Oliveira de Frades: um roteiro com montanha, rio e alegrias à mesa

O Alto das Pinoucas, na Serra do Caramulo, é o ponto mais elevado do concelho. (Fotografia de Maria João Gala/Global Imagens)
Percursos pedestres que garantem imersão na natureza e uma cozinha de caráter vincado fazem deste roteiro uma festa para os sentidos. Em Oliveira de Frades, tudo canta, tudo conta histórias: as pedras, a floresta, a água corrente.

De Oliveira de Frades esperamos um quadro carregado de verdes e azuis, com as serras em volta, os rios, as florestas com árvores centenárias e líquenes a atestar a qualidade do ar. Assim é. E se a natureza nos dá colo, a cozinha também: faz-se uso dos fornos a lenha e dos saberes ancestrais para pôr na mesa pratos de conforto como frango do campo, cabrito, vitela ou rojões. Mas primeiro deliciamo-nos com o DÓLMEN DE ANTELAS, Monumento Nacional que é alimento para os olhos e para a imaginação. Por algum motivo se lê, numa placa informativa, que “está para a arte pré-histórica como o teto da Capela Sistina está para a arte renascentista italiana”.

O precioso dólmen, que pode ser visto quase na sua origem, encontra-se coberto e fechado, recebendo visitas ao interior por marcação, limitadas a duas pessoas (mais um guia). Entramos curvados, em sinal de respeito, avançamos pelo corredor até aos oito esteios (pedras) que compõem a câmara funerária, com um conjunto de motivos pintados por mão humana, e percebemos, enfim, a sua singularidade. “Estamos no monumento megalítico mais importante de Portugal, da Península Ibérica e da Europa, por causa das pinturas com 6000 anos, a vermelho e preto, que o tornam único”, explica Filipe Soares, técnico do município responsável pelo património arqueológico.

Os motivos pintados há 6000 anos.
(Fotografia de Maria João Gala/Global Imagens)

De volta à luz, seguimos até ao centro histórico para conhecer o MUSEU DAS TÉCNICAS RURAIS – MUSEU MUNICIPAL DE OLIVEIRA DE FRADES. “O objetivo é preservar o passado e divulgá-lo junto das novas gerações e de quem nos visita”, prossegue Filipe Soares, coordenador do espaço, guiando-nos por entre as coleções de objetos arqueológicos e etnográficos. Uma das peças mais curiosas é um veado romano em bronze, ex-voto ou animal sagrado encontrado por alguém que arava a terra. A agricultura também surge representada por utensílios do dia a dia ligados ao cultivo dos campos, bem como à confeção de pão, vinho e azeite.

O veado romano.
(Fotografia de Maria João Gala/Global Imagens)

Ora, é justamente de “cozinha antiga” que trata o RESTAURANTE LUCIANA, nascido há mais de 30 anos, em Casal de Sejães. Entre as especialidades estão o famoso bacalhau à lagareiro com batata assada na cinza e a vitela à moda de Lafões, saída do forno a lenha, como o cabrito. Se a vitela é presença certa ao domingo, o cabrito só está disponível por marcação, assim como o pica no chão (arroz de cabidela), o cozido à portuguesa ou o feijão à lavrador. Para rematar com leite-creme, aletria ou pudim de ovos. Luciana Cardoso Fernandes aprendeu aquelas receitas em família, e em família as prepara até hoje: encontramos o marido, José Gomes Fernandes, diante das churrasqueiras, e o filho, João Marcelo, na sala. Das paredes espreitam fotografias de clientes conhecidos dos palcos e da televisão.

A aletria.
O percurso vai do Alto da montanha às margens do rio.
(Fotografia de Maria João Gala/Global Imagens)


Quedas de água, cabeços e árvores centenárias

Depois de tanta fartura, estamos prontos para caminhar: Oliveira de Frades tem vários percursos pedestres, com diferentes cenários e níveis de dificuldade. Começamos pelo PR1 – ROTA DOS RIOS E LEVADAS, trajeto circular de 11 quilómetros, a iniciar em Santa Cruz, que envolve a ribeira da Lavandeira, o rio Gaia e a ribeira dos Tombos, com poços, quedas de água e muitos declives. Natália Rosa Silva, técnica de turismo do município, que conhece esses caminhos de cor, aponta vestígios de moinhos, levadas e socalcos usados, em tempos, para agricultura de subsistência, carreiros por onde dificilmente se imagina animais a passar. “Em qualquer bocadinho de terra havia uma leira para cultivo, tudo perto dos rios era aproveitado”, conta, dando nova luz aos lugares através de histórias, curiosidades e lendas.

Muito há a dizer, por exemplo, sobre o PR3 – ROTA DOS CABEÇOS, grandes pedras com nomes curiosos, como cabeço da Feiticeira, dos Namorados ou da Peste. Este percurso circular, com pouco mais de 17 quilómetros, leva-nos até à serra do Caramulo. Parte de Varzielas rumo ao Alto das Pinoucas, miradouro natural a 1062 metros de altitude, que é o ponto mais elevado do concelho. Depois, segue para outra aldeia nas alturas, Bezerreira. E acompanha, em parte, o rio Águeda, presenteando-nos com mais moinhos e cabeços, como os da Solheira (aqui, passa-se entre os rochedos).

