Crónica de Pedro Lucas: Nazaré, minha terra apetecida

Crónica de Pedro Lucas, diretor da «Men's Health», «Women's Health» e do Delas.pt, sobre a Nazaré, onde nasceu.

Há uma magia diferente sempre que chego à Nazaré e avisto o seu promontório. Uma maresia que acalma e um abraço que me acolhe como quem diz “Bem-vindo a casa, filho!” A sensação é tão única que não consigo explicar por palavras. Sinto-a apenas. E é tão bom sentir. É tão bom ser desta terra mágica, onde Amália passou férias, Eusébio e Torres descansaram após o Mundial de 66, Jean Scherbeck pintou, Carminho canta e McNamara desafiou. Mas, permitam-me, é ainda melhor ser neto de Ângela da Morranga que vendia peixe porta a porta, amigo do “Quim Maladrão” que, de entre a sua doença mental, tenta tocar guitarra pelas ruas como se estivesse em Wembley, de Ricardo Poupada, que é um dos jovens empresários de maior sucesso no mundo e do Ludgero, pintor na construção civil, que emigrou para o Canadá para lutar pela sua vida.

Fotografia: Pedro Lucas

Recorde aqui os primeiros surfistas da Nazaré no final da década de 60, muito antes de McNamara

Hoje já não caminho descalço pelas suas ruas estreitas. Já não tenho o seu sotaque deliciosamente impercetível. Os seus caminhos já não me levam à praia como outrora. Já nem me deixam secar ao sol no cimento das escadas dos balneários no areal. Já não oiço os “gritos” da minha mãe à noite a chamar-me para vir para casa. Já não sinto a alegria de ter os bolsos das calças cheios de bates – vulgo berlindes – e as unhas sujas de terra. Também já não me deixam voltar a sentir a vontade de deixar a pele em campo no pelado de “Os Nazarenos”, onde joguei futebol a sonhar que poderia ser o Melhor do Mundo como Emílio Peixe (1991), outro nazareno. Hoje só consigo reviver as memórias de histórias mágicas da infância que em ti vivi. E tenho a certeza que são elas que tornam a Nazaré tão especial para mim. Outros terão as suas memórias. Certamente tão especiais quanto as minhas.

Fotografia: Pedro Lucas

Leia aqui a recente reportagem da Evasões na Nazaré, com várias sugestões de locais para conhecer

É bom viver numa linda Lisboa que me acolheu, mas é muito melhor ser de uma Nazaré que fala a cantar, que é prosa para os poetas, que é história, que é das sete saias, que é amante do pescador, que é luta, que é das mulheres de preto que acariciavam a areia e rezavam até à chegada do último barco, que é das ondas gigantes, que é dos pés descalços, que é genuína e vaidosa, que é, afinal, a terra do amor. A antiga e a de agora.

 

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