Vale do Tua: Um património para descobrir a caminhar

Miradouro do Ujo (Fotografia: Eduardo Pinto)
O slogan adotado pelo Parque Natural Regional reflete o amor à terra, às origens, à história e à tradição, ao património natural e edificado, e aos produtos locais. Os cinco concelhos que o formam têm muito em comum, mas também particularidades que vale a pena descobrir.

O vale do Tua assume-se já como um caso sério de popularidade no contexto da oferta turística de Trás-os-Montes e Alto Douro. E até tem slogan: “O destino do amor”. Não por um qualquer evento do passado que o tenha marcado. Apenas fruto do que se pensa ser o enamoramento das gentes pela região, assim resumido pelo diretor do Parque Natural Regional do Vale do Tua, Artur Cascarejo: “Quem cá vive ama o Tua, quem cá vem apaixona-se também”.

Dois dos vários miradouros sobre a paisagem, em boa parte selvagem, têm sido, ultimamente, responsáveis pelo corrupio de milhares de turistas. Mas quem entra no vale procura também natureza, percursos pedestres, gastronomia, vinhos e património histórico, que é o que não falta nos concelhos de Alijó e Murça (distrito de Vila Real), e de Carrazeda de Ansiães, Vila Flor e Mirandela (Distrito de Bragança).

Percursos pedestres do Vale do Tua (Fotografia: Eduardo Pinto)

 

É possível começar a descoberta do parque aleatoriamente por qualquer um deles e depois avançar para os outros. É recomendado que se inicie a visita pelas chamadas “portas de entrada”, onde se explica tudo o que é possível ver e fazer no vale e, em particular, no concelho que a abre. Depois é só seguir as indicações que são coisa que não falta.

A cada porta corresponde um dos cinco sentidos. Quem visita é convidado a usá-los todos, de forma integral, para que absorva todo o parque, parcela a parcela. É que, de acordo com Artur Cascarejo, “o todo é maior e mais pujante do que uma simples soma de porções isoladas”. Daí a ideia de “guarda-chuva” tantas vezes defendida e que acolhe e harmoniza as particularidades de cada porta, que gere as diferenças e que alimenta a vontade de as conhecer.

Ao entrar, por exemplo, pela porta de Foz-Tua (Carrazeda de Ansiães), instalada num antigo armazém da estação ferroviária, fica logo com uma ideia de onde deve ir, assim como o que comer e onde ficar no concelho. Do outro lado da linha ferroviária do Douro, noutro velho armazém recuperado, está o Centro Interpretativo do Vale do Tua, onde o guia José Luís Carvalho introduz uma “viagem” pela dimensão cultural e humana dos cinco concelhos, pela história da linha de comboio e da construção da barragem que alterou completamente a fisionomia do vale.

 

É também na porta de entrada que começa o mais recente dos 12 percursos pedestres do parque. É o mais urbano e curto de todos (3,5 km). É de ida e volta à barragem para apreciar o paredão e a central desenhada pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura. Pelo meio percorrem-se passadiços em madeira sobre o rio Douro, as travessas do que resta da antiga linha ferroviária do Tua e a Wine House Casa dos Cantoneiros. Nesta estrutura, que outrora serviu para albergar quem tratava da limpeza das estradas, gerida pela Câmara de Carrazeda, é possível comprar vinhos a preço de produtor.

Imponência das rochas
Depois, serpenteando entre socalcos vinhateiros que são Património Mundial da Unesco, sobe-se ao planalto de Carrazeda para descobrir a antiga vila amuralhada de Ansiães que ainda conserva muitas das suas caraterísticas originais e, sobretudo, a Igreja de São Salvador, monumento nacional. Mas antes de lá chegar é obrigatória uma visita ao afamado miradouro “Olhos do Tua”, obra do escultor carrazedense Paulo Moura, que também assina o de São Lourenço em Pombal de Ansiães.

Miradouro “Olhos do Tua” (Fotografia: Eduardo Pinto)

 

Do outro lado do rio, no concelho de Alijó, São Mamede de Ribatua é a terra da laranja e é lá que tem a indicação para, a caminho de Safres, descobrir o Miradouro do Ujo, assinado por Henrique Pinto e Filipe Calisto, e que tem servido de cenário para milhares de fotografias. É outra das joias da coroa do parque natural. No jardim das laranjeiras começa o percurso pedestre das Fragas Más, um dos do concelho. O nome pode assustar, mas, na verdade, é de onde se observa bem a imponência das formações rochosas, de um lado e outro do rio, que mais se assemelham a escorregas gigantes em direção à água.

 

Da terra da laranja à terra do pão e vinho moscatel, Favaios, é um saltinho e nos arredores da vila aguarda Luís Barros, que gere a Enoteca da Quinta da Avessada. A verdade é que o Luís, só por si, já vale a visita. Para além do sorriso permanente, há que contar com a paixão que coloca em cada palavra, em cada gesto, em cada expressão, para explicar o processo de produção do vinho em geral e, em particular, do moscatel.

