O primeiro jardim inglês de Lisboa foi o da Estrela – e teve um leão numa jaula

A entrada principal do Jardim da Estrela fica de frente para a basílica. (Fotografia de Gerardo Santos/GI).
Quem o visita talvez não saiba que foi o primeiro jardim público de Lisboa plantado ao estilo inglês, com caminhos irregulares e espécies exóticas de grande beleza, há 169 anos. E que até teve um leão numa jaula.

Algumas crónicas relatam que, quase vinte anos depois de o então Passeio da Estrela ter aberto ao público em 1852, se terão juntado ali, numa tarde de maio, “entre nove a dez mil pessoas”, atraídas pela presença de um leão que tinha sido oferecido à cidade pelo explorador africano Paiva Raposo. Até morrer, em 1929, o felino protagonizou vários incidentes, uma vez que as pessoas lhe acenavam e batiam com bengalas na jaula para o ouvir rugir, e sofreu graves problemas de locomoção por causa do espaço exíguo – a ponto de ser alvo até de uma intervenção cirúrgica inédita no país. Certo é que, já depois de morto, inspirou mesmo o título do icónico filme de comédia “Leão da Estrela”, realizado por Athur Duarte em 1947, sobre as aventuras de um adepto do Sporting.

Da jaula do leão não ficaram quaisquer vestígios, a não ser gravuras e crónicas da época, até porque o espaço que ocupava fica perto da entrada aberta para a Avenida Álvares Cabral. Mas das cinco, a mais cénica fica em frente à Basílica da Estrela e até serve de cenário a recém-casados. Escondido à vista de todos está também o facto de o Jardim Guerra Junqueiro ter sido o primeiro jardim público lisboeta construído segundo o modelo inglês. São ilustrativos os extensos relvados, as árvores exóticas, os recantos que acompanham os declives naturais do terreno, as cascatas, lagos e algumas estátuas, como o busto de Antero de Quental, da autoria de Salvador Barata Feyo.

Na convergência de todos os caminhos surge o majestoso coreto que sintetiza o valor estético, histórico e funcional do Jardim da Estrela. Projetado por Soares de Lima em ferro forjado pintado de verde, adornou o Passeio Público (a atual Avenida da Liberdade) até 1936, ano em que foi para ali trasladado para substituir o pavilhão chinês em que havia concertos todos os domingos. A sua função cultural mantém-se, assim como o simbolismo do jardim, pensado por D. Fernando II, o rei paisagista, à luz de uma vontade higienista de proporcionar um espaço para o bem-estar e saúde da população.

À época frequentado por ilustres como a rainha D. Amélia e a Duquesa de Palmela, hoje o jardim tem um acesso mais democrático e é usado por gentes de toda a zona e a vários ritmos: dos que correm por desporto aos que passeiam animais de estimação, fazem piqueniques ou entretêm crianças a jogar à bola, ou simplesmente ali ficam a dormitar, a ler ou a jogar às cartas. O edifício estilo chalet, do século XIX, que albergou o primeiro jardim de infância do país, está a ser recuperado para renascer como Biblioteca do Ambiente, dando continuidade à sua missão ao serviço da população.

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