Descobrir os tesouros de Penafiel à boleia do São Martinho

O baloiço da Serra da Boneca, em Sebolido. (Fotografia: Rui Oliveira/Global Imagens)
Nos próximos dias, o pretexto é o São Martinho, mas podia ser outro qualquer. A curta distância do Porto, está este território rico em cultura, património, gastronomia e paisagens de vales, montanhas e rios. O postal tradicional está a refrescar-se com novas ideias e abordagens, protagonistas e agenda. Em família, ou numa escapadela a dois, há muito para descobrir neste extenso território do Vale do Sousa.

Manda o provérbio que no São Martinho se vá à adega provar o vinho. Em Penafiel, leva-se o ditado à letra, e por altura da celebração do santo padroeiro da cidade há festa rija, com provas de vinho novo dos produtores da região, mostras de artesanato, música popular, magusto tradicional e o fumo dos assadores de castanhas a encher as ruas. Depois do interregno de 2020, a Feira de São Martinho está de regresso este ano, entre os dias 10 e 21 de novembro. Mas existem motivos de sobra para planear uma visita a este extenso território em qualquer outra altura do ano.

Vai-se pelas paisagens naturais, pelo património histórico, pelos refúgios onde ficar e as casas de bom repasto. O vinho, sabe-se bem, faz parte da identidade cultural da região, encaixada entre o Minho e o Douro, e está intimamente ligado à herança das ordens monásticas e da ocupação romana, como nos mostra o surpreendente ciclo de exposições VER DO BAGO, uma iniciativa da Rota do Românico.

Ver do Bago nos Santos. (Fotografia: Miguel Pereira/GI)

Até janeiro, está patente, na Igreja de Santo António dos Capuchos, a segunda de três exposições sobre a temática do vinho na religião: Ver do Bago nos Santos. A mostra reúne peças de escultura, pintura, relicários e instalações multimédia sobre os santos ligados ao ciclo da vinha: São Tiago, São Vicente e, claro, São Martinho, cuja imagem da Igreja Matriz de Penafiel está ali exposta. Entre a coleção está ainda um conjunto de pinturas a óleo dos Mestres de Ferreirim, do século XVI, que retratam a lenda de São Martinho e a aparição de Cristo ao bom cavaleiro.

O soldado romano, que foi monge e santo, é celebrado fervorosamente ao longo dos dez dias de festa da cidade. Miguel Silva garante que só nesse período vende, em média, 25 mil tortas de São Martinho, na ALVORADA CAKES. A casa histórica que assumiu há cinco anos foi “o primeiro snack bar a abrir na região”, assegura o proprietário e pasteleiro, e ali terão nascido as afamadas tortas. “O segredo está na carne” utilizada no recheio, ainda fiel à receita original. Já a massa foi evoluindo, de uma mistura rija à base de pingo e farinha, para uma massa folhada mais leve e crocante, que quando sai do forno é polvilhada com açúcar e canela, uma combinação agridoce que agrada a muitos apreciadores e faz a curiosidade de outros tantos visitantes.

Entretanto foram surgindo versões mais ligeiras, com recheio de castanha, chocolate, maçã ou chila. E além dos pastéis da época, o pasteleiro também se gaba de ali vender o doce típico do concelho, os bolinhos de amor, pequenos biscoitos redondos e fofos, cobertos de açúcar, que vão muito bem com um chá, quiçá partilhado com a cara-metade.

Foi precisamente a pensar no romance, e numa escapadela a dois, que a CASA DE VALXISTO criou duas novas suítes debruçadas sobre a vinha, na aldeia preservada de Quintandona. São espaçosas e bem apetrechadas para os dias frios, com uma lareira ao lado de uma convidativa banheira, e uma grande parede envidraçada, com vista para o vinhedo e os montes ao redor.

O quadro campestre que se abre da varanda das novas suítes ao final de uma tarde de outono, quando o sol pincela o horizonte de madeixas acobreadas e uma suave neblina cai sobre o vale, impele ao recolhimento. Mas ainda que o aconchego do quarto seja tentador, recomenda-se um passeio pela quinta, para conhecer a ovelha Ranhoca e outros animais que ali vivem, a plantação de mirtilos, de onde sai a matéria-prima para uma deliciosa marmelada servida ao pequeno-almoço, ou até juntar uma massagem à escapadela romântica.

(Casa de Valxisto. Fotografia: Miguel Pereira/GI)

Apetecendo ir mais longe, numa caminhada pela aldeia, numa dessas casas em xisto e lousa recuperadas, encontra-se o conhecido winebar Casa da Viúva, bom poiso para celebrar com petiscos e vinho.

