Crítica de Fernando Melo: Pátio dos Petiscos, em Montemor-o-Novo

É variada a oferta de petiscos neste restaurante em Montemor-o-Novo. (Fotografia: DR)
Em Montemor-o-Novo, nem tudo está perdido. A menos de uma hora de Lisboa, este continua a ser aquele lugar rasgado pela estrada que dum lado e doutro força a ir devagar, há sempre um qualquer imperdível a acontecer. O Pátio dos Petiscos de Francisco Malhão é o sonho incrustado no vaivém que queremos descobrir.

Habituei-me a crescer venerando os apoios de estrada e autoestrada que os espanhóis ofereciam aos passantes, as nossas vias rápidas sempre me pareceram bastante parcas nos motivos para parar. Claro que nalgum momento a situação seria outra, os trunfos locais iriam ser batidos na mesa e os locais de passagem iriam converter-se eles próprios em destinos. Montemor-o-Novo tem entre as pedras preciosas incrustadas nas rotas que intersecta o Pátio dos Petiscos. Francisco Malhão é o proprietário e Miguel Dominguinhos o oficiante e sábio escanção.

Évora fica umas dezenas de quilómetros adiante mas já se pára por um bom par de horas aqui. Petisca-se e refeiçoa-se, motivos não faltam para abrir uma garrafa da copiosa garrafeira, por exemplo os peixinhos da horta de espargos verdes (8,50 euros), em vez do tradicional feijão verde. Mais crocância e verdes para desafiar o vinho são bem vindos e conseguidos. Desarmantes de simples os cogumelos eryngi na chapa com salpico de coentros (7,50 euros), invenção de grande recorte o folhado de tomatada e ovo escalfado para escangalhar (7,50 euros), evocativos dos ovos rotos do outro lado da fronteira, aqui para melhor, pelo jogo de texturas que acontece na boca e pelo quanto puxa a sede de vinho, mais que a de cerveja. Ultraclássica a sopa de cação tradicional (25 euros, 2 pessoas), em contraponto com o moderno atum braseado selado com quinoa e pingos de balsâmico (14,50 euros), canónico o bacalhau confitado com açorda de amêijoas (16,50 euros).

(Fotografia: DR)

Quando se podia pensar que com tanta emoção petisqueira e uma secção peixeira assim bem fornecida o capítulo carnívoro seria entre o monótono e o dispensável, eis que Francisco Malhão se nos antecipa e surge com uma oferta de borrego da raça suffolk, de que aprovámos a perna de borrego na grelha a baixa temperatura (18,50 euros), deliciosa, cozinhada com respeito, de forma a preservar os sucos dentro da peça, que é laminada à nossa frente, já à mesa.

Tratamento de igual requinte mereceu uma peça de vazia de novilho maturada (18,50 euros), a fazer prometer nova visita para breve. Aqui há que ir aos doces, são todos produzidos em casa, ficaram na memória a sericaia (4,75 euros) e a tarte de limão merengada (4,25 euros). Há magia no Pátio, há petiscos de antologia. Ainda bem que acreditámos e fomos, assim vale a pena.

 

A refeição ideal

Peixinhos da horta de espargos verdes
(8,50 euros)
Folhado de tomatada e ovo escalfado
(7,50 euros)
Bacalhau confitado com açorda de amêijoas
(16,50 euros)
Perna de borrego na grelha
(18,50 euros)
Sericaia (4,75 euros)

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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