Crítica de restaurante: O Gaveto, em Matosinhos

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Fotografia: Pedro Granadeiro/GI
O Gaveto, em Matosinhos, reabriu há uns meses e é de visita obrigatória. Dá gosto ver como o gosto permanece o aspecto mais importante desta casa matricial, onde vinho, comida e história constroem todos os dias uma nova tradição.

Tremo sempre que um restaurante tradicional fecha para obras, mesmo quando é financeiramente sólido e estável. O equilíbrio entre os dias andados e o inteiramente novo é muito difícil de conseguir e a história tem vindo infelizmente a prová-lo. O Gaveto, em Matosinhos, abriu as portas em 1984 com a mão segura de Humberto Alonso na cozinha, que ainda hoje está ao lado do grande empresário e anfitrião Manuel Pinheiro, e depressa criou hábitos entre os amantes da boa mesa, no Porto e não só. Visito a casa nos momentos mais dados ao pendor carismático do peixe e marisco desde o início dos anos 90 e nunca dei por uma quebra que fosse na qualidade do produto servido.

Nos seis meses que estiveram em obras, entre o Verão do ano passado e Janeiro deste ano, apesar de ter acompanhado a evolução graças aos relatórios quase diários de João Carlos, filho do fundador, respirei de alívio quando reabriu. Está melhor, com um balcão que dá gosto e apetece, uma atmosfera leve, aquários de estágio do marisco imponentes, mostruário feliz do pescado disponível no dia e uma sala no piso superior com uma bonita e grande garrafeira que divide o espaço em dois. A sala de sempre mantém-se como sempre, coreografia impecável dos empregados profundos conhecedores da oferta e da clientela, acolhimento notável para os notáveis que diariamente passam pelas suas mesas do poder, espaço genuinamente familiar ao Domingo, crianças e pais de todas as idades a merecer tanta ou mais atenção. Maravilha.

Agora que a amêijoa vem bem cheia, sai um bulhão pato (22,5 euros) de antologia, a provar que a cozinha simples é só para mestres como o chef Alonso. Trezentos gramas de percebes (13,5 euros) chegam para matar saudades do mar, não tarda hão-de vir mais vigorosos, 150 gramas de camarãozinho da costa (14,25 euros) e estão feitas as contas com o destino, já nos salvámos. Torradas com manteiga ao lado, um bom branco servido e começa a empreitada. Em boa hora decidiu Manuel Pinheiro passar os comandos desta nave espacial para os filhos João Carlos, já mencionado e José Manuel, também ele oficiante na sala, dá gosto vê-lo por ali feliz de mesa em mesa, e nós todos, felizes por vê-lo assim feliz.
São incontornáveis os arrozes e as açordas e dão bem para duas pessoas. O arroz de marisco (39,5 euros), carolino de polpa imaculada, é um regalo, o de lagosta (62,5 euros) quintessencial. A açorda de lavagante (59,5 euros) merece conferência. Nos dias em que a cascaria apeteça menos, gloriosos os filetes de pescada com salada russa que aqui se preparam, e quando há, raramente escapa o rodovalho grelhado (55 euros/kg). E ir ao Gaveto com o sentido da carne não é pecado, é desejo facilmente realizável e mais que justificado.

O prato campeão de sábado que são as tripas à moda do Porto (17,5 euros) pedem que se peça, o bife de boi à Gaveto (17,75 euros) é viagem no tempo e os lombinhos de vitela com ervilhas (15,75 euros) delícia para as mesas com os mais novos. Nas doces terminações, a dupla tentação do pão de ló de Ovar (4,75 euros) e da tarte de amêndoa (3,95 euros). Todo o momento é feliz no Gaveto.

Classificação
O espaço: 4,5
O serviço: 4,5
A comida: 5

A refeição ideal
Ostras ao natural (25 euros/kg)
Amêijoas à Bulhão Pato (22,5 euros)
Caldo verde (2,5 euros)
Arroz de lagosta (62,5 euros, 2 pessoas)
Entrecosto de boi à maitre d’Hotel (45 euros/kg)
Pão de ló com Porto Niepoort 10 anos (8,25 euros)

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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