Teresa Rosendo, a pinhalnovense responsável pela investigação e pelo projeto museológico do Museu – A Estação, recorda-se de os avós, antigos ferroviários, lhe contarem histórias relacionadas com o dia-a-dia na ferrovia. “Em Pinhal Novo é praticamente impossível não ter algum ferroviário na família”, garante enquanto guia a reportagem da Evasões pelo museu, instalado na antiga estação de passageiros.
Em 1858 já existiria um edifício ao pé da linha, mas o primeiro comboio só ali passou um ano depois, com a família real a bordo – que passaria a usá-lo para ir veranear no Alentejo. Foi a partir deste bonito edifício, datado de 1935, que a vila de arrabaldes, vinhas e casas dispersas iniciou a sua urbanização virada para norte.
Os caminhos-de-ferro eram então o motor do desenvolvimento económico e social. A visita ao museu é um exercício de memória historiográfica à boleia das linhas férreas que se ali cruzam e dos testemunhos de antigos ferroviários e as respetivas famílias. A maior parte dos objetos do quotidiano ali expostos, como baús em ferro onde os trabalhadores aqueciam o almoço na linha, e ferramentas, foi doada pela família de Rafael Augusto Rodrigues e pela coleção privada de Manuel Ribeiro.
O equipamento oferece duas visitas gratuitas, todos os meses: visitas guiadas, no primeiro sábado do mês, às 15h, e visitas orientadas por ex-ferroviários, no quarto sábado de cada mês, às 10h. Em julho, setembro e novembro as visitas terão interpretação em Língua Gestual Portuguesa (mediante inscrição). O calendário das visitas pode ser consultado na página online do Município de Palmela.
O museu em detalhe
A energia dos comboios
A energia que faz mover os comboios é uma das matérias abordadas no início da exposição e mostra aos visitantes como a tecnologia evoluiu do vapor para o diesel, até chegar à eletricidade. Ali, pode-se inclusive tocar em hulha (carvão) e sentir a textura da madeira utilizada na construção das travessas de sustentação dos carris, obtida através do abate de castanheiros, eucaliptos e pinheiros.
Torre de Sinalização e Manobra
Esta torre, projetada em betão e ferro com traços modernistas pelo arquiteto Cottinelli Telmo, em 1936, permitia sinalizar e controlar as manobras dos comboios que passavam nas 11 linhas deste importante ponto ferroviário da Península Ibérica. A sua demolição esteve pensada, mas o imóvel acabou por ser classificado como de Interesse Municipal, e deverá tornar-se em breve um núcleo museológico.
Painéis de azulejos
As fachadas do edifício têm 25 painéis de azulejos, datados de 1938 e produzidos na Fábrica de Cerâmica Constância (Lisboa) e na Faiança Basttini de Maria de Portugal, com desenhos de Francisco Branco Pinto e João Rodrigues. Ilustram a história e etnografia da região da Arrábida, mostrando lugares como a Herdade de Rio Frio, onde nasceu o nome “caramelos”, atribuído aos deslocados que iam para lá trabalhar.
Longitude : -8.2245