Claro que, indo a Favaios, é obrigatório visitar o Museu do Pão e Vinho. O coordenador, Mário Pinto, sabe como ninguém a lição e numa linguagem objetiva e acolhedora desembrulha a história da produção daqueles dois ex-líbris. No fim, comer bola de carne e beber um moscatel é absolutamente obrigatório.

 

E a sobremesa? Bem, por isso é que o vale do Tua é tão rico e diversificado. No concelho ao lado, Murça, fazem um toucinho-do-céu e umas queijadas únicas, de lamber os dedos e chorar por mais. O difícil é parar! E para encontrar estas iguarias nem precisa de sair do centro histórico onde impera a famosa Porca de Murça, símbolo desde concelho rico em vinho e azeite, onde viveu o simples e humilde soldado Aníbal Milhais, que se se tornou o Herói Milhões depois de combater com bravura e salvar centenas de vidas na Batalha de La Lys, na região da Flandres, durante a I Guerra Mundial.

A casa do herói, em Valongo de Milhais, vai ser recuperada para museu e há de ser mais um atrativo do concelho com oito séculos de história, a juntar ao Castro de Palheiros e aos vários percursos pedestres que possui. Para saber, ver e cheirar outras características de Murça, o melhor é ir até à porta de entrada no vale do Tua, no parque urbano.

Mirandela já não fica longe e é a caminho da cidade do Tua, atravessando uma zona planáltica que o guia Domingos Pires, da Naturthoughts-Turismo de Natureza, lembra que a Serra dos Passos é, afinal, a Serra de Santa Comba, mas que poucas pessoas a tratar assim. Designações à parte, tem o interesse de ter lá uns painéis com pinturas antigas, mas que “só devem ser visitadas na companhia de um guia”. Primeiro, para as perceber melhor; segundo, porque o local é de difícil acesso e “ir lá por conta e risco pode ser complicado”.

Mirandela é concelho de bom azeite. Há restaurantes com cartas para o poder escolher e há um museu que lhe é dedicado, bem como à mãe oliveira. É possível conhecer todo o processo de fabrico e ver a réplica de um lagar onde se extrai da azeitona este ouro líquido. É o local indicado para ficar a saber muitas das utilizações: gastronomia, indústria farmacêutica, iluminação, aquecimento, cosmética e indústria conserveira. Quase obrigatório é provar uma sopa seca no restaurante Maria Rita, na aldeia de Romeu.

Vila Flor não fica para o fim por mor da ordem alfabética. Fica porque antes do fim de mais uma jornada, é imperioso ir assistir ao pôr do sol num dos mais imponentes templos marianos de Trás-os-Montes – o santuário de Nossa Senhora da Assunção, em Vilas Boas. É local indispensável para muitos romeiros no dia 15 de agosto e agora já com centro de acolhimento e outras comodidades.

É neste concelho que fica o percurso pedestre mais longo, com 22 quilómetros de extensão e passagem por outro monumento importante – a forca de Freixiel. Começa e acaba junto à estação de Abreiro, que tem o nome da aldeia de Mirandela na outra margem do rio Tua, mas, na verdade, fica na margem do Vieiro, terra natal da pintora Graça Morais, que há de ter no futuro um espaço de artes com o seu nome no meio da sede de concelho.

Mas isto é só uma amostra de tudo o que pode fazer nos cinco concelhos do Parque Natural Regional do Vale do Tua, único no país com as suas características. Para saber tudo em detalhe é melhor visitar o site na Internet em www.parque.valetua.pt.

PERCURSOS PEDESTRES
O Parque Natural Regional do Vale do Tua dispõe de 12 e todos circulares. Ou seja, terminam no ponto de partida. O mais pequeno acaba de ser inaugurado em Foz-Tua, Carrazeda de Ansiães, com 3,5 quilómetros. O mais longo é o de Vieiro-Freixiel, em Vila Flor, com 22 quilómetros.

EVASÕES RECOMENDA

FICAR
O CASARIO
Lugar de Eixes
Estrada Nacional 213, nº 111
Mirandela
Tel.: 935 200 048
Web: ocasario.pt
Preços: a partir de 65 euros/noite para quartos individuais e 90 euros/noite para quartos duplos.

COMER
RESTAURANTE MARIA RITA
Largo Capela, Romeu, Mirandela
Web: quintadoromeu.com
Tel.: 278 939 134 e 918 289 811
Horários: 12-15h. e 19-22h. Fecha domingo ao jantar e segunda-feira todo o dia.
Preço: 20 euros

POUSADA BARÃO DE FORRESTER
Rua Comendador José Rufino
Alijó
Tel.: 259 959 467
Web: pousadas.pt
Horários: aberto só ao jantar (ao almoço por marcação)
Preço: 20 euros

TUA MERCEARIA
Bar de petiscos em frente à estação de Foz-Tua
Carrazeda de Ansiães
Tel.: 968 590 982
Web: facebook.com/tuamercearia/
Horários: das 16h às 23h nos dias úteis. E das 11h às 23h, fins de semana e feriados.
Preço: 10 euros

HOLMINHOS WINEHOUSE
Rua Principal nº142
Seixo de Manhoses, Vila Flor
Tel.: 916 187 690 e 278 094 379
Web: facebook.com/Holminhos
Horários: só por marcação e com grupos
Preço: 15 euros




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend