Roteiros dos leitores: entre o queijo da serra e a maçã bravo-de-esmolfe

O leitor António Ferreira na Casa da Ínsua, em Penalva do Castelo. Fotografia: Pedro Granadeiro / Global Imagens
António Ferreira cultiva a ligação a Penalva do Castelo, vila com múltiplos encantos, os mais óbvios na mesa: há a maçã bravo-de-esmolfe, o queijo da serra, o vinho do Dão. Mas também as paisagens, o património histórico, as pessoas. Com o nosso leitor beirão, fomos à descoberta de uma terra de aromas frescos, natureza frondosa e rico património.

António Ferreira, de 66 anos, reformado, vive há largos anos na Maia, mas é natural de uma aldeia no concelho de Penalva do Castelo, distrito de Viseu. Fala das suas raízes com orgulho e mantém forte ligação à sua terra, onde tem casa, alguma família e sempre muito gosto em regressar. Ele, que chegou a guardar ovelhas em miúdo, mudou-se para Lisboa aos 18 anos, à procura de melhores condições de vida. Trabalhou numa livraria, na restauração e na Caixa de Previdência, acabando por se fixar na banca e no Norte.

Seguimos juntos do Porto até Penalva, com António a adiantar curiosidades sobre o destino, enquanto vai dando dicas de lugares onde comer e a visitar. Lê a Evasões com frequência e aprecia, sobretudo, os roteiros. “Mesmo que não vá, gosto de ficar a conhecer”, diz. Agora é a sua vez de conduzir a viagem, deliciosa graças à maçã bravo-de-esmolfe, ao queijo da serra e ao vinho Dão de Penalva do Castelo. Sem esquecer as caminhadas à beira-rio e as histórias de outros tempos, num hotel de charme onde não faltam ovelhas bordaleiras e um pastor.

Fotografia: Pedro Granadeiro / Global Imagens

Roteiro

1. Igreja da Misericórdia

Fotografia: Pedro Granadeiro / Global Imagens

Na vila destaca-se logo a Igreja da Misericórdia, com as suas duas torres gémeas (em tempos, teve só uma). O templo, construído em fins do século XVIII/inícios do século XIX, é, para António Ferreira, “o ex-libris de Penalva”. Trata-se de uma igreja de nave única, com um altar-mor, altares colaterais e um órgão de tubos – até tem ali havido concertos.

No segundo piso fica o Núcleo Museológico da Misericórdia de Penalva do Castelo, que reúne peças de arte sacra como o santo lenho, que se acredita ter no centro um pedacinho da cruz de Cristo. “Esta igreja é muito visitada, mesmo por pessoas que não vêm à missa. É um lugar de recolhimento”, diz o padre José António Almeida.

 

2. Esmolfe

A freguesia de Esmolfe é o berço da maçã bravo-de-esmolfe, produto de origem protegida. Sobre esta maçã de setembro/outubro, com muito sumo, polpa macia, sabor e aroma intensos, garante António: “É uma delícia! E fica um cheirinho na casa que é uma maravilha”.

Em Esmolfe também se encontra a Anta do Penedo do Com, monumento funerário coletivo cuja utilização remonta ao quarto milénio antes de Cristo. Este Imóvel de Interesse Público integra a Rota dos Cenários do Passado, um dos percursos culturais do município. “Em Penalva há muitos percursos pedestres com animação”, conta António, dando como exemplo o Caminho dos Galegos, cujo tema é o caminho de Santiago.

Fotografia: Pedro Granadeiro/GI

 

3. Mata de Nossa Senhora de Lurdes

Esta mata junto ao rio Côja, convida a piqueniques, caminhadas e banhos. Numa gruta artificial está a imagem de Nossa Senhora de Lurdes e, mais acima, ergue-se a Capela da Imaculada Conceição. Muita gente vai ali rezar, cumprir promessas e, no dia 8 de dezembro, assistir à procissão.

Bem perto fica a barragem da antiga central de produção de energia elétrica, com o seu canal de aproximadamente 1600 metros. No fim do canal, perto do lugar de Senhora da Ribeira, encontram-se as instalações da primitiva central hidroelétrica, que foi das primeiras em Portugal.

Penalva do Castelo foi a segunda vila do país a ser eletrificada, lembra o presidente da Câmara Municipal, Francisco Lopes de Carvalho. Já no século XIX se produzia energia na Casa da Ínsua, solar barroco hoje convertido em hotel de charme.

