Era a Rua da Areia, a mais importante do bairro piscatório da Póvoa de Varzim. Ali, paredes-meias com o porto, instalaram-se, ainda no século XVII, os primeiros pescadores, em casas baixinhas e muito simples, numa espécie de extensão do areal, que acabaria por dar o nome à rua e ao lugar. Em 1912, passou a chamar-se 31 de Janeiro, numa homenagem à participação poveira na revolta republicana de 1891. Esteve anos em terra batida, sem luz elétrica, pejada de casas humildes de gentes do mar. Era passagem obrigatória de quem ia a pé para as Caxinas, rota do comércio e do bom peixe fresco, gritado em pregões pela rua.
De um lado, no largo “dos Correios”, a dois passos da Câmara, “A Filantrópica”, outrora casa do operário, hoje Cooperativa de Cultura, cuja sede está em remodelação profunda; quase no outro extremo, a igreja da Lapa, onde, nas traseiras, no farol voltado para o porto de pesca, um painel de azulejo lembra a maior tragédia por ali vista: o naufrágio de 27 de fevereiro de 1892, que tirou a vida a 105 pescadores, à entrada da barra. Em 2005, a 31 de Janeiro passou a pedonal, uma intervenção que, ainda hoje, divide opiniões.
1. Nina Coop Store, nº 9
Fotografia: José Carlos Marques/GI
Há vários anos que Paula Rosmaninho fazia em casa “um pouco de tudo”. Da costura criativa às pequenas peças de artesanato, gostava era “de experimentar”. Com uma filha vegana, conhecia bem a dificuldade de encontrar produtos de qualidade. Em 2015, juntou “o útil ao agradável” e abriu a Nina Coop Store. Ali, há quase tudo, feito à mão e made in Portugal: artesanato, mercearia vegana – a que mais tem crescido, ao sabor dos pedidos dos clientes -, cosmética alternativa, roupa, bijutaria. Há quem vá comprar hambúrgueres de cogumelos, bonecas de papel, as tradicionais camisolas poveiras, bijutaria em cortiça pintada à mão ou uma pedra com a sigla poveira (a marca de família com que os antigos pescadores identificavam barcos e artes de pesca). Há muitas vezes workshops, sejam de costura, fotografia ou alimentação alternativa. Fecha ao domingo e à segunda.
2. Biju Bouquet, nº 15
Fotografia: José Carlos Marques/GI
Liliana Ferreira ia casar. Não morre de amores por flores e queria que o seu ramo de noiva fosse “único, especial e, sobretudo, eterno”. Decidiu fazê-lo com pedrarias e joias. A partir daí, os pedidos não pararam. Abriu a Biju Bouquet. Primeiro, em Balasar e, há dois anos, no centro da cidade. A partir daí, “foi sempre a crescer”. Hoje, o conceito é “casamento chave na mão”: convites, bouquets, lembranças, porta-alianças, ementas, marcadores de mesa e plano de lugares, missais, topos de bolo, caixa de mensagens, decoração. Sai tudo dali. “A ideia é tornar o processo menos angustiante e o planeamento mais fácil”, diz, sorrindo, consciente de que, para as noivas, há “mil e uma coisas para tratar” e “muito pouco tempo”.
3. Mateus Joalheiro, nº 64
Fotografia: José Carlos Marques/GI
Fez este mês cinquenta anos que o pai de Carlos Mateus abriu a joalharia na Rua 31 de janeiro. Hoje, é ele quem conduz o negócio, juntamente com o irmão. É joalheiro desde os 12 anos. Cria à medida e ao gosto de cada um, fabrica e vende peças em ouro e prata, com e sem pedras preciosas. A rua era, à época, recorda, “um corrupio de gente abaixo e acima” e o comércio “pujante”. Depois, veio a pedonalização. Hoje, “não é carne, nem peixe”: há sempre carros a passar e estacionados. É uma vergonha!”, reclama. Por ali, restam-lhe hoje os “clientes fiéis”, que dão valor à palavra “confiança”.
4. Confeitaria A noiva, nº 78
Fotografia: José Carlos Marques/GI
O bolo alentejano, feito com pão de ló, bolacha e caramelo, é um dos segredos mais bem guardados d’“A Noiva”. Daniel Moreira é, aos 26 anos, a terceira geração à frente de uma das mais antigas confeitarias da cidade. A casa tem 45 anos e continua como no dia em que abriu, a ter “exclusivamente fabrico próprio”, seja o pão, os bolos individuais ou os de aniversário. Hoje, a confeitaria alia-se às refeições ligeiras. Francesinha poveira, baguetes e pregos são os que nesta área mais procura têm. Nos bolos, as natas ocupam lugar cimeiro e, para aniversários, o bolo alentejano. “As pessoas vêm, provam e repetem sempre”, garante.
5. Restaurante 31 de janeiro, nº 178
Fotografia: José Carlos Marques/GI
Abriu as portas faz 29 anos, ali, quase em frente à igreja da Lapa. O peixe grelhado e o marisco, aliados à comida tradicional portuguesa, foram sempre, explica Marco Ferreira, “o ADN da casa”. O negócio cresceu, os pais deram lugar aos filhos, mas, à entrada, a montra de peixe fresco – que varia ao sabor das marés – e o aquário de mariscos não enganam: ali, o mar é rei. O robalo, o sargo, o rodovalho e o goraz assados na brasa a carvão, as canilhas ou a feijoada de marisco são algumas das especialidades. Uma coisa ali é certa, “o peixe é sempre fresco e só de mar”, “comprado diretamente ao pescador” e nunca faltam as duas especialidades locais: pescada à poveira e rabanada à poveira. Fecha à segunda-feira.
Fotografia: José Carlos Marques/GI
Longitude : -8.76175569999998
Longitude : -8.7611625
Longitude : -8.7611625
Longitude : -8.7611625
Longitude : -8.760698699999999
