Ler: Pensar e resistir como Marco Aurélio

Na obra que reúne os conselhos do imperador romano, que viveu há dois mil anos, governou numa altura de peste e de guerra, e amava a Filosofia, pode-se encontrar algum consolo espiritual nos tempos que correm.

Marco Aurélio é descrito como o imperador-filósofo, pelo apreço que revelou ao estudo da Filosofia desde cedo e por ter aplicado, enquanto governante, o princípio de unir a Filosofia ao poder político como forma de combater os males da sociedade. O registo que fez das suas reflexões sobre os mistérios da vida e a sua constante procura de autoaperfeiçoamento deixaram um legado que é considerado um dos mais importantes da Antiguidade Clássica.

É pertinente voltar a ele neste contexto de pandemia e convulsões, uma vez que Marco Aurélio (121-180 d. C.) governou o Império Romano numa altura de grandes problemas e de tragédia: grassava a peste antonina (provavelmente vinda do Oriente através da Rota da Seda) que causou a morte a milhões de pessoas e as fronteiras estavam pressionadas pelos povos bárbaros.

Esta obra, que reúne os 12 livros de pensamentos do imperador romano, foi agora editada pela Ideias de Ler (com tradução de Carla Ribeiro) e conduz-nos por um viagem de reflexão sobre a conduta humana face às adversidades. Marco Aurélio foi considerado por muitos pensadores como o último filósofo estoico (a criação do pensamento estoico é atribuída a Zenão, cerca de 300 anos antes de Cristo) e o seu pensamento revela devoção à ética e à racionalidade, humildade e autodisciplina como formas de agir. Ficou também na História como um administrador exemplar e um líder virtuoso.

Neste livro, pode contar com alguns conselhos que certamente ajudarão a criar alguma reconciliação interior, numa altura de atribulação mental para muitos de nós. Quanto mais não seja pelo facto de se perceber, neste registo com quase dois mil anos, como as dúvidas e as inquietações humanas continuam a ser muito semelhantes.

“Meditações”, de Marco Aurélio
Editora: Ideias de Ler
216 páginas
PVP: 14,40 euros

 

“Elogio da dúvida”, de Victoria Camps

A dúvida como um poder e um antídoto

Este é um livro para aqueles que, no meio do turbilhão de certezas e afirmações perentórias, extremismos e confrontos, potenciados pelos média e tornados agudos pelo contexto pandémico, sentem necessidade de tempo e espaço para pensar. “Num clima como este, a dúvida ante aquilo que intriga e causa estranheza, ao invés da fúria imediata, seria uma forma de agir mais saudável para todos”, refere a autora, no início deste que é o sexto ensaio da coleção Elogios, das Edições 70.

Victoria Camps, catalã de Barcelona, é filósofa e professora catedrática de Filosofia, e autora de várias obras na área da Ética e outras. Neste livro, dirigido ao grande público, percorre as abordagens da dúvida ao longo dos tempos, desde Platão e Aristóteles, passando por outros filósofos que marcaram a história das ideias como Descarte, Espinosa, Nietzsche. Todos têm em comum o não se terem conformado com as ideias que herdaram e terem procurado na dúvida um estímulo e um antídoto para as soluções utópicas.

“Elogio da dúvida”, de Victoria Camps
Editora: Edições 70
186 páginas
PVP: 15,90 euros




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