 

4. Restaurante Recordo

Fotografia: Pedro Granadeiro/GI

“Gosto muito deste sítio, é diferente dos outros”, resume António Ferreira, elogiando a comida, a apresentação e a simpatia do pessoal do restaurante Recordo, aberto há pouco mais de dois anos, com alguns antepassados na lembrança. João das Formas, artista da terra que deixou o seu toque nos altares da Misericórdia e em tetos da Casa da Ínsua, é retratado numa parede. E no balcão lê-se uma frase premonitória: “Nunca se esquece onde se foi feliz”.

Normalmente, António pede a sugestão da chef (Helena Trindade, que trabalhou na Casa da Ínsua), que é variável – pode ser feijoada de chocos ou bacalhau com broa. Mas ali come-se, sobretudo, petiscos, desde pica-pau até tábuas com enchidos e queijos – Penalva do Castelo integra a região demarcada do Queijo da Serra. Por vezes, há noites de fado e, no verão, aluga-se bicicletas. Quem quiser, leva merenda. Não faltam vinhos e produtos regionais.

 

5. Fonte dos Namorados

A Fonte dos Namorados existiu, originalmente, na Quinta do Coutinho, que começava onde está agora a entrada para o centro de saúde da vila. Era uma fonte particular, envolta em camélias, e foi assim batizada pelos donos por ser um sítio escolhido para namorar, lembra o presidente da Câmara Municipal, Francisco Lopes de Carvalho. Hoje, é um cenário bastante procurado para fotografias.

 

6. Casa da Ínsua

Ir à Casa da Ínsua é mergulhar num mundo encantado, com árvores de grande porte, animais, um corredor de buxos e lugares com nomes tão poéticos como Tanque dos Jarros ou Cruzamento das Quatro Virtudes. Luís de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, nomeado pelo Marquês de Pombal governador e capitão-geral de Cuiabá e Mato Grosso, no Brasil, foi quem mandou construir este edifício residencial, no século XVIII.

O Solar dos Albuquerques, de estilo barroco, foi entretanto convertido em hotel de cinco estrelas, pelo grupo Visabeira, e é o único, em Portugal, a integrar a rede espanhola de Paradores de Turismo. Se em tempos teve mais de 300 empregados e foi praticamente autossustentável, hoje continua a produzir azeite, vinho do Dão, maçã bravo-de-esmolfe e queijo da serra – a casa tem cerca de 150 ovelhas de raça bordaleira e um pastor ao seu serviço, queijaria, loja e restaurante.

Os jardins, o edifício e o seu núcleo museológico são visitáveis, mesmo sem pernoitar num do 35 quartos e apartamentos. António nunca lá dormiu – tem casa em Penalva -, mas fez questão de mostrar este património, e percebe-se porquê.

Fotografia: Pedro Granadeiro/GI

 

7. Pastelaria Pena d’Alva

O feijão de Castendo, um doce regional que leva feijão branco e frutos secos e é feito segundo uma receita antiga, atrai muita gente a esta pastelaria com fabrico próprio. Incluindo António Ferreira, que gaba a simpatia do lado de lá do balcão e não dispensa aquele pastel, batizado com o nome anterior da vila: Castendo.

Fotografia: Pedro Granadeiro/GI

Outra especialidade da casa é a tarte de maçã bravo-de-esmolfe e requeijão, produtos locais que resultam num doce muito próprio, nem sempre disponível. Por estes dias, ainda se come a tarte confecionada com a maçã que é um símbolo da terra, e normalmente ainda se consegue apanhá-la em fevereiro, durante a Feira do Queijo.

Fotografia: Pedro Granadeiro/GI

 

 

Celebrar os produtos da terra

Feira do queijo

No segundo fim de semana de fevereiro, o Largo Magalhães Coutinho acolhe a Feira/Festa do Pastor e do Queijo. Uma homenagem a quem se dedica à pastorícia.

Feira do vinho

A Feira do Vinho “Dão de Penalva” – que divulga o produto que mais peso tem na economia local – e o Mercado Rural decorrem em agosto, na Praça do Município.

Feira da Maçã Bravo de Esmolfe

Esta feira realiza-se no primeiro ou segundo domingos de outubro, no Centro de Exposições de Produtos DOC (Largo de Santo Ildefonso), na freguesia de Esmolfe. O espaço tem uma capela e mesas de piquenique.

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