O Seixo é a lança de Vasco Coelho Santos nas encostas do Douro. Em Tabuaço, com o Pinhão ali à frente, na curva do rio, rumo a nascente. O criador dos portuenses Euskalduna, Semea e Kaigi chegou àquele território rodeado de vinha em parceria com a Quinta do Seixo – Sandeman, cujo centro de visitas e adega dista escassos metros do restaurante.
Regressado de férias no final de janeiro, o Seixo by Vasco Coelho Santos refrescou q.b. a carta, sem se desviar dos preceitos que orientam a cozinha chefiada por Teresa Cruz: alimento de memória, de tradição, sabores essencialmente regionais. Com atenção, hoje em dia inevitável, à sazonalidade das matérias-primas e à sustentabilidade do seu uso. E se o peixe e o pão de massa mãe são trazidos da Invicta (da Peixaria e da Ogi, respetivamente, mais dois estabelecimentos do Grupo Euskalduna), as carnes têm a mais local, recomendável e inevitável das proveniências: o talho Qualifer, a um passo da estação ferroviária do Pinhão, um singular santuário do fumeiro (e não só) cuja reputação e clientela e muito extravasam estes montes e vales.
Numa sala ampla e não sobrecarregada de mesas, de teto inclinado, calorosa e em tons claros, onde o forno a lenha tem papel de estrela, é possível explorar-se uma carta generosa nas entradas partilháveis e sucinta no que se lhes segue. No primeiro passo (quer dizer, no segundo, passado o pão exemplar e o azeite intenso da Casa Ferreirinha), pode-se aderir à “Abóbora e queijo”, de uma aparente simplicidade de processos e de elenco mas com um resultado eloquente: há pão e amêndoas torrados, testemunhas do casamento feliz da abóbora Hokkaido com queijo São Jorge (e, de raspão, tomilho). Se se optar por ligação direta à carne, eis a “Cabeça de xara”: a proteína desfaz-se ao toque, a couve passou pela brasa e é um primor, sente-se o contraponto dos pickles de cebola e da pera, esta vinda da própria Quinta do Seixo.
Nos pratos de peixe, e além do “Bacalhau à Zé do Pipo”, presença duradoura na carta, a aposta da estação vai para o rodovalho na brasa, preparado sem invenções e servido com batata e brócolos e limão também na brasa, tudo aconchegado em manteiga fumada, ervas e alho. É comida que não complica, um mantra que se estende aos pratos de carne, onde se experimenta a “Vitela e arroz de forno a lenha” – uniformemente tostado, o cereal faz de cama à vitela, cozida toda a noite, e sobre ele também há couve lombarda e tomate (belo toque ácido) assados.
A generosa carta de vinhos, é bom de ver, aposta boa parte das fichas no Douro, mais um punhado diverso de incursões pelas Beiras, Bairrada, Dão, Alentejo, Lisboa, Verdes e Rosé. Bebeu- se o tinto Casa Ferreirinha Vinha Grande 2020, adaptável à variedade de pratos.
As sobremesas, no Seixo, também olham para a tradição, com judiciosas e subtis atualizações. O leite-creme, suave, tem o contributo do alecrim. A torta de chocolate, com mousse, flor de sal e geleia de melancia e ameixa, consegue ser fresca e gulosa. O “Pão de ló e queijo de cabra” chega na (pequena) dose certa. O Porto Sandeman 40 Anos, servido a baixa temperatura, ampara a digestão, remetendo diretamente para a infinda paisagem verde que está para lá das portadas do restaurante, bem como para a casa das máquinas da Quinta do Seixo contígua, onde vinho assim dá os primeiros passos, antes de seguir para os armazéns em Vila Nova de Gaia para que o tempo lhe complete o corpo.
Seixo by Vasco Coelho Santos
Quinta do Seixo, Valença do Douro, Tabuaço
Tel. 937 021 206
Das 12h30 às 15h30. Não encerra
Preço médio: 50 euros (entrada, prato e sobremesa)
Quinta do Seixo
Tel. 937 850 312
Visitas das 10h30 às 18h30 (última visita 17h45). Não encerra
Preço: 23 euros (50 minutos)