Almeida: do combate do Côa ao cerco da estrela do interior

Museu Histórico-Militar de Almeida. (Fotografia de Artur Machado/GI)
Vindas de Ciudad Rodrigo, em 1810 as tropas francesas e anglo-lusas entram em território português através de Almeida e ali se confrontam. A derrota das forças aliadas levou ao cerco da vila e consequente queda da praça-forte, um episódio recordado todos os anos com uma recriação histórica que junta centenas de pessoas.

A chuva caía impiedosa naquela noite de verão. Não se adivinhasse um cenário já suficientemente tenebroso, desde logo pelo nome do Cabeço Negro, como é conhecida a vertente rochosa do vale do Côa sobranceira à ponte seiscentista onde as tropas franceses e anglo-lusas se enfrentaram no primeiro combate em território português, durante a terceira e última investida napoleónica às fronteiras lusitanas. “O Combate do Côa aconteceu a 24 de julho de 1810 e o caricato é que nem o Masséna, nem o Wellington queriam aqui combater”, recorda António Albano Soares, técnico superior de turismo e membro do Grupo de Reconstituição Histórica do Município de Almeida.

“Entretanto, os generais responsáveis no terreno, que eram o marechal Ney do lado francês e o general Robert Crawford do lado dos ingleses, devido a atritos do teatro de guerra da altura, resolveram confrontar-se. Mais tarde, foram os dois repreendidos por isso, porque o grande medo, por exemplo, do Wellington, era que a infantaria ligeira que aqui estava pudesse sofrer baixas e depois fazer falta nas Linhas de Torres Vedras”, explica o nosso guia.

A ponte sobre o rio Côa. (Fotografias de Artur Machado/GI)

O exército aliado contou cerca de 1200 baixas, contra 500 das tropas francesas. As forças invasoras eram cinco vezes maiores do que as nossas, mas nem isso afrouxou a bravura das tropas anglo-lusas, em especial das companhias de caçadores portugueses, elogiados pelos generais ingleses. “Os relatos que existem são de um cenário dantesco, os corpos chegavam ao parapeito da ponte”, descreve Albano Soares. “A batalha pára porque cai uma trovoada tão grande que tanto um comandante como o outro mandam acabar o combate. De qualquer forma nós já tínhamos perdido.”

As muralhas na Aldeia Histórica de Almeida.

Quem quiser conhecer in situ todos os detalhes deste confronto pode marcar uma visita orientada à Ponte do Côa através do Museu Histórico-Militar de Almeida. O equipamento ocupa as antigas casamatas, no baluarte de São João de Deus, que eram compostas por 20 galerias à prova de canhão, sete das quais estão agora musealizadas. A exposição debruça-se sobre diversos períodos da história militar portuguesa, desde as primeiras ocupações do território até à Primeira Guerra Mundial, incluindo, claro, as invasões francesas, fazendo parte do espólio várias peças de armamento e fardamento das tropas. Algumas são exemplares originais e outras réplicas, utilizadas na recriação histórica do Cerco de Almeida.

O Museu-Histórico Militar de Almeida.

A exposição debruça-se sobre períodos da história militar portuguesa, desde as primeiras ocupações à Primeira Guerra Mundial e Invasões Francesas.

No rescaldo do Combate do Côa, a vila fica isolada, acabando por ser tomada pelas tropas napoleónicas. “É a partir daqui que os franceses começam a montar o cerco. A 26 de agosto dá-se a explosão do castelo, e no dia seguinte é a rendição da praça”, prossegue António Albano Soares. Todos os anos, no último fim de semana de agosto, a vila fortificada recua 200 anos no tempo com uma recriação do cerco, na qual o nosso interlocutor também participa.“Este ano tivemos mais de 500 recreadores: ingleses, espanhóis, franceses…É tudo pessoal apaixonado pela história”, como ele próprio, que encarna a pele de um soldado da infantaria ligeira.