Cerveja artesanal e cozinha criativa

No Largo da Ajuda, um dos epicentros das celebrações de São Martinho, e da vida noturna da cidade, abriu recentemente um “bar de snacks moderno”, onde o vinho dá lugar à cerveja artesanal. A MONJA vai beber à tradição monástica ligada à produção de cerveja, e dá especial destaque às mulheres do clero que estiveram à frente do seu tempo nos mais variados campos.

“Queríamos um espaço moderno e também dar destaque às monjas que ficaram esquecidas. Até o nosso logótipo é uma monja de lábios vermelhos”, realça Ricardo Guimarães, farmacêutico de formação rendido à gestão e ao marketing. Um quadro representativo do episódio do mendigo faz referência ao padroeiro da cidade num recanto junto dos altos sofás vermelhos, que evocam o ambiente informal de uma cervejaria, juntamente com o longo balcão.

Petiscos como o prego e o pica-pau partilham a carta com hambúrgueres artesanais, que casam com uma longa lista de cervejas – mais de 30 – à pressão e em garrafa. Na seleção, há espaço para as clássicas internacionais, como a cerveja trapista Rochefort 10, produzida na Bélgica, ou a double bock alemã Ayinger Celebrator, e marcas nacionais como a Sábado, feita em Marco de Canaveses.

A sandes de joelho de porco desfiado em pão rústico é outra estrela da carta, uma versão mais prática do joelho assado a baixa temperatura, servido com maçã assada, que encontramos no CANTINA IPI, o outro espaço de restauração que Ricardo tem na cidade. Ocupa o rés-do-chão do Instituto Plural de Interior, o atelier de decoração fundado pelos pais, no edifício onde já chegou a funcionar a sede da Cooperativa Agrícola de Penafiel.

O espaço é agora uma espécie de showroom dos projetos de design do IPI. E no Cantina encontra-se o mesmo cuidado de apresentação, numa cozinha contemporânea e inesperada. “Inspirações internacionais e combinações invulgares”, fazem a carta e o menu de almoço, criado conforme os produtos locais disponíveis no dia. Nas sugestões mais ligeiras há wraps, sandes e quesadillas, e nas propostas de conforto sobressai o joelho, o bacalhau cremoso, e o ossobuco com risoto de açafrão. A sangria de espumante, os sumos naturais e os vinhos da região servem de complemento.

Para desmoer o joelho de porco, o hambúrguer ou o prego, recomenda-se um passeio pelo PARQUE DA CIDADE, à sombra de carvalhos e castanheiros, nos trilhos que acompanham os contornos do Rio Cavalum.

Comer e dormir à beira-rio

Quem procura embrenhar-se um pouco mais na paisagem natural da região, pode complementar o passeio com uma caminhada até um dos miradouros do concelho, agraciado por vistas maravilhosas. O do alto do Picoto, em Abragão, a mais de 500 metros de altitude e com um baloiço pitoresco a sobrevoar o vale do rio Tâmega, é uma das opções.

Outro cartão-de-visita incontornável é o miradouro e baloiço da SERRA DA BONECA, já bem conhecida dos amantes da caminhada, trail, BTT e desportos de Natureza, acessíveis através de um trilho pedestre, que exige alguma resistência física. Sempre a subir, chega-se primeiro ao miradouro – para baloiçar lá do alto é necessário um esforço extra -, sobranceiro ao vale do Douro e à zona ribeirinha de Sebolido.

Do cenário fazem parte os edifícios de xisto e lousa do XO DOURO e do DOURWIN, dois alojamentos turísticos vizinhos, que partilham a margem do rio, mas com orientações bem distintas. O primeiro é composto por duas casas, cada uma com dois quartos e cozinha, ideal para acolher famílias ou grupos de amigos, que podem ainda partilhar o espaço exterior, com piscina e churrasqueira, o jacuzzi e o ginásio. “As pessoas vêm para aqui para descansar”, diz Ângela – a família apaixonou-se pelo lugar quando veio passar férias, e hoje gere o espaço -, e o sossego que paira no ar não deixa lugar à dúvida.

XO Douro. (Fotografia: Miguel Pereira/GI)

Já o segundo é o refúgio perfeito para uma escapada a dois, num recanto à beira-rio. O que inicialmente seria uma casa de férias para a família Carvalho, e um quarto de hóspedes para amigos de visita, acabou por se transformar num projeto turístico em expansão. A suíte Jasmim, com vista panorâmica para o Douro, foi a precursora de mais duas, e em breve serão concluídas outras cinco.

Novos espaços verdes e zonas de lazer irão juntar-se ao espelho de água e jacuzzi exterior, aberto para o quadro bucólico do rio. Os alojamentos, de interiores harmoniosos, elegantes e acolhedores, estão equipados com todas as comodidades e foram decorados com peças exclusivas ou de coleções da ConceitoCasa, a empresa de mobiliário de Vasco Carvalho. A mulher, Manuela, é quem se encarrega de receber os hóspedes – que têm caiaques à disposição para passear no rio -, e os mimar com detalhes dignos de um serviço de hotel.

