748 tabuleiros vão desfilar este ano pelas ruas de Tomar

Este ano desfilam 748 tabuleiros no Cortejo dos Tabuleiros em Tomar. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI).
A Revista Evasões visitou os bastidores da Festa dos Tabuleiros e revela agora todas as curiosidades sobre este evento secular que vai decorrer na cidade de Tomar entre 29 de junho e 8 de julho.

Já faltam poucos dias para ter início aquela que é uma das maiores celebrações populares e religiosas do país – e, diz a organização, «única no mundo» -, a Festa dos Tabuleiros, em Tomar, na região Centro de Portugal. Este ano participam no desfile 1496 pessoas, em pares, a transportar 748 tabuleiros, o símbolo maior desta festa em honra do Espírito Santo.

Este «cortejo com formato processional» é «do povo, pelo povo e para o povo», explica Maria João Morais, a mordoma que este ano preside a comissão organizadora da festa, e implica um envolvimento da população à escala concelhia, com 11 freguesias de Tomar a contribuir com tabuleiros e participantes. E por incrível que possa parecer, há pessoas em lista de espera para desfilar.

Os tabuleiros começam a ser construídos com vários meses de antecedência. (Fotografia: DR)

O evento é de tal ordem que começa a ser preparado com um ano de antecedência. Que o digam os homens ocupados a construir os tabuleiros da União de Freguesias de Tomar (S. João Baptista e Santa Maria dos Olivais), e cujo presidente, Augusto Barros, também dá um contributo. Há muitos pães para encaixar nas canas e coroas para colocar em cada tabuleiro.

Esta «linha de montagem» improvisada numa sala onde se já alinham vários tabuleiros por finalizar está a funcionar a todo o vapor no final do mês de maio, altura em que já se veem também muitos pares a treinar o andamento com os tabuleiros na rua, sobretudo as raparigas, que são quem transporta o símbolo da oferenda de pão a Espírito Santo.

 

17 quilos levados à cabeça

Não é pouco o peso que carregam sobre a cabeça. Cada tabuleiro, assente num cesto de verga, leva 30 pães, cinco fiadas de flores de papel como papoilas e espigas (que começam a ser feitas à mão a partir de setembro, em cada junta de freguesia) e uma coroa imperial com uma pomba branca. A estrutura pesa cerca de 17 quilos.

O rapaz que segue ao lado tem a função de ajudar a transportar o tabuleiro, equilibrando-o, e leva um barrete no ombro esquerdo para que o possam pousar se necessário. O número de tabuleiros do cortejo varia todos os anos: como este ano serão 748 (só uma junta de freguesia levará 300), participam ao todo 1496 pessoas no desfile pelas ruas de Tomar.

Cada tabuleiro leva obrigatoriamente 30 pães, enfiados em canas. (Fotografia: DR)

Tudo é pensado ao pormenor, daí que os trajes obedeçam também a regras definidas pela comissão organizadora. A rapariga leva um traje branco com uma faixa da cor dominante do tabuleiro que transporta à cabeça; já o rapaz usa também essa cor na gravata e na cinta que veste com o fato, de camisa branca arregaçada, e calça preta.

A programação da Festa dos Tabuleiros envolve várias saídas em cortejo, a partir de 28 de junho, mas o ponto alto acontece no dia 7 de julho, a partir das 16h00. O percurso tem cinco quilómetros – com uma pausa a meio para as pessoas descansarem e beberem água, pois costuma fazer bastante calor – e garante um espetáculo de cinco horas para os milhares de visitantes que acorrem à cidade nesse dia.

A origem da festa

O cortejo em si inicia-se quando o mordomo da festa abre os portões da Mata dos Sete Montes e soam os bombos, gaitas e foguetes. À frente seguem o pendão do Espírito Santo e as três coroas do Imperador e Reis e depois os pendões e coroas de todas as juntas de freguesias, e respetivos tabuleiros.

Já na Praça da República, os tabuleiros são benzidos pelo bispo de Santarém e à terceira badalada do sino são levantados, ao mesmo tempo, num momento de grande beleza. A fechar o cortejo encontram-se os «carros do pão, da carne e do vinho», puxados por bois, e conduzidos por três crianças, as únicas que entram no desfile.

A última edição da Festa dos Tabuleiros foi em 2015. A festa realiza-se de quatro em quatro anos. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)

O realização deste cortejo – que data, neste formato, desde o século XVI – teve origem num culto instituído pela Rainha Santa Isabel e nem sempre implicou o transporte de tabuleiros «verticais» como hoje se conhecem. Dantes o pão (símbolo do corpo de Cristo) oferecido ao Espírito Santo era transportado em tabuleiros normais.

A Festa dos Tabuleiros realiza-se em Tomar de quatro em quatro anos e atrai milhares de visitantes à cidade. Os tomarenses, além de apoiarem a realização da festa com varandas e janelas decoradas, é que decidem, de resto, se há ou não festa, e elegem o mordomo por votação popular. Este ano, pela primeira vez, o mordomo é uma mulher.

 

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