Serra de Aire: natureza e história nas encostas de maciço calcário

Serra de Aire: natureza e história nas encostas de maciço calcário
Passear pela Serra de Aire, popular pelas grutas e encostas de maciço calcário, é viajar pelas suas tradições. Dos pratos que se servem à mesa, a museus em locais históricos e ofícios artesanais salvos da extinção.

É conhecida por ter uma forte concentração de blocos de maciço calcário, mas as encostas da Serra de Aire também se vestem de outras cores, aromas e texturas. Neste verdadeiro postal de natureza da região Centro, caminha-se por largos campos de alecrim, de mentas selvagens e de três dezenas de orquídeas diferentes. O passeio também se faz por entre oliveiras, carvalhos, medronheiros e loureiros a perder de vista. Com sossego e desapego mental da cidade, como bem pede uma serra como esta, onde se insere o Parque Natural das Serras de Aire e de Candeeiros.

Quer se viaje por trilhos pedestres, percursos de bicicleta, ou de carro, conhecer a Serra de Aire é ter a garantia de que se vai dar de caras com cenários que ficam na memória, e que espreitam por trás de uma montanha ou encosta. É o caso da Fórnea, um principais postais desta zona. Trata-se de uma formação geológica que se assemelha a um anfiteatro natural, junto à aldeia de Chão das Pias. Em algumas alturas do ano, é possível ver uma cascata a correr por aqui.

Nesta serra, onde nascem dois rios, o Almonda e o Lena, não há como escapar às suas famosas grutas, que acolhem turistas de norte a sul, e do estrangeiro, para viverem uma experiência diferente. As Grutas de Mira de Aire podem ser as mais conhecidas, mas há outras: dos Moinhos Velhos, da Moeda, da Nascente do Almonda, e a de Alvados. Basta escolher e seguir viagem. Pelo caminho, vários são os pontos de interesse se os planos passarem pelos verbos comer, dormir, beber e visitar.

Há muito para descobrir na Serra de Aire. (Fotografia: Leonardo Negrão/GI)

Onde comer
Cova da Velha
Os assados no forno são um dos pilares desta casa, que é sinónimo de bem receber há 20 anos, na aldeia de Alcaria. Aposta-se em proteínas como borrego, vitela, porco preto e javali, mas é o cabrito no forno o best-seller do restaurante de João Ribeiro, que nasceu aqui. «São as ervas frescas da nossa serra, como o tojo e o alecrim, que fazem a diferença», conta. A mulher, Mafalda, é a responsável pelas sobremesas, como é o caso do pudim de pão com gelado de caramelo, feito com pão caseiro da aldeia. O ambiente é acolhedor, com janelas com vista para a serra, e as mesas são espaçadas ente si, para criar intimidade. A casa está sempre bem composta, consequência do bom nome que ganhou na zona, com o tempo.

O restaurante Cova da Velha, em Alcaria. (Fotografias: Leonardo Negrão/GI)

As carnes de caça e os assados no forno dominam a carta deste restaurante tradicional. (Fotografias: Leonardo Negrão/GI)

Dom Abade
Não há quem não conheça este restaurante, se passar habitualmente pelo IC2, em Santeira. Tem a porta aberta há 40 anos e já chegou a receber, num só dia, 60 autocarros cheios. A morcela de arroz, um dos produtos mais representativos desta região, prova-se no Dom Abade, produzida localmente. «A versão normal é servida com migas, mas aqui fazemos de forma diferente, com abacaxi grelhado», conta Célia Volante, uma das responsáveis. Na carta, não faltam clássicos como um polvo à lagareiro, que se come também num risoto e confitado. O bacalhau na grelha, com migas e batata, e a chanfana, também importa provar. A sobremesa que junta leita creme e maçã de Alcobaça confitada pisca o olho à economia local, bem como nas referências vínicas e nos frescos da região. Uma dica fundamental: vá com fome. As doses aqui são generosas.

