Crítica de Fernando Melo: Laranja Tigre, em Lisboa

O Laranja Tigre tem pratos goeses para todos os gostos. (Fotografia: DR)
Fica no enclave entre o Largo de Camões e a Rua D. Pedro V o Bairro Alto e veste a mais cosmopolita das colinas de Lisboa. Alberga joias restaurativas de múltiplas influências e a surpresa ainda é garantida no vaguear cima a baixo. O Laranja Tigre cumpre o desígnio e oferece o refúgio certo para os amantes do exotismo à mesa numa proposta vanguardista e ousada da cozinha goesa.

Por esta porta entrava-se outrora no Calcutá, ponto de romagem dos apreciadores de sabores e texturas da Índia. Teve os seus tempos de fama e declínio e Afonso Melo decidiu assumir o espaço para lhe dar nova vida. A paixão por Goa (de que é visitante regular) e o culto da tertúlia fizeram-no dar o passo em frente. Jornalista desportivo, fez um longo périplo a acompanhar a seleção nacional de futebol, pelo que o espaço de que falamos é inclusivo e muito frequentado. Não raras vezes, encontramo-lo a escrever tranquilamente numa das mesas do restaurante que classifica de nova cozinha goesa, para no período das refeições se entregar à tarefa de anfitrião. Manzoor e Ashock na cozinha, Raquel e Nilesh na coordenação do serviço de sala, corre tudo de forma fluida.

Aceito o cocktail que me propõem até porque tem o nome sugestivo de Goan Moon (8 euros) e é de criação própria, a partir de vodka, ginger beer, coco e sal. Ligeiro sabor a coco, servido bem fresco, coloca-me no registo certo para a empreitada telúrica que adivinho sempre que me estreio num restaurante de cozinha exótica. Ataco fervorosamente cajus com malagueta (3,50 euros) que reagem bem à bebida, e pakoras de camarão e Bulhão Pato (6 euros), entrada prazerosa e intrigante, casamento divertido da técnica de inspiração portuguesa com sabores de Goa. As chamuças de garoupa (5 euros) e de leitão (5 euros) têm receita feliz e concretização quase feliz, algum descuido na fritura a reter gordura, o sabor está bem. Deliciosos são também os bojés de grão (5 euros) e as chamuças (5 euros), que podem ser de leitão ou garoupa. Boa surpresa as lulinhas fritas com caril goês (10 euros), cozedura perfeita e boa afinação de temperos. Já se vê o trunfo petisqueiro que a casa joga com os passantes, viagem irrecusável.

Entro com verve e élan nos pratos principais, com a ideia fixa do sarapatel (14 euros), e é o céu. Seleção irrepreensível de fressuras, fígado e caldo, integração sublime de sabores a proporcionar a ponte Portalegre-Goa que sempre prefigura. Outro prato que me atraiu foi o ambotic de tamboril (16 euros), a declinação mais frequente é com cação mas para tudo há sempre a primeira vez. Golpe de vinagre bem dado, picante no bom ponto, excelente para a prática vínica. Prodigioso nas texturas apresenta-se o Xec-Xec de caranguejo de casca mole (18 euros), outra surpresa boa, a pedir tinto encorpado. Assim como o canónico vindalho de cachaço de porco ibérico (15 euros), delicioso a ponto de quase pedir para repetir, não fora a tarefa já quase com o freio nos dentes. Faz-se aqui também um maravilhoso pica-pau de novilho açoreano à cafreal (16 euros), imperdível sobretudo pela tenrura da carne. No capítulo doceiro claro que há excelente bebinca (5 euros), e quando voltar, em breve, vou investir na mousse de chocolate com manga desidratada (6 euros), e mesmo assim depois de comer metade do mundo senti-me bem e a digestão foi imaculada. Para repetir muitas vezes, portanto!

(Fotografia: DR)


A refeição ideal
Chamuças de garoupa (5 euros)
Salada de cebola roxa e lima (6 euros)
Bojés de grão (5 euros)
Xec-Xec de caranguejo de casca mole (18 euros)
Sarapatel (14 euros)
Bebinca (5 euros)


Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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