Crítica de Fernando Melo: Grand Salon, Vila Real de Santo António

Grand Salon (Fotografia: Leonardo Negrão/GI)
Pombalina de traça pura, Vila Real de Santo António atinge o pleno da sofisticação com a renovação do Grand House, e o restaurante Grand Salon cumpre um desígnio gastronómico que poucos ousaram sonhar. O sotavento ganha mais uma bandeira de excelência.

Calçada portuguesa, construção genuinamente pombalina, e vida em praças e ruas como idealizada pela equipa liderada pelo Marquês de Pombal, é uma forma possível de falar de Vila Real de Santo António. Criada a 13 de maio de 1777 por intenção e decreto do poderoso Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, é ponto derradeiro da geografia portuguesa, o Guadiana e Espanha logo ali. E onde estava outrora o Grande Hotel do Guadiana, surge no início deste ano o brilhante Grand Hotel, orientado para a proximidade do rio e do mar em formato exótico.

Foi em boa hora convocado o chef Jan Stechemesser, alemão radicado em Portugal desde 2002, conhecedor profundo do produto português do mar e da terra, cultor do equilíbrio e da alimentação sustentável. Regista-se e gosta-se logo no primeiro contacto da elegância no processamento e harmonização dos elementos nos seus pratos, com trabalho de recorte técnico notável. Gere também a cozinha do Beach Club, ali perto, promontório marítimo informal, com o mesmo foco e trabalho de standards elevados que encontramos aqui na sala principal.

Grand Salon, no Hotel Grand House.
Fotografia: Leonardo Negrão/Global Imagens

As entradas propostas são autênticos disparos de sabor, feitas pontos cardeais como que a preparar-nos para a empreitada da refeição. Provei as duas sopas disponíveis, ambas gloriosas, o creme de ervilha e chouriço de porco ibérico (8,50 euros), cremoso e intenso, e o consommé de peixe e marisco da nossa costa (11 euros), clássico e directo, sem véus, abordagem quase de cozinha de pescador, em formato maravilha. Absolutamente irrepreensíveis as vieiras do Atlântico com pancetta (18 euros), texturas afins e o lado salino a viajar entre os dois componentes e a criar plataforma amiga do vinho e da gente. Fica-se bem disposto, e pronto para uma outra aventura entrante, filete de cavala fumada com chá preto, dashi, puré de ervilhas e wasabi (13 euros), abordagem mar-terra feliz.

Já nos pratos principais, explora-se o vibrante filete de salmonete com lingueirão da Ria Formosa e funcho em três texturas (28 euros), o chef a mostrar os seus trunfos e a revelar controlo total das proteínas que integra. Amigo confesso do mar, chama também as carnes ao coração e deixa-nos rendidos ao ragout de borrego com favas e puré de maçã (25 euros), sobrante talvez este último componente mas perfeito o prato nos equilíbrios e ligeireza. O lombo de novilho maturado com legumes crocantes (29 euros) faz terminar a refeição com o toque de universalidade que gosto muito de encontrar nos lugares donde se vê o mundo, clientela cosmopolita e conhecedora.

Chega-se bem à doce terminação, bem a trilogia de creme brulées com sabores algarvios (8 euros), brilhante e fresca a manga, coco e sorbet de manjericão (8,50 euros). Prodigioso Algarve, matricial e sempre novo.

A refeição ideal

Consommé de peixe e marisco
da nossa costa (11 euros)
Vieiras do Atlântico com pancetta (18 euros)
Trilogia de codorniz com aipo
e cogumelos enoki (14 euros)
Filete de salmonete com lingueirão
da Ria Formosa (28 euros)
Ragout de borrego com favas
e puré de maçã (25 euros)
Trilogia de creme brulées com sabores algarvios (8 euros)

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