A mais recente adição ao projeto foi o restaurante SIRGA, que propõe uma cozinha de autor sazonal e sem pressas, inspirada nos produtos e sabores portugueses. O interior é revestido a madeira, com uma lareira à entrada ladeada por pilhas de lenha, que fazem adivinhar como será acolhedor no inverno, e prateleiras preenchidas com livros, compotas, licores, pickles caseiros e uma garrafeira invejável, com uma seleção cuidada de vinhos franceses e nacionais.

Apetece estar em qualquer recanto deste novo poiso, mas enquanto o tempo permitir, mesmo com o braseiro aceso e uma manta aos joelhos, é na esplanada debruçada sobre o Douro que recai a preferência. Ali, o desfile de pratos do chef Fernando Morais é um complemento ao cenário, atravessado ocasionalmente por embarcações que ora sobem, ora descem o curso de água. O polvo com batata-doce e açafrão faz arregalar os olhos, e não só é bonito de se ver como prazeroso de saborear. Já para o final, o pudim Abade de Priscos, com calda de tangerina e kumquats, deixa um rasto doce e de frescura que se fica a mastigar na boca já bem depois de terminada a fatia.

O sol de outono a brilhar na corrente ondulante do rio aquece-nos o rosto e a alma. Uma tarde assim pede só mais um copo de vinho. Afinal, é o que manda o ditado. E não nos cabe questionar.


Sabores antigos em nova cozinha

Pegar nos sabores autênticos do antigamente e trazê-los para os tempos de hoje” foi a motivação de Pedro, Rui e Cláudia para abrirem o DANTES. Esta nova cozinha de base mediterrânica vai beber às raízes da comida de conforto, com arrozes terminados no forno a lenha, pizas napolitanas de fermentação natural e pastas frescas. As batatas como Dantes, fritas com a casca em fatias finas e envolvidas numa cebolada de enchidos e ovo, é um dos ex-líbris da casa, ao lado do arroz de costeletas marinado em vinha d’alhos. Ao domingo, há cabrito assado no forno e durante a tarde entra em ação a carta de cafetaria, com panquecas, waffles e tostas. Destaca-se a aposta nos cocktails de assinatura e a carta de vinhos cuidada, não tivesse Rui formação em enologia.


Um passeio pela história

Fazer uma visita guiada a um monumento da Rota do Românico é garantia de aprendizagem e boa conversa. Em frente ao MOSTEIRO DO SALVADOR DO PAÇO DE SOUSA, José Augusto Costa, guia e historiador, explica-nos como este monumento é particular. “O românico desta região é especial, é a casa-mãe do românico nacionalizado, de um período mais tardio, que vai buscar uma mescla de vários estilos”. É um dos monumentos da rota mais procurados, por ali se encontrar o túmulo de Egas Moniz, o aio de D. Afonso Henriques, que é composto por dois túmulos, de períodos diferentes. O documento mais antigo a mencionar o mosteiro primitivo data de 994, mas o edifício sofreu várias alterações ao longo dos séculos. Bem mais anterior, é o Castro de Monte Mozinho, um grande povoado castrejo de época romana, instalado no alto da serra nas freguesias de Oldrões e Galegos. O castro muralhado foi estabelecido no século I, e a ocupação chegou até ao século V.

Morada
Largo de Santo António dos Capuchos, Penafiel
Horário
De quinta a domingo, das 10h às 13h e das 14h às 18h.


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245
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Morada
Praça Municipal, 57, Penafiel
Horário
Das 7h às 20h30. Não encerra.


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Longitude : -8.2245
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Morada
Rua Padres da Agostinha, 233, Lagares e Figueira, Penafiel

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Morada
Largo da Ajuda, 30, Penafiel
Telefone
255118405
Custo
(€) Preço médio: 12 euros
Horário
Das 12h às 14h30 e das 18h às 23h. Sexta e sábado até às 2h. Sábado e domingo abre às 17h.


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Morada
Rua de Cancelos, 5, Sebolido, Penafiel


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Morada
Rua da Praia, 790, Sebolido, Penafiel

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Morada
Rua do Pedregal, 32, Sebolido, Penafiel
Telefone
912859922
Custo
(€€) Preço médio: 35 euros
Horário
De quinta a domingo, das 12h30 às 16h e das 19h às 22h30.


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Morada
Avenida Egas Moniz - Jardim do Calvário, Penafiel
Telefone
255723312
Horário
Das 11h30 às 24h. Segunda até às 15h. Sexta e sábado até às 2h. Encerra à terça-feira.

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Morada
Largo do Mosteiro, Paço de Sousa, Penafiel
Horário
Visitas guiadas por marcação.


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