Percorrer os trilhos de Ponte de Lima sobre rodas

Se o património cultural do centro histórico da vila encanta, o património natural, fora dela, arrebata. De bicicleta, percorra-se as ecovias e trilhos assinalados, passando por piscinas naturais, florestas e aldeias. No final do percurso, com ar puro nos pulmões, faça-se um desvio à casa de partida – a infância – visitando o Museu do Brinquedo Português.

Ponte de Lima é das mais antigas vilas portuguesas, o que lhe tem servido como principal cartão de visita. A ponte romana e medieval embeleza o tradicional postal limiano, assim como a gastronomia, a arquitetura, a simpatia das gentes.

Há, no entanto, outro facto que merece relevância: o seu contexto natural e a possibilidade de o explorar a cavalo, a pé e de bicicleta. A noção de que o contacto com a natureza e a ligação à terra faz bem e é um factor humanizante está a ganhar terreno, pelo que as atividades na natureza conquistam cada vez mais adeptos de várias idades.

Duarte Coelho tem 22 anos e a certeza de que apostou na vila certa. No centro histórico, decidiu abrir uma loja de bicicletas – InMountain – para dar a conhecer o município sobre rodas. Oferece uma série de serviços que passam pelo aluguer de bicicletas, por visitas guiadas de bicicleta, ou desporto de aventura, como BTT ou downhill. Em dois anos de existência o negócio cresceu e, com ele, também a necessidade de aumentar a frota de duas rodas tão requisitada por visitantes do centro e norte da Europa.

Ponte de Lima é rodeada por montanhas, atravessada pelo Lima e visitada por outros cursos de água menores. Tem muito a oferecer aos apaixonados por BTT, downhill, cross country, enduro – é ver as propostas da Pé do Negro Mountain Bike ou da Bike Park Ponte de Lima – mas também a quem procura atividades com menos adrenalina.

(Fotografia: Rui Fonseca/GI)

Para que a experiência do passeio seja confortável e acessível a todos, a autarquia criou vários trilhos, percursos pedestres e ecovias onde, sobretudo aos fins de semana, os limianos passeiam. Têm vários graus de dificuldade, até porque a ideia é que todos possam tirar partido sem que seja exigida grande forma física.

Este ano, a autarquia lançou a App Percursos Pedestres – Ponte de Lima, para divulgar, entre outros percursos, as quatro ecovias, informando sobre a duração, a dificuldade e os pontos de interesse de cada uma delas. Dão pelo nome de Lagoas, Açudes, Laranjas e Veigas, a mais longa tem cerca de 11 quilómetros, e todas partem do centro de Ponte de Lima.

O importante é ir e atalhar por aldeias e campos, estar lado-a-lado com cursos de água cristalina, refrescar o corpo em piscinas naturais, admirar as serras que abraçam o vale do Lima… O importante é pôr os pés ao caminho e conhecer Ponte de Lima por dentro, que é, afinal, onde está a virtude.

Ecovia das Lagoas e outros caminhos a percorrer

A ecovia das Lagoas é também conhecida como Loureiro. Atravessando a ponte que une as duas margens há 2 mil anos, inicia-se a aventura sobre duas rodas: é só seguir as indicações. O caminho não tem desníveis acentuados, passa pelo Clube Náutico e pelas instalações do Festival Internacional de Jardins, abertas ao público de maio a outubro, e segue tranquilo, entre as águas do Lima e os pequenos lotes de cultivo: quem encostar a bicicleta e semear conversa com quem cuida da terra, terá uma aula de ‘introdução à agricultura local’.

À frente, rapidamente se percebe porque este caminho dá também pelo nome de Loureiro. As vinhas desta casta autóctone animam a paisagem, que contempla ainda um pequeno cais e uma mata que se estende, à frente, na margem do rio. É o lugar ideal para parar, respirar e contemplar antes de se retomar a rota que apresenta, do outro lado da estrada, um dos monumentos mais emblemáticos do Norte do País. Trata-se do Solar de Bertiandos (do séc. XV com acrescentos nos seguintes), exemplar do rural barroco nortenho, classificado como imóvel de interesse público desde 1977.

(Fotografia: Rui Fonseca/GI)

O ponto alto da ecovia das Lagoas é a Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arcos. Na verdade, esta ecovia continua até ao ribeiro da Silveira e, a partir daí, entra em terras do município vizinho de Viana do Castelo. Entre a possibilidade de continuar e a de ficar para descobrir a Paisagem Protegida, venceu a curiosidade em percorrer uma ínfima parte dos seus 346 hectares. Com o rio Lima a sul e as Serras de Arga e Cabração, a norte, esta zona convida a passeios junto ao rio Estorãos, mas também pelos bosquetes de folhosas e pelas veigas, terrenos húmidos e férteis que se enchem de milho por altura da primavera e do verão.

