se pequenos almoços, pois os irmãos nunca quiseram que se perdesse a identidade de «café de bairro».

E porque não é só de noite que se vive em Ourense, os dias que começaram já a ficar mais quentes (Ourense é conhecida pelos seus verões cálidos), podem ser aproveitados para passeios pelo património num centro histórico bem conservado. Além da Catedral que remonta ao século XII, vale a pena visitar o Centro Cultural Marcos Valcárcel, instalado num edifício de finais do século XIX.

Vocacionado tanto para formação como para divulgação artística e cultural, o centro tem sempre exposições nas suas galerias. A história aqui também é importante, como prova a mostra «In Tempore Sueborum», sobre o reino suevo na Gallaecia, o primeiro reino medieval do ocidente (que pode ser visitada até 6 de maio). Boa oportunidade para se conhecer melhor a história da Galiza, que, neste caso é também a história de Portugal. Duas terras vizinhas, com muito em comum.

 

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