Dormir na Terceira: os Açores a serem os Açores

Arquitetura típica, design contemporâneo com peças exclusivas de Siza Vieira e uma vista de sonho que se estende até às ilhas de São Jorge e do Pico. Eis o Pico da Vigia, na Ilha Terceira, nos Açores.

Corresponder às expectativas é dos desafios mais difíceis para quem trabalha em hotelaria de luxo. (Sim, pode usar-se o termo sem qualquer receio quando se fala do Pico da Vigia.) O processo é quase sempre o mesmo: consultam-se os websites de diferentes alojamentos, comparam-se preços e características, leem-se os textos e vêm-se fotografias de artigos como este e, tantas e tantas vezes, a realidade acaba por não corresponder àquilo que se idealizou.

Aqui dificilmente haverá lugar à deceção. «Tivemos um casal que reservou uma semana a pensar que se tratava da ilha do Pico. Quando cá chegaram ficaram desiludidos por perceber que se tinham enganado, mas depois da primeira noite não foram capazes de ir embora.» Palavras de Bruno Gonçalves – proprietário, juntamente com a mulher, Sofia Couto –, ele que também se apaixonou pela Terceira há mais de 20 anos e nunca mais se foi embora. Foi, mas regressou, por amor. «Vim pela primeira vez com o meu pai, que veio treinar o Lusitânia. Conheci a Sofia, depois ela foi estudar para Lisboa, apaixonamo-nos e viemos para cá.» O pai é Baltazar, treinador e ex-jogador de futebol, campeão pelo Sporting em 1974.

Nem todos os percursos pessoais e profissionais são fundamentais para dar a conhecer uma casa de turismo rural, mas aqui nota-se o cunho, a cara e o carinho dos donos. O projeto de uma vida pensado ao mais ínfimo pormenor. A começar pela localização, uma quinta na freguesia de Santa Bárbara (a dez minutos de Angra do Heroísmo) com vista direta, desafogada, para o mar. E não só. Também para a São Jorge e para o Pico, que se ergue lá ao fundo. De quando em vez a Graciosa, mais ao lado.

Conheça melhor o Pico da Vigia, na Ilha Terceira. (Fotografia: Fernando Marques )

A vista seria, por si só, merecedora de fotos e elogios mil nas redes sociais, mas Bruno e Sofia não quiseram ficar por aqui. Da decoração aos serviços, o objetivo foi que o pacote fosse o mais completo e exclusivo possível. Não se confunda, contudo, exclusividade com ostentação. Quem vê o exterior das casas, em basalto, inspirado nos palheiros tradicionais, dificilmente imagina o que se esconde lá dentro. «Não queríamos fazer algo etnográfico, muito bonito, mas em que depois as pessoas dormem numa cama que range», confessa Bruno, ele trabalhou 17 anos como designer num gabinete de arquitetura. Sofia é presidente do Instituto de Segurança Social dos Açores.

Seis casas no total, com três tipologias distintas (de T0 a T2), quase todas em open space, o mesmo é dizer sem divisões. O interior? Junta pormenores contemporâneos com objetos tradicionais, tal como tantos outros sítios, se bem que aqui casem na perfeição, algo que nem sempre acontece. Fica (mais) fácil quando se tem peças de Siza Vieira. Seis peças distintas, desde camas, mesas-de-cabeceira, sofás, cadeiras e um armário – estas duas desenhadas em exclusivo e batizadas de Cadeira Santa Bárbara e Armário Santa Bárbara.

O alojamento Pico da Vigia fica situado em Angra do Heroísmo. (Fernando Marques )

Os pormenores de luxo não se ficam para aqui. Na casa de banho existe uma abertura em vidro para que se possa ver o mar e as ilhas desde o duche. Às vezes baleias, conta Bruno. «Tivemos aqui um casal que avistou baleias desde o terraço.» Cada casa tem um relvado independente com 900 metros quadrados. E ainda gira-discos, forno a lenha e kitchenette equipada. Feito o check-in há fruta em cima da mesa, produtos no frigorifico e pão fresco todas as manhãs, colocado através de uma pequena janela «secreta». Os Açores a mostrar que continuam a ser os Açores.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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