A Rota dos Cabeços tem como palco a Serra do Caramulo.
(Fotografia de Maria João Gala/Global Imagens)

Não vamos embora sem tomar o gosto, ainda, ao PR4 – ROTA DOS CAMINHOS COM ALMA, trajeto de cerca de dez quilómetros que começa e acaba na aldeia de Covelo. Pelo meio, encontra-se o Dólmen de Arca, Monumento Nacional, e, perto dele, o Carvalhedo da Gândara. Vale a pena apreciar esta que é apresentada como “a maior mancha nacional contínua de carvalho-alvarinho”, uma reserva botânica com perto de nove hectares, árvores centenárias e importância micológica – boas notícias para os entusiastas dos cogumelos selvagens.

O Carvalhedo da Gândara.
(Fotografia de Maria João Gala/Global Imagens)

O Carvalhedo da Gândara é ideal para piqueniques, mas quem quiser aprofundar a relação com a comida regional pode sempre ir até ao restaurante ARPURO, em Covelo de Arca, uma das Aldeias de Portugal. É lá, na antiga casa dos avós, que os irmãos António e Júlio Malafaia servem pratos que fazem parte da tradição local – como os rojões ou o cabrito, este disponível ao domingo e por encomenda -, sem abdicar das opções vegetarianas. Privilegiam os seus produtos e os da terra, nas devidas épocas, e têm uma esplanada animada pela música dos pássaros e da água a correr. O nome do projeto dispensa explicações, ou não estivessémos nos braços do Caramulo.

Os rojões.
(Fotografia de Maria João Gala/Global Imagens)


Capão, massagens e um céu estrelado

De sabores clássicos se alimenta também a clientela d’O SOLAR, em Oliveira de Frades. E não só. “Temos clientes que vêm de longe para comer o capão”, diz António Bastos sobre aquele frango capado que é assado inteiro, a baixa temperatura, com um recheio De broa, moelas, miúdos, enchidos e mais. O prato foi introduzido na ementa já quando ele e a mulher, Otília, conduziam o negócio.

O restaurante abriu em 1986 e em 2010 passou para as mãos do casal, que lhe manteve o nome e “80% da carta” – da vitela ao cabrito, dos filetes de polvo ao bacalhau. Sobrou, pois, espaço para inovações, caso do bife de frango com queijo e pimenta rosa, e até alternativas vegetarianas. Conforto para todos, e com uma garrafeira igualmente diversificada.

Por fim, o descanso, na CASA D’ALDEIA, em Souto de Lafões. Se hoje nos regalamos com o charme dessa casa de campo secular, resgatada das silvas e recuperada segundo a traça original, é graças a Cremilde Alexandre, que se apaixonou por ela há três décadas. Tratou de alindá-la, preservou alguns elementos e peças de outrora, mas também fez questão de ter lá “tudo o que é moderno e bom” – tanto nas suítes como à mesa do pequeno-almoço, com fruta, bolo caseiro e ovos acabados de preparar.

Cremilde (em baixo) resgatou a casa das silvas e fez dela um oásis.
(Fotografias de Maria João Gala/Global Imagens)

A oferta é adaptada às preferências dos clientes, num alojamento que convida a estadias longas e em família. Por reserva, há massagens, reiki, ioga. Muitos hóspedes não saem dali sequer para comer. “Pedem-nos para fazer nem que seja uma sopa, à noite”, diz Cremilde, que foi professora do ensino especial, de cegos, em Lisboa, mas tem bem fortes as raízes transmontanas. Nota-se que está no seu elemento naquela propriedade com jardim, horta, animais, piscina e telescópio para ver as estrelas. O contacto com a natureza é um bálsamo. Tratemos de o saborear.



Novo trilho entre carvalhais e quedas de água

O património natural, edificado e religioso está em evidência no TRILHO DO VOUGA, inaugurado em fevereiro. Trata-se de um percurso linear, com 27 quilómetros e de nível considerado difícil, que pode ser iniciado na Zona de Fruição Ribeirinha de Sejães, tomando como referência o miradouro, ou em Ribeiradio, junto ao Baloiço do Rio. Entre os seus atrativos contam-se carvalhais e quedas de água.

O Baloiço do Rio.
(Fotografia de Maria João Gala/Global Imagens)


Três baloiços e uma mota do amor

Oliveira de Frades tem a sua própria coleção de baloiços panorâmicos: a ROTA DOS BALOIÇOS DE RIBEIRADIO inclui o Baloiço do Rio, com vista para a albufeira da barragem de Ribeiradio, no Vouga; o Baloiço da Serra (do Ladário); e o Baloiço Terra e Mar, junto ao posto de vigia do Ladário. Nas imediações deste último fica a MOTA DO AMOR. O veículo, fixado no cimo de um rochedo, com um coração vermelho, é mais um pretexto para tirar fotografias e desfrutar da paisagem.

A mota do amor.
(Fotografia de Maria João Gala/Global Imagens)

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