Lagos: há bons motivos para a descobrir no inverno

A cidade do Barlavento acaba de ganhar o seu primeiro hotel rural cinco estrelas. Se juntarmos outros aliciantes como comida regional, passeios e compras menos óbvias temos, mesmo no inverno, razões para uma escapada.

Abriu em 2004, então como hospedaria, mas a quinta de cinco hectares, na Estrada da Praia da Luz, Lagos, é mais antiga — remonta ao século XIX e estava vocacionada para a exploração agrícola. O Vila Valverde Design & Country Hotel, recentemente certificado pelo Turismo de Portugal como o primeiro hotel rural cinco estrelas do Algarve (existem outros cinco, na mesma categoria, em todo o país), manteve o laranjal e áreas de cultivo como entorno campestre à estrutura hoteleira contemporânea.

A propriedade horizontal, com três níveis bem integrados nos declives, leva assinatura do arquiteto Mário Martins, mas há aqui muito do dedo (e do coração) dos seus proprietários: Luís Tavares, ligado ao setor do turismo, participou ativamente na sua construção, deixando à mulher, a alemã Margit (radicada em Portugal há 32 anos), a decoração. Hoje contam também com a ajuda da filha Jacqueline.

É um projeto familiar mas com uma tipologia, um serviço e comodidades próprias de um pequeno hotel e por isso uns furos acima do que se costuma encontrar num turismo rural. O estar no campo, sobretudo no Algarve onde sempre se valoriza o requisito “beira-mar”, não é aleatório, só que acaba por funcionar, para a maioria dos hóspedes, atrevemo-nos a dizer, como quase um jardim (de grandes proporções, é certo) ideal para caminhar, andar de bicicleta ou, quando o tempo o permite, ir a banhos numa piscina alimentada pela água do poço. No inverno, não é caso para ter um arrepio de frio, o Vila Valverde possui uma segunda piscina interior e aquecida (detalhe importante) com serviço de sauna e, sob marcação (e com custo adicional), de tratamentos e massagens terapêuticos.

Este é o primeiro hotel rural cinco estrelas de Lagos.
(Fotografia: Jorge Firmino/GI)

Pouco dados a superstições, os donos do hotel não pularam o 13 na hora de numerar os 15 quartos, todos com acesso a terraços comuns, o que se revelou uma boa decisão: com cama de dossel e casa de banho à vista, é o mais reservado. Os tamanhos variam entre os 29 e os 55 metros quadrados, sendo que nenhum é igual ao outro, pese o facto de não fugirem às cores de base que são o branco, o preto, o prateado, o cinza e o bege. A cada ano, Margit, uma autodidata nestas coisas do design de interiores, faz questão de mudar alguma coisa para trazer maior calor a materiais como a ardósia, a madeira, o aço e o vidro. O espaço central de pé muito alto, coroado por uma claraboia que não deixa faltar luz, é partilhado pela zona de estar e por um restaurante pensado, diariamente, para servir o pequeno-almoço até às 11 horas e snacks ao longo do dia (jantares só com marcação).

Numa estada de fim de semana é provável que não sobre muito mais tempo para atividades extra-hotel, mas o Vila Valverde é o primeiro a incentivá-las. Num Algarve conhecido pela boa oferta de campos de golfe, a sua recomendação recai no Espiche Clubhouse & Golfe, aberto desde 2002 e situado a poucos minutos de Lago. Desenhado pelo sul-africano Peter Sauerman, a grande particularidade deste complexo, com 18 buracos, é o facto de se encontrar em plena reserva natural o que determinou uma abordagem sustentável e um cuidado todo especial para que se adaptasse à paisagem.

Detentor de vários prémios, que enfatizam a sua boa consciência ecológica, Espiche disponibiliza nesta fase do ano pacotes a partir de 65 euros para duplas de golfistas, mas essa não é a única condição para desfrutar das suas infraestruturas de lazer — as que não envolvem pisar os greens, entenda-se. Aberto ao público, o restaurante Gecko faz parte da Clubhouse, uma estrutura arquitetónica que muitos consideram um exemplo a seguir nesta matéria e da qual é possível ter uma vista de 360 graus sobre toda a propriedade. Sem pretensões a ser mais do que é, mas insistindo que é orgânico para não destoar do espírito, o Gecko cumpre de forma simpática o propósito de se ter uma refeição mais ou menos rápida, cobrindo desde o pequeno-almoço até à hora do lanche, com opções de pratos de peixe e carne, sopas, sandes, tapas, hambúrgueres, saladas e bebidas.

O Espiche Clubhouse & Golfe está aberto desde 2002. (Fotografia: Jorge Firmino/GI)

Quem desejar um pouco mais de ação, ainda que sem necessidade de suar as estopinhas, os passeios da Clássicos Algarve podem ser uma boa alternativa. Com uma frota de carros antigos, onde se incluem vários modelos de Mercedes, Bentleys, Fiats ou até Porches e Rolls Royce (entre outros), esta empresa não se quis ficar pelos casamentos e festas e decidiu dar uso a parte dos seus veículos em tours por praias como a do Camilo — mesmo no inverno, ela continua a impressionar devido às suas formações rochosas tão peculiares — e cartões postais deste litoral como a Ponta da Piedade, uma sequência de falésias esculpidas pelo tempo, com grutas, arcos e túneis naturais, que não deixa ninguém indiferente.

De volta a Lagos, é relativamente fácil percorrer as suas ruas e praças centrais. Entre a muito razoável panóplia de restaurantes, destacamos pelo menos dois para propósitos diferentes: o Taninos-Wine & Kitchen e o Casinha do Petisco. O primeiro passou por uma remodelação recente e concentra-se agora, num ambiente informal e assumidamente vínico, em disponibilizar uma carta de petiscos variados, confecionados com um toque moderno, que podem e devem ser degustados com vinho a copo ou à garrafa. Já o Casinha do Petisco, pequeno e despretensioso, funciona bem para quando se quer, por exemplo, saborear uma cataplana farta e a bom preço.

A visita a Lagos não fica completa sem uma passagem pela Mar d’Estórias. Mais do que apenas uma loja dedicada a valorizar o que é português, trata-se de um espaço multifunções que deu novo uso — e dignidade, já que o tempo e as anteriores ocupações nem sempre lhe fizeram jus — ao conjunto da Igreja do Corpo Santo e do Compromisso Marítimo de Lagos. A Vida Portuguesa teve o mérito de inspirar, um pouco por todo o país, projetos como este, tornando viáveis marcas e produtos de antes e de hoje em que a portugalidade é um denominador comum. É fácil perder aqui umas boas horas, até porque o Mar d’Estórias possui um café-bistrô e um terraço panorâmico. Nada, porém, como deixar algo por explorar e experimentar; é a desculpa perfeita para voltar. E que não demore muito.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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