Foi quando Margarida Osório e Diogo Coimbra descobriram que o prédio onde iria nascer o seu restaurante tinha sido a casa de Ana Plácido e do seu marido Pinheiro Alves que se fez luz. A sócia-gerente e o chef de cozinha decidiram homenagear aquele que começou por ser o amor proibido entre a escritora e Camilo Castelo Branco.
O caso de adultério levou ambos à prisão e o cárcere deu origem ao famoso “Amor de perdição”, de Camilo, e ao quase esquecido “Luz coada por ferros”, de Plácido. Se a história acabou por definir um pouco a linha do restaurante Camilo (e alguma da sua estética, como a forma como é apresentada a carta), a literatura é só mesmo pretexto, porque aqui conta mais a ideia de “traição”, pois “o chef gosta de trair os países”, brinca Margarida.
“Se quisermos ir por aí, sim”, diz o chef. “Traio a tradição gastronómica, porque junto carne com peixe, molhos portugueses com sabores estrangeiros. No fundo, é um festival de comida. Quero proporcionar uma boa viagem gastronómica ao cliente e dar-lhe algo que ele não encontre noutros restaurantes.” Essa “traição” perpassa muitos dos pratos desenhados por Diogo Coimbra, que estudou na Escola de Hotelaria e Turismo de Lamego e trabalhou vários anos no portuense Grupo Cafeína, onde conheceu Margarida.
“Grande parte dos nossos pratos tem influências da gastronomia do mundo: principalmente italiana, francesa e oriental”, conta. Um dos exemplos é o agnolotti, uma massa fresca recheada, servida com peixe grelhado e caldo de frango do churrasco. “Com certeza que pode haver pratos parecidos, mas acho que este é 100% meu”, diz o chef. O prato de lula também “joga na traição”. A lula é fumada e salteada no fogo e acompanhada por puré de alga wakame, cogumelos enoki e caldo de porco asiático.
Aqui, também se serve o que o chef chama de “pratos cliché” portugueses, mas sempre com algum twist, como o peixe do dia grelhado com arroz de tomate. O arroz de tomate é fumado e servido com bivalves. “Temos também bacalhau com grão-de-bico, ao qual juntamos pil-pil; já não é 100% português, mas acho que quem for português vai viajar um pouco pela tradicional meia desfeita de bacalhau, mas com a cremosidade do pil-pil.”
Numa das entradas, Diogo elabora uma interpretação muito própria do leitão. “Não conseguimos fazer o leitão à Bairrada, porque aqui é impossível, mas queremos que o molho esteja lá, como está a batata, a salada e uma maçã”, conta.
Nas sugestões vegetarianas, entra-se novamente nos sabores do mundo, como na entrada ballotine de legumes, babaganuche e dashi vegan – França, Síria e Japão no mesmo prato.
“Nas sobremesas, assentamos mais na pastelaria clássica francesa, como são exemplos a tarte de pera ou o mil-folhas”, diz o chef. Complexa é a sobremesa de chocolate, com várias texturas do mesmo: praliné de avelã, terra de chocolate, mousse e chocolate branco caramelizado. O fresco e leve ananás com coco é sugestão vegan nos doces.
Para todos os pratos, das entradas às sobremesas, é sugerido um vinho, criteriosamente selecionado, de várias regiões do país.
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