Joana Costa Roque: “Na nossa cultura, cuida-se da casa e não há mal nisso”

"Cozinha organizada, jantar na mesa" é o novo livro de Joana Costa Roque (Fotografia: Inês Costa Monteiro)
"Cozinha organizada, jantar na mesa" parece a descrição de um pequeno oásis de paz doméstica, mas é o título de um livro - o sétimo de Joana Costa Roque - destinado a quem quer aliviar o peso de algumas obrigações. Planear as refeições, ter um inventário em dia e antecipar as preparações garante mais tempo, menos desperdício e horas de jantar mais calmas. Quem não deseja este oásis?

Tinha perdido o emprego e dedicava-se à paixão pela cozinha quando, em 2009, uma editora deu com o seu blogue “As minhas receitas” e a convidou para fazer um livro. Este que acaba de chegar às bancas é o sétimo de Joana Costa Roque, sempre em torno da cozinha e organização doméstica, num contexto de pacificação. Podemos encontrá-la no Instagram e nos workshops que dá sobre o tema. Neste “Cozinha organizada, jantar na mesa” partilha um método de organização e 12 ementas semanais sem obrigações, nem papéis definidos porque cuidar da casa é a nossa cultura, afirma.

 

Este livro chega oportunamente numa altura em que estamos todos mais em casa e a enfrentar mais as tarefas domésticas e familiares. Foi pensado para responder a isso?
Não, o livro já estava a ser preparado há algum tempo, ficou um bocadinho parado por causa da pandemia e acabou por sair agora, e apanhar as pessoas em casa. Foi uma boa coincidência sair nesta altura em que as pessoas se sentem mais assoberbadas, sobretudo se têm crianças, porque passaram a ter de lhes dar mais acompanhamento e de fazer refeições ao almoço e ao jantar. O livro pode levar as pessoas a pensar como a organização e o planeamento as podem ajudar, porque é disso que ele trata.

O título do livro, “Cozinha organizada, jantar na mesa”, cria uma imagem de conforto universal, é isso que queremos ao chegar a casa. Mas não receia que possa ser associado ao imaginário da dona de casa tradicional e perfeita?
Eu acho que não. Por mais que os tempos mudem, as tarefas domésticas continuam a existir e a ter que ser feitas. Não estão é já tão associadas ao papel da mulhere como antigamente. Faz mais sentido falar nas tarefas domésticas como algo que existe e temos de planear, e não como uma coisa obrigatória para as mulheres.Haverá sempre tarefas, na nossa cultura ainda se trata muito da casa, as pessoas cozinham todos os dias. Porque é que havemos de ser vistos de outra forma porque gostamos de cozinhar e cuidar da nossa casa? Se há uma coisa boa na evolução dos tempos é podermos ser aquilo que quisermos.

Inspirou-se em alguns truques aprendidos em casa das avós e trouxe-os para a vida moderna?
Sim, é uma adaptação à vida moderna, porque nada disto – o desperdício zero, o reaproveitamento – é novo, as nossas avós já o faziam. O que aconteceu foi que houve uma altura em que se perdeu, porque quisemos (falo principalmente as mulheres) descolar-nos desta ideia doméstica tradicional e o comprar tudo feito é que era bom. Agora voltamos a pensar que não faz mal gostar de fazer isto e até temos imensas ajudas que dantes não havia. Não faz mal termos este cuidado e gostar de dar à nossa família refeições equilibradas, feitas em casa. Nos tempos de hoje, até é seguir uma tendência…

Estes tomates recheados com quinoa é uma das receitas do livro. (Fotografia DR)

 

Sendo este um livro de menus para facilitar a rotina, traz receitas que não parecem nada simples, nem do género massa com frango, e são até bem sofisticadas. Como é que se consegue fazer receitas sofisticadas no dia a dia?
Tem muito a ver com a essência do livro. Se eu conseguir fazer uma ementa e pré-preparar os alimentos, depois consigo fazer refeições que vão além do arroz com bife grelhado e do peixe cozido. No dia a dia, a agitação é tanta que batemos sempre nas mesmas teclas e comemos sempre as mesmas coisas. Ao criar uma ementa semanal e ao pré-preparar, sei tudo o que tenho em casa, tenho tudo organizado no frigorífico e rapidamente ponho o jantar na mesa. Por exemplo, uma sopa é rápida de fazer, o que demora é descascar e cortar os legumes. Por isso, se já tivermos feito isso, é só pôr na panela ou fazer um salteado. Digo muitas vezes que é preciso perder tempo para ganhar tempo, mas perder tempo em alturas em que estamos mais por casa para depois ganhar tempo ao final do dia, na hora da confusão… e comer melhor. Através do meu blogue e do instagram, e também dos workshops, recebo mensagens de pessoas que me dizem que ganharam tempo para elas, que não tinham antes.

Tem algum método preferido para a sua gestão doméstica?
Tudo o que está no livro é baseado na minha experiência pessoal única e simplesmente. Mesmo que as pessoas digam que não têm tempo, há duas coisas essenciais. Uma é saber tudo o que têm, fazer um inventário do congelador (e não é preciso apps, basta uma folha de papel) e anotar sempre que se vai às compras e riscar o que se tira para comer. A outra coisa é fazer uma ementa semanal. Este pequeno planeamento é essencial para estarmos mais focados, evitarmos o desperdício e comermos de uma maneira diferente.

Como é que a sua vida se encaminhou para esta área da vida prática, da criação de livros que ajudam a levar bem a vida doméstica e familiar?
Acho que tive uma estrelinha da sorte, apesar de ser fruto do trabalho. Sempre gostei muito de cozinhar e quando casei e tive uma cozinha só para mim, comecei a partilhar receitas num blogue, ainda ninguém sabia a volta que isto ia dar.

“Cozinha organizada, jantar na mesa” de Joana Costa Roque | Ed. Manuscrito | 336 pág. | PVP: 19,90 euros




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