São João: algumas histórias da festa

(Fotografia: André Rolo / Global Imagens)
O feriado que foi escolhido por voto popular, a fábrica de onde saíram os primeiros martelinhos, as quadras do JN e a origem da fogueira. Conheça algumas histórias ligadas ao São João.

FERIADO ESCOLHIDO PELO POVO

Porquê o feriado a 24 de junho? No S. João, a Invicta descansa porque assim o determinou a vontade popular, expressa em fevereiro de 1911 pelos leitores do Jornal de Notícias, chamados a pronunciar-se sobre a lei da República que instituía os feriados municipais. O mais curioso foi que os portuenses escolheram de forma expressiva dedicar-lhes o dia 24 de junho, sem qualquer sugestão prévia. Dos 11 639 votos recebidos pelo JN, 6565 eram pelo S. João, seguindo-se 3076 pelo 1 de maio (dia do Trabalhador) e 1975 pelo 8 de dezembro (dia da Senhora da Conceição, padroeira de Portugal). O título do jornal, ao anunciar os resultados, era bem explícito: “Ganhou a pândega com 6565 votos; o trabalho teve 3076 votos; a fé ficou-se pelos 1975 votos”.

DO FOGO PAGÃO À FESTA DO BATISTA

É no cronista Fernão Lopes que encontramos a mais antiga referência histórica ao S. João do Porto, embora a festa venha de mais longe, com as fogueiras como elementos mais antigos – simbolizando a retenção do Sol, na altura do ano em que os dias começam a diminuir. Fernão Lopes fala dela já depois de, algures na Idade Média uma lenda ter promovido a cristianização do festejo, determinando o dia 24 de junho para honrar S. João Batista (seis meses antes do Natal, contas feitas em função do tempo de gestação de Isabel, mãe de João, em relação à Anunciação a Maria, mãe de Jesus). Assim surgiu a narrativa de que Isabel combinara com Maria que, ao sentir que se aproximava a hora de dar à luz, acenderia uma fogueira no alto de um monte, para avisar a prima. E o fogo assim uniu tudo.

QUADRAS SÃO MAIS ANTIGO CONCURSO NA IMPRENSA

Sem interrupções, o Jornal de Notícias leva a cabo, desde 1929, o Concurso das Quadras de S. João. “Andava esquecido, para não dizer perdido, entre rimas grosseiras e banais, descoloridas e desgraciosas, o velho e tradicionalíssimo cancioneiro são-joanino”, escreveu então Álvaro Machado, jornalista do diário portuense (também poeta e dramaturgo) responsável pelo lançamento de uma iniciativa que nunca deixou de mobilizar os leitores. Germano Silva, jornalista e historiador do Porto, tem sido, nos últimos anos, o grande dinamizador do concurso.

GLOBALIZAÇÃO MATA MARTELOS

Nada resiste aos novos tempos, nem a fábrica Estrela do Paraíso, de Rio Tinto, Gondomar, onde Manuel António Boaventura criou os martelinhos de S. João, pensados para serem apenas mais um brinquedo e rapidamente transformados em ícone da noite mais popular do Porto. A pequena indústria produziu os martelos durante 51 anos e faliu, incapaz de resistir ao “made in China”. Um êxito nascido do acaso, depois da Queima das Fitas de 1963 ter sido o primeiro sucesso das marteladas que logo transitaram para o S. João no mês seguinte. Ainda nos anos 60, a Câmara quis bani-los, por não serem tradicionais, mas a vontade popular falou mais alto.




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