Como quem não sabe é como quem não vê, a visita deve começar no Centro de Interpretação Ambiental, onde se encontra informação sobre a fauna e flora da Paisagem Protegida e também sobre a rede de cinco percursos e as três rotas histórico-culturais. Há que encostar a bicicleta e percorrer, a pé, os passadiços de madeira, parar nos postos de observação, ou mesmo aventurar-se pelo percurso mais longo – o da Água (V) – de 6 horas. Caso não haja tempo, ou pernas!, para percorrer os cerca de 12,5 quilómetros, é ir direto para a Azenha de rio Estorãos e mergulhar nas águas limpas e frescas deste afluente do Lima.

Descansar e aprender, a brincar, a brincar…

Da Paisagem Protegida pode sempre fazer-se o caminho inverso em direção à casa de partida. Mas não se atravesse a ponte, fique-se no lado B da vila de Ponte de Lima. Pode dizer-se que a vila tem dois lados como um disco de vinil. No lado A, desenvolveram-se os serviços, é maior a oferta de restaurantes e alojamentos turísticos e acontecem as principais festas da vila. No B, a uma breve caminhada do rebuliço, descobre-se uma vista fabulosa para o lado A e uns quantos recantos que vale a pena visitar.

Em Arcozelo, estende-se o Largo da Alegria onde estão, entre outros, dois edifícios antigos, entretanto recuperados pelo arquiteto Carvalho de Araújo que harmonizou betão armado e madeira, traça antiga e referências atuais. Ambos os edifícios fazem parte do Arc my Otel, que, apesar de ter a designação de alojamento local, oferece os serviços e comodidades de hotel. É gerido pelo casal Paula e Paulo Marinho, que arriscaram deixar os antigos empregos para se dedicarem a este novo projeto de vida. Com 15 quartos distribuídos pelos dois edifícios, o Arc my Otel tem uma extensa lista de hóspedes que, como António Sala e Maria João, escolhem o lado B, tranquilo e de boas vistas para uma noite descansada.

(Fotografia: Rui Fonseca/GI)

A partir do mesmo Largo – o da Alegria – com vista para o rio e para a ecovia, acede-se a um dos lugares de visita obrigatória de Ponte de Lima: o Museu do Brinquedo Português. De que forma factos históricos e culturais ocorridos em Portugal e no mundo influenciaram o brinquedo nacional? A resposta está na exposição permanente deste museu que nos ‘narra’ a história do brinquedo nacional desde o final do século XIX até 1986, associando cada período às transformações sociopolíticas do mundo, cujo impacto foi sentido em solo luso.

Da história de alguns dos mais importantes fabricantes portugueses de brinquedos, aos objetos propriamente ditos – rocas e flautas de folha de flandres, bonecas em pasta de papel, canhões de folha, camionetas, barcos, comboios, triciclos, carros de pedais -, tudo se encontra neste lugar, que, a brincar a brincar, oferece uma verdadeira aula de história.

Almoçar num antigo celeiro

Junto ao Solar de Bertiandos há um restaurante regional com duas zonas, sendo a mais castiça a que ocupa um antigo celeiro, espaço amplo, de tetos altos em madeira. É um espaço familiar, gerido por Herlânder Jorge. Aos 10 anos, em Lisboa, começou a trabalhar na restauração como mandarete, função que desempenhou com distinção também no restaurante Gambrinus, até abrir o seu próprio espaço na capital.

A vida seguiu o seu curso e encaminhou Herlânder para Ponte de Lima, terra natal de Maria da Conceição, com quem casou, e que hoje comanda a cozinha d’ O Celeiro. Ao domingo, há sarrabulho e cabrito estufado com batata assada; durante a semana, os pratos do dia vão variando consoante o mercado. Importante: no final da refeição, é obrigatório repor as calorias com um arroz-doce feito a preceito, só com gemas.

Uma casa rural

Junto ao rio Estorãos, uma antiga azenha do século XVIII deu lugar a duas casas de turismo rural. A Azenha do Rei abriu em 2000, depois de recuperada ao estilo rústico por Aurelina Ferreira e o marido, entusiasta de antiguidades. A azenha estava complemente em ruínas e de um edifício fizeram duas casas independentes, aproveitando o que se podia aproveitar do que lá estava, como a roda movida pelo rio e a pedra de moer. Afastada do movimento da vila, aqui só se ouve o rio correr e outros sons da natureza. Ao lado, fica a ecovia do Estorãos, sendo então este sítio ideal para quem percorre a zona de bicicleta.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

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