O regresso da Bedeteca do Porto

A Bedeteca está instalada no Centro Comercial Brasiília, Boavista. Ao fundo, Pedro Petracchi e Júlio Moreira (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)
Esteve fechada mais de 20 anos e regressa agora num novo espaço - o Centro Comercial Brasília, na Boavista - e com uma oferta maior. A Bedeteca do Porto quer ser um polo agregador de fãs da banda desenhada e curiosos.

Nos anos 1980, um grupo de portuenses apaixonados por banda desenhada, da Comissão de Jovens de Ramalde, reuniu-se com um objetivo: criar um coletivo e editar um fanzine. Nasceu assim a Comicarte e com ela toda uma série de iniciativas dedicadas à nona arte, como o Salão Internacional de Banda Desenhada e a Bedeteca, que agora regressa para a segunda encarnação.

“O fanzine teve dez números e a partir do meio da sua vida criou-se o salão, cuja primeira edição foi em 1985”, lembra Júlio Moreira, um dos envolvidos na recuperação da Bedeteca. O evento realizou-se anualmente até 1988, altura em que o grupo quis ter “um chapéu legal para pedir apoios”. Fundou-se, então, o Núcleo de Banda Desenhada da Comissão de Jovens de Ramalde, já com a ideia de criar a Bedeteca. A partir de 1989, o salão tornou-se Bienal e realizou-se até 2001, no Mercado Ferreira Borges. A Bedeteca acabou por ser instalada em 1990 na sede da comissão, em Francos. Com a saída de um dos fundadores, em 1993 constituiu-se um grupo para dar continuidade ao festival, criando-se a Associação do Salão de Banda Desenhada do Porto. A Bedeteca continuaria aberta até ao fim do século XX.

Foi nesse ano de 1993 que Júlio Moreira, Pedro Petracchi e José Rui, os diretores da nova Bedeteca, se conheceram. “Éramos o núcleo central do Salão, e depois dessa experiência fizemos outras coisas.” Júlio Moreira foi produtor cultural e criou uma editora (A Seita), Petracchi é arquiteto e José Rui designer gráfico e o fundador da loja (e também editora) Mundo Fantasma, no Brasília. Foi precisamente este que adquiriu a loja naquele shopping onde desde 10 de fevereiro se encontra a Bedeteca. Comprou para fazer armazém, mas depois lembrou-se de recuperar a Bedeteca. Contactou a Comissão de Jovens de Ramalde e entrou em cena a Turbina, associação a que pertence Júlio Moreira.

O Clube do Livro é organizado pelo Goteira – Coletivo de BD (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)

“O acervo original da Comicarte estava parado desde o fim dos anos 90”, conta Petracchi. “As editoras ofereciam muita coisa. Era uma coleção muito focada na BD franco-belga. Temos edições desde o final dos anos 70, um bom panorama do que foi editado em Portugal, incluindo fanzines.” Muito do que lá está já não se encontra facilmente. Esse acervo original foi agora duplicado com muitas ofertas de pequenas e grandes editoras e de pessoas individuais.

A porta da Bedeteca está aberta a toda a gente que queira consultar a vasta coleção de livros, que já tem à volta de 6 mil títulos. Para já, não há empréstimo domiciliário. “Ainda não estamos preparados para isso, mas temos coisas pensadas”, esclarece Júlio Moreira. “Vamos ensaiar algumas soluções e ir afinando.”

Outro objetivo é formar um sentido de comunidade, que será feito através de parcerias, como o Clube de Leitura, promovido pelo Goteira – Coletivo de BD, ou o Urban Sketchers. Na Bedeteca também se podem comprar alguns livros, de pequenas editoras.

DESTAQUES AOS QUADRADINHOS

Algumas preciosidades
Na Bedeteca é possível encontrar a coleção da “À Suivre”, revista belga editada desde os anos 70 até ao fim do século XX. “Faltam meia dúzia de números e estamos a ver se conseguimos completar”, diz Júlio Moreira. Foi nesta revista que se publicou, por exemplo, “As cidades obscuras”, da dupla Benoît Peeters- François Schuiten, ou “O silêncio”, de Didier Comès, hoje considerados clássicos da BD. Também há revistas portuguesas, como a “Tintim” e a “Seleções BD”.

(Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)

 

Artista residente
Uma parceria com o autor Daniel da Silva Lopes, editor da Gorila Sentado, faz da Bedeteca também um ateliê. O artista está lá vários dias por semana a trabalhar nos seus projetos, tendo também os seus livros disponíveis. Oportunidade para conhecer o seu trabalho mais de perto. “Solar sailors”, “Teller” e “Beep boop” são alguns dos títulos que já publicou. Tem também disponível a webcomic “Sweet wind” no site bandasdesenhadas.com.

(Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)

Galeria da Mundo Fantasma
No corredor paralelo à Bedeteca está a loja dedicada à BD Mundo Fantasma. Aqui, encontra-se uma galeria de arte, que retomou a atividade precisamente no dia de inauguração da Bedeteca, 10 de fevereiro. A galeria será uma espécie de extensão desta. A exposição atual, que pode ser vista até 24, de março, conta com originais de Nunsky, do seu livro “Companheiros da penumbra”, ambientado na cena gótica do Porto dos anos 1990.

(Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)




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