“A recriação histórica é uma forma de perpetuar o monumento, torna viva um pouco da história da fortaleza”, comenta Paula Sousa, historiadora e chefe de divisão do Património do município de Almeida. Outra iniciativa que não deixa esquecer a história é o escape room que o museu dinamiza ocasionalmente, e que regressa a 20 de outubro. Desta vez, “Presos na poterna” desafia a resolver o “Mistério da explosão”. O cenário é a poterna de São João de Deus, onde estão reunidos os suspeitos da explosão do castelo, um enredo inspirado na explosão do paiol principal de pólvora durante o cerco de Almeida, que ditou a entrega da praça-forte aos franceses. Também esse um mistério. “Não se sabe se foi traição, erro humano, ou uma bomba da trincheira dos franceses”, diz Paula Sousa.

Este episódio também é retratado no recém-inaugurado Centro de Interpretação das Fortalezas Abaluartadas da Raia, instalado numa antiga sala de guarda da fortaleza, junto às Portas de São Francisco. Está inserido na rota das fortalezas abaluartadas, juntamente com os centros de interpretação de Elvas, Marvão e Valença, e é um bom ponto de partida para perceber a arquitetura militar da “estrela do interior” – assim chamada pelo seu formato estrelado, com 12 pontas, seis revelins e baluartes -, construída entre os séculos XVI e XVII. Ali, privilegia-se a interatividade: há materiais didáticos que exploram a história da vila e a evolução da fortaleza; roupas do século XIX que os visitantes podem experimentar; e uma mesa onde estão dispostos vários objetos relacionados com a alimentação, a higiene pessoal ou a limpeza das armas que um soldado teria na sua mochila.

O Centro de Interpretação das Fortalezas Abaluartadas da Raia.

Porém, uma visita ao centro interpretativo não substitui um passeio ao longo da muralha, para observar no local as alterações que foi sofrendo ao longo dos anos. Enveredando pelo miolo da vila, será difícil não passar à porta da Casa d’Amélinha. Olívia Bastos é agora a guardiã da receita de ginjinha que a mãe Amélia aperfeiçoou, mas nascida de experiências bem mais antigas, quase tanto como a taberna que a família ali abriu em 1883. Depois desta paragem doce, pode apetecer terminar a visita a Almeida no Picadeiro d’El Rey e trocar a caminhada por um passeio a cavalo ou de charrete.

O Picadeiro d’El Rey organiza passeios a cavalo ou de charrete.

A ginjinha da Casa d’Amélinha.

Do bife Wellington às compotas caseiras

Na aldeia da Freineda, onde Wellington terá instalado um quartel-general, nasceu recentemente um restaurante que se batizou em homenagem ao general inglês. No Wellington, a estrela da carta é o famoso bife que partilha o título do duque, além de pratos de javali, cabrito, bacalhau e polvo. Mais tradicional é O Caçador, outra referência no concelho, aberto há 25 anos na aldeia da Malpartida. O polvo à lagareiro e o bacalhau gratinado são duas das especialidades, mas quem ali vai ao almoço durante a semana também encontra propostas igualmente saborosas. Na pandemia, Elizabete Ferreira, cozinheira e proprietária, começou a fazer bolachas e compotas caseiras que juntou à oferta da casa.

A cozinha tradicional é o pilar do restaurante O Caçador.

O restaurante está aberto há mais de duas décadas.

Morada
Rua da Muralha
Telefone
271 571 229
Horário
Das 9h às 12h e das 14h às 17h, de terça a sexta; das 10h às 12h e das 14h às 17h ao sábado e domingo. Encerra à segunda.


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245
Partilhar
Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica
Morada
Portas de São Francisco
Horário
Das 9h às 12h30 e das 14h às 17h30. Encerra à segunda.


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245
Partilhar
Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica
Partilhar
Morada
Freineda
Telefone
961 881 562
Horário
Das 12h30 às 14h30 e das 19h30 às 22h. Encerra à segunda todo o dia e terça ao almoço.


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245
Partilhar
Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica
Partilhar
Morada
Largo do Olmo (Malpartida)
Telefone
271 574 344
Horário
Das 9h às 23h. Encerra terça ao jantar e quarta todo o dia


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245
Partilhar
Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica
Partilhar
Morada
Rua Afonso de Albuquerque, 15-20, Almeida
Telefone
964 420 705
Horário
Das 9h às 16h. Não encerra (horário pode estender-se até mais tarde)


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245
Partilhar
Mapa da ficha ténica Mapa da ficha ténica




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend