Ao restaurante Coma, o crítico responde: «Como sim»

Rui Torres acertou em cheio na fórmula. Carta eclética, todos os pratos são estrela, consistência de oferta e bom produto. A baixa do Porto tem no Coma um templo cosmopolita onde só se entra, nunca se sai.

Se um dia tivesse um restaurante como o fazia? Faço muitas vezes o exercício, de mim para mim, e a premissa mais importante acaba por ser de fazer um restaurante que ainda não exista; os outros já aí estão, não faz sentido copiar. Entrei no Coma e num par de horas adotei-o com a ideia de ser aquele o modelo ganhador.

A ideia de pertencer, a fluidez dos passos de todos, e curiosamente o oposto do que eu preconizara; familiaridade é a palavra que melhor resume a experiência do primeiro contacto com a brilhante casa que em boa hora Rui Torres decidiu montar. Gosta-se de tudo na primeira leitura da carta e pede-se duas ou três entradas ao mesmo tempo que se jura voltar para provar as outras. Moelas à portuguesa (5 euros) é uma armadilha psicológica para qualquer português e aqui têm aquele gostinho do que sabe bem, petisco de tasca que puxa o sorriso a todos à mesa. Logo a seguir, a provocação a que se cede, o crepe de alheira e chèvre (5 euros), tão inesperada quanto saborosa. E os inefáveis ovos rotos (7 euros), importação ibérica que soubemos absorver mesmo assim sem nos subjugarmos à tirania da barra. O negócio da refeição tem para nós na mesa a expressão natural, enquanto no país vizinho pode durar horas em pé junto do balcão.

A toada mediterrânea surge reforçada com as muitas evocações italianas, a que nem a pizza falta. Está bem a pepperoni (14 euros), leia-se salame picante ou chourição, ao fim e ao cabo a diavola. A parma (15 euros), com presunto fresco é bárbara com um bom vinho, um dos muitos que há na apetrechada garrafeira. O peixe não aparece antes da carne na carta, tudo está disposto com num mapa do tesouro, digo eu para que cada um explore no sentido do que a gula lhe pede. A bochecha a baixa temperatura (20 euros) é mesmo estufada da forma mais tradicional, o que a faz ter uma suculência sustentada na decomposição lenta da gordura entremeada, configurando delícia. O magret de pato (18 euros) merece afinação, sobretudo contenção no ponto da carne que se quer no limiar do cru. O atum selado (18 euros) segue a forma canónica e apresenta a textura certa e sápida que se impõe. Há filetes de polvo (18 euros) e bacalhau dourado (18 euros) ambos de perfil clássico que satisfaz mais que bem.

Venha, sente-se e coma, que no Coma a ordem é para ficar. E que bem se fica.

Classificação
O espaço: 4,5
O serviço: 4
A comida: 4

A refeição ideal
Moelas à portuguesa (5 euros)
Ovos rotos (7 euros)
Risotto de camarão (16 euros)
Bochecha a baixa temperatura (20 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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