Óbito: O chef mais estrelado, pelo crítico Fernando Melo

(Fotografia: Charles Platiau/Reuters)
Fidelidade total à manteiga, leitura cristalina dos pratos por todos e renúncia absoluta à utilização de mais de três ingredientes em cada criação sua. Movidos que possamos estar pela impressionante força enquanto empresário, é pela clareza de pensamento que o chef francês Joël Robuchon ficará conhecido.

Joël Robuchon viveu literalmente toda a vida na cozinha, aperfeiçoando e simplificando tudo com todas as suas forças. Mesmo no mais simples creme de pastelaria, desde os doze anos que interrogou tudo e todos na senda do prazer e síntese. Nasceu para a alta cozinha já a nouvelle-cuisine era uma realidade indiscutível e fixou-se num dos seus pilares – destaque de cada ingrediente em separado – para lavrar um dos mais extensos receituários de todos os tempos.

Jamais abandonou as fundações da cozinha que conheceu e em que oficiou ao longo de sessenta anos, mas é mais que certo afirmar que não hesitou em intervir e mudar alguns aspetos, mesmo quando o mundo moderno lhe apontava o dedo com os excessos de proteína que alguns dos seus pratos tinham. A manteiga, ingrediente que lhe foi sempre tão caro, foi proscrita pela crítica vanguardista, seduzida e rendida ao azeite das dietas mediterrâneas, quando no fundo sempre em França conviveram pacificamente. O mundo ficará sempre quedo e mudo quando num qualquer momento futuro olhar para o puré de batata Robuchon, no qual pela alquimia da paciência o amido da batata vai sendo substituído por manteiga, num processo longo e que não admite pressas; quando perceber a sua paixão pelas cozinhas do extremo-oriente, por exemplo pelo incrível bacalhau marinado em miso com beringela fumada que inventou do nada; ou quando der com a catedral de sabor que é o seu burger de foie-gras com pimentos.

O mais importante da vida de Joël Robuchon, mesmo assim, foi a devoção pelo ser humano, tudo o que fez foi para o ver mais feliz.

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