Já faltam poucos dias para ter início aquela que é uma das maiores celebrações populares e religiosas do país – e, diz a organização, «única no mundo» -, a Festa dos Tabuleiros, em Tomar, na região Centro de Portugal. Este ano participam no desfile 1496 pessoas, em pares, a transportar 748 tabuleiros, o símbolo maior desta festa em honra do Espírito Santo.
Este «cortejo com formato processional» é «do povo, pelo povo e para o povo», explica Maria João Morais, a mordoma que este ano preside a comissão organizadora da festa, e implica um envolvimento da população à escala concelhia, com 11 freguesias de Tomar a contribuir com tabuleiros e participantes. E por incrível que possa parecer, há pessoas em lista de espera para desfilar.
O evento é de tal ordem que começa a ser preparado com um ano de antecedência. Que o digam os homens ocupados a construir os tabuleiros da União de Freguesias de Tomar (S. João Baptista e Santa Maria dos Olivais), e cujo presidente, Augusto Barros, também dá um contributo. Há muitos pães para encaixar nas canas e coroas para colocar em cada tabuleiro.
Esta «linha de montagem» improvisada numa sala onde se já alinham vários tabuleiros por finalizar está a funcionar a todo o vapor no final do mês de maio, altura em que já se veem também muitos pares a treinar o andamento com os tabuleiros na rua, sobretudo as raparigas, que são quem transporta o símbolo da oferenda de pão a Espírito Santo.
17 quilos levados à cabeça
Não é pouco o peso que carregam sobre a cabeça. Cada tabuleiro, assente num cesto de verga, leva 30 pães, cinco fiadas de flores de papel como papoilas e espigas (que começam a ser feitas à mão a partir de setembro, em cada junta de freguesia) e uma coroa imperial com uma pomba branca. A estrutura pesa cerca de 17 quilos.
O rapaz que segue ao lado tem a função de ajudar a transportar o tabuleiro, equilibrando-o, e leva um barrete no ombro esquerdo para que o possam pousar se necessário. O número de tabuleiros do cortejo varia todos os anos: como este ano serão 748 (só uma junta de freguesia levará 300), participam ao todo 1496 pessoas no desfile pelas ruas de Tomar.
Tudo é pensado ao pormenor, daí que os trajes obedeçam também a regras definidas pela comissão organizadora. A rapariga leva um traje branco com uma faixa da cor dominante do tabuleiro que transporta à cabeça; já o rapaz usa também essa cor na gravata e na cinta que veste com o fato, de camisa branca arregaçada, e calça preta.
A programação da Festa dos Tabuleiros envolve várias saídas em cortejo, a partir de 28 de junho, mas o ponto alto acontece no dia 7 de julho, a partir das 16h00. O percurso tem cinco quilómetros – com uma pausa a meio para as pessoas descansarem e beberem água, pois costuma fazer bastante calor – e garante um espetáculo de cinco horas para os milhares de visitantes que acorrem à cidade nesse dia.
A origem da festa
O cortejo em si inicia-se quando o mordomo da festa abre os portões da Mata dos Sete Montes e soam os bombos, gaitas e foguetes. À frente seguem o pendão do Espírito Santo e as três coroas do Imperador e Reis e depois os pendões e coroas de todas as juntas de freguesias, e respetivos tabuleiros.
Já na Praça da República, os tabuleiros são benzidos pelo bispo de Santarém e à terceira badalada do sino são levantados, ao mesmo tempo, num momento de grande beleza. A fechar o cortejo encontram-se os «carros do pão, da carne e do vinho», puxados por bois, e conduzidos por três crianças, as únicas que entram no desfile.
O realização deste cortejo – que data, neste formato, desde o século XVI – teve origem num culto instituído pela Rainha Santa Isabel e nem sempre implicou o transporte de tabuleiros «verticais» como hoje se conhecem. Dantes o pão (símbolo do corpo de Cristo) oferecido ao Espírito Santo era transportado em tabuleiros normais.
A Festa dos Tabuleiros realiza-se em Tomar de quatro em quatro anos e atrai milhares de visitantes à cidade. Os tomarenses, além de apoiarem a realização da festa com varandas e janelas decoradas, é que decidem, de resto, se há ou não festa, e elegem o mordomo por votação popular. Este ano, pela primeira vez, o mordomo é uma mulher.
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