Matt Preston: «O orgulho na regionalidade é a força da cozinha portuguesa»

Matt Preston: «O orgulho na regionalidade é a força da cozinha portuguesa»
Estreia-se no país «das sardinhas, do fado e do Ronaldo» mas encontrou muito mais na vinda a Portugal, a reboque do novo livro «Delicioso, Fácil e Rápido». Fã das migas de espargos e do arroz de tamboril que comeu no Alentejo e Algarve, Matt Preston elogia a versatilidade da cozinha portuguesa, analisa a «viagem louca» de 10 anos de «Masterchef Austrália» e aplaude a política anti-desperdício da Fruta Feia. Quanto a futebol, ainda está indeciso entre FC Porto, SL Benfica e Sporting CP.

Este novo livro é um reflexo dos nossos tempos, onde cada vez temos menos tempo para cozinhar?
Temos menos tempo para fazer o que quer que seja. Temos que ser mais inteligentes na gestão do nosso tempo. Estas são receitas de preparação rápida, até meia-hora. Depois, é colocar no forno ou na caçarola, que os portugueses tanto gostam de usar, e voltar quando o jantar estiver pronto. É a minha forma de ajudar a minimizar o tempo passado na cozinha para cada um fazer outras coisas que gosta. Ir por atalhos sem que isso afete o sabor. Os portugueses são muito bons nisso, pelo que vejo. Cozem as batatas com pele e cortam o porco preto muito fininho no Alentejo, cozinha-se num instante.

Existe também outra preocupação contemporânea no livro, o alerta para a diminuição do desperdício com o uso de ingredientes básicos que temos sempre em casa. Uma causa especial para o Matt.
Este é um problema gigante. Na Austrália, gastamos um terço do que compramos. Faço parte da organização Second Bite, que recolhe frescos dos supermercados e oferece comida a quem precisa. Este ano, esperamos chegar aos 10 milhões de refeições dadas, em sete anos. São cinco milhões de quilos de comida que iria para o lixo. Em Portugal, vocês têm o movimento da Fruta Feia, certo?

Sim, há mais de cinco anos, pelo menos.
Eles têm feito um trabalho absolutamente fantástico até aqui. Mas estamos a falar de gotas num oceano. Precisamos de praticá-lo numa escala ainda maior.

«Delicioso, Fácil, Rápido» junta 127 receitas de variadas influências. Temos aqui opções democráticas para todos os gostos, certo?
Sim. O nome do livro foi dado pela minha filha de 12 anos e ela consegue cozinhar todas as receitas que aqui estão. Não é preciso ser um excelente cozinheiro. Não tem que ser. Cozinhar é um processo democrático. O marido deve saber cozinhar tanto como a filha adolescente e a mãe. Gosto da ideia do amor pela cozinha ser partilhada por toda a família.

(Fotografias: Sara Matos/GI)

Nesta estreia em Portugal, o Matt esteve no Algarve e no Alentejo, para além da capital. O que tem provado da cozinha portuguesa tem ido de acordo às expectativas que tinha, de antemão?
As minhas expectativas eram sardinhas, fado e Ronaldo [risos]. São todos verdade, mas Portugal é muito mais do que isto. Há Ricardo Carvalho, há Deco… Podemos falar imenso tempo sobre futebolistas portugueses. Ou sobre a forma como os estádios do Sporting e do Benfica estarem tão próximos um do outro. É de loucos! Em Inglaterra e na Austrália não é assim.

Já lá vamos, ao futebol.
De volta à cozinha, esperava uma cozinha rústica, feita com simplicidade. Não esperava encontrar este orgulho regional e a diversidade de produtos locais, que é enorme. O orgulho na regionalidade é a verdadeira força da cozinha portuguesa. A cozinha portuguesa não é só uma. Isso é simplista. Difere muito entre zonas. É uma união de várias.

Quais foram os pratos que mais gostou de provar por cá?
O linguado é o meu novo peixe favorito. Fantástico. Adorei o arroz de tamboril, muito pela suavidade do molho. Também as migas de espargos alentejanas. E acho fascinante o uso dos coentros, especialmente com alho e polvo. Que mais? Ainda estou à procura de um bom pastel de bacalhau e adoro bacalhau à lagareiro. Também me surpreendeu as amêijoas a acompanhar carne de vaca. Com a de porco, consigo perceber a ligação, mas com vaca fica brilhante.

Muitos portugueses conhecem-no como um dos jurados de «Masterchef Austrália», do qual decidiu sair recentemente. Como olha para estes 10 anos de programa?
Uau. Foi uma viagem louca, privilegiada e fantástica. Fizemos coisas espetaculares. Ajudámos bons cozinheiros a tornarem-se excelentes. É como ser treinador de uma equipa de futebol com crianças de 10 anos e depois vê-los jogar num SL Benfica, por exemplo. Sentimos orgulho em ter feito parte do seu sucesso. Ainda somos amigos e mantemos contacto, todos. Mesma a equipa técnica, que se manteve a mesma durante seis anos. Somos como uma família. Alguém me disse, no outro dia, acerca da nossa saída: «Não fiques triste porque acabou, fica feliz porque aconteceu».

(Fotografias: Sara Matos/GI)

Vamos voltar a vê-lo, no futuro, ao lado de George Calombaris e Gary Mahigan [os restantes jurados e anfitriões]?
Claro que sim, vamos voltar a fazer coisas juntos. Somos muito unidos. Apenas quisemos mais tempo para podermos fazer esses novos projetos juntos. Quando se grava um programa durante nove meses seguidos, por ano, torna-se muito difícil.

E fica com mais tempo para ver a bola. O Matt é um entusiasta por futebol. Já tem um clube português preferido?
Tenho tentado, de forma muito sensível, fugir a essa questão [risos]. Sou fã do Chelsea, por isso existe uma ligação com o FC Porto, por causa de José Mourinho. Mas o Benfica também é muito bom. O Benfica é como o Manchester United, não é? Todos gostam deles. Não me posso esquecer do Sporting. Tenho que me decidir quando os vir jogar ao vivo.

O que é que o Matt Preston costuma fazer quando não está a escrever sobre comida ou na televisão?
Provavelmente, a viajar. Ou a levar os meus filhos aos treinos de futebol e netball.

E a comprar lenços, não?
Não, tenho alguém que faz isso [risos]. Já tenho 400 peças. Tudo começou com a música, na altura em que era punk e os comprava em segunda mão. Ao contrário do que se possa pensar, são a parte mais barata dos meus visuais. Fabricam-se com sobras de tecido.

 

«Delicioso, Fácil, Rápido», de Matt Preston. Edição Casa das Letras. 290 páginas. PVP: 29,90€.

 

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