Relembrar a terceira invasão francesa: um passeio por Mortágua

(Fotografia de Maria João Gala/GI)
Um centro interpretativo, quatro murais de artistas de várias proveniências e um prato à base de carne de ovelha e vinho, testemunho da criatividade em tempos de escassez de recursos, ajudam a contar um episódio da história do século XIX que deixou marcas profundas no concelho.

Um comprido mural, onde estão pintados vários rostos contra um fundo amarelo, chama a atenção no Vale de Açores, em Mortágua. O trabalho, executado pela artista mortaguense Rute Gonzalez, nos muros do parque de autocaravanismo da localidade, apresenta algumas das principais figuras inglesas que comandaram as tropas anglo-lusas contra o exército napoleónico, como o major-general Robert Craufurd, o tenente-coronel Sydney Beckwith, os soldados portugueses e ingleses, e o povo.

Inaugurado em 2021, este é o mais recente de quatro murais espalhados por Mortágua alusivos à passagem das tropas napoleónicas pelo concelho, aquando da terceira invasão francesa, ordenada por Napoleão Bonaparte. O artista Sérgio Odeith assinou o mural na Avenida Infante D. Henrique, também no Vale dos Açores; Frederico Draw e Rodrigo Contra executaram um trabalho na parede do lado nascente do Centro de Animação Cultural; e o coletivo RUA retratou os vários regimentos e batalhões que compunham a organização dos exércitos, no acesso à povoação do Barril. A localidade foi ponto de passagem e de acampamento das tropas napoleónicas durante a invasão, no seu trajeto em direção à serra do Bussaco, onde viria a ser travada a batalha de 1810.

O Centro de Interpretação “Mortágua na Batalha do Bussaco”. (Fotografias de Maria João Gala/GI)

E é sobre essa passagem por Mortágua que o Centro de Interpretação “Mortágua na Batalha do Bussaco”, inaugurado em 2017, se debruça. O equipamento cultural, com morada na Rua Dr. João Lopes de Morais, foi projetado para ajudar a “compreender a história e a valorizar o território”, explica João Paulo Almeida e Sousa, autor do livro “Andaram por aqui os franceses… A terceira invasão francesa em Mortágua” e impulsionador do centro. Por lá, os visitantes são convidados a explorar informação que está dividida em quatro grandes temas – Guerras Peninsulares, os exércitos em confronto, Batalha do Bussaco e as sequelas da guerra em Mortágua -, apresentados recorrendo a vídeo, texto, som, uma mesa multimédia, réplicas e peças de época. Destacam-se as fardas usadas, algum armamento (caso das espingardas, sabres e projéteis) e um livro de registo de milícias, onde estão os nomes de muitos naturais de Mortágua.

O centro interpretativo nasceu há sete anos.

Partindo-se do centro interpretativo, em menos de cinco minutos a pé se chega à Adega dos Sabores, que apresenta uma especialidade comummente associada à terceira invasão francesa. Apesar de não haver certezas quanto à origem da lampantana – um estufado semelhante à chanfana, mas que faz uso da carne de ovelha em vez da de cabra -, há quem diga que o seu surgimento se deve ao envenenamento estratégico das águas dos rios por parte dos mortaguenses, numa tentativa de expulsar os soldados franceses. Com a água inutilizável, o povo terá começado a cozinhar a carne com vinho.

A cozinha tradicional do restaurante Adega dos Sabores.

É a versão mais ouvida em Mortágua e aquela que convence Juvenal Teixeira, que ao lado de Lídia Santos, sua mulher, gere os destinos do restaurante. Carne de ovelha velha – que se caracteriza pela untuosidade e maciez -, vinho tinto de qualidade, azeite, colorau, salsa, louro, sal e picante são alguns dos segredos que dão corpo a este prato forte, que vai ao forno numa caçoila de barro durante três horas e é servido com batatas com pele e grelos.

A esplanada da Adega dos Sabores.

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