O bacalhau em destaque na carta do restaurante Dom Abade. (Fotografia: Leonardo Negrão/GI)

 

Onde dormir
Cooking and Nature – Emotional Hotel
Cada um dos 12 quartos reflete uma emoção e está ligado a um filme. Saudade, curiosidade, alegria, simplicidade, luxúria, aventura. Da varanda, avista-se quer a piscina exterior, rodeada de oliveiras, quer a zona de redes de descanso. Mas de todos se vislumbra a serra. Há sete anos que o Cooking and Nature – Emotional Hotel, situado na aldeia de Alvados, incorpora o que de melhor estas encostas têm para oferecer. Seja na cozinha do restaurante, onde se pode escolher à carta ou optar por uma lição de cozinha, onde cada um come o que preparou, ao lado de um especialista. Seja nos passeios de bicicleta e pedestres que este sossegado turismo de natureza organiza. Nas salas comuns, apela-se à calma, com máquinas de escrever antigas, sofás com motivos florais e uma árvore onde cada pessoa pode colocar uma mensagem.

Cooking and Nature – Emotional Hotel, em Alvados. (Fotografias: Leonardo Negrão/GI)

 

O que visitar
Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota (CIBA)
Em São Jorge, há cerca de uma década que se consegue viajar no tempo. Um antigo museu militar que existia neste descampado foi transformado no Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, em homenagem e memória da batalha entre o Reino de Portugal e Castela, que se defrontaram neste espaço, no pico do verão de 1385. Há painéis informativos, réplicas de armas usadas neste dia e ossadas encontradas em escavações, na década de 1950. Além disso, uma das suas mais-valias é a projeção de um filme com atores portugueses, que conta como tudo se passou, dentro de um anfiteatro interativo onde elementos do palco se movem. O bar e restaurante recriam petiscos da era medieval e o mesmo acontece com o jardim em redor do centro interpretativo, com as plantas e árvores que existiam em 1385, como urzes, bétulas, amieiros e gramíneas.

Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro
Na pequena vila de Minde, abraça-se o legado cultural de forma apertada. A ajudar nesta missão está o Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro, que conta com nove pólos, dedicados a áreas como a dança, restauro de móveis, música e não só. O Museu de Aguarela Roque Gameiro, não só é uma homenagem ao artista que aqui nasceu – expondo centenas das suas obras -, como é o único museu português dedicado à aguarela. Além disso, este centro é o responsável pelo ressurgimento do fabrico das famosas mantas de Minde, que estavam em desuso desde os anos 1970. Hoje, o ateliê e loja destas mantas permite comprar peças feitas artesanalmente como ver, ao vivo, tecelãs a manusearem os teares. Só se usa lã 100% pura e portuguesa e o tempo de produção varia, consoante o tamanho, podendo levar um mês a completar uma manta.

A recuperação do fabrico das mantas de Minde. (Fotografias: Leonardo Negrão/GI)

Restaurante Cova da Velha
Rua António dos Santos Major, 1 (Alcaria)
Tel.: 244482052
Web: facebook.com/restaurante.covadavelha
Das 12h00 às 15h00 e das 19h00 às 22h00. Encerra segunda.
Preço médio: 15 euros

Restaurante Dom Abade
IC2, km 106, Santeira (Porto de Mós)
GPS: 39.6138, -8.8579
Tel.: 244470147
Web: dom-abade.com
Das 12h00 às 15h00 e das 19h00 às 23h00. Encerra quarta.
Preço médio: 17 euros.

Cooking and Nature – Emotional Hotel
Rua Asseguia das Lages, 181, Alvados
Tel.: 244447000
Web: cookinghotel.com
Preço: quartos duplos desde 135 euros com pequeno-almoço. Jantar com lição de cozinha: 32 euros, sem bebidas.

Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota
Avenida Dom Nuno Álvares Pereira, 120, São Jorge
Tel.: 244480060
Web: fundacao-aljubarrota.pt
Das 10h00 às 17h30. Encerram segunda.
Preço: bilhete normal a sete euros.

Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro
Largo Justino Guedes, 2, Minde
Tel.: 249841292
Web: caorg.pt
Das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00. Encerra segunda.
Preço: bilhete de museu a três euros; bilhete de museu + ateliê de tecelagem a cinco euros.

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