Espaços no Porto e em Lisboa onde se encontra mais do que livros

Livraria Culsete, em Setúbal (Fotografia de Orlando Almeida/GI)
Mais do que apenas vender livros, há propósitos nestas oito livrarias independentes do Porto e de Lisboa que valem a pena ir conhecer em pessoa e nelas demorar algum tempo. Não será difícil, porque há sofás, pátios, jardins e livreiros amistosos à espera de quem adora livros, novos e velhos, folheá-los e conversar sobre eles.

Da literatura marginal aos usados: quatro livrarias independentes no Porto

Livros acabados de publicar, de autores malditos, pouco conhecidos ou de temáticas queer, mas também velhos clássicos já manuseados, monografias históricas, revistas independentes, e ainda bar e agenda de eventos. Eis o que têm para oferecer estas quatro livrarias do Porto, inauguradas ou refrescadas em plena pandemia.

Livraria Exclamação, Porto
Uma casa para a literatura marginal

A Livraria Exclamação dá visibilidade a autores malditos ou pouco conhecidos, publicados pela editora homónima e por outras que, como ela, trabalham por carolice. Não faltam atividades movidas a Bibliofolia – a alegria dos livros. CF

(Fotografia de Leonel de Castro/GI)

A Editora Exclamação abriu uma livraria com o mesmo nome, em inícios de julho, no Porto, tendo como mote a Bibliofolia, ou seja, a alegria dos livros. Um espaço de leitura e encontro, que acolhe lançamentos, oficinas de escrita, exposições ou atividades para crianças, e tem em marcha novidades como a Comunidade de Leitores “Boémia”, com curadoria de Saguenail. Mas a Livraria Exclamação distingue-se, acima de tudo, por ser uma casa para a “literatura marginal com qualidade”, onde cabem “autores malditos” e pouco conhecidos, explica o proprietário, Nuno Gomes.

Exemplo acabado do interesse da Exclamação pelas franjas é que se prepara para editar em português, traduzida do persa, por uma mulher, a obra completa da poeta afegã Nadia Anjuman, “a marginal das marginais”, na expressão de Nuno Gomes. A autora publicou o primeiro livro após a queda do regime talibã, em 2001, e tinha um segundo escrito quando morreu, depois de ter sido espancada pelo marido – um bibliotecário que não via com bons olhos a sua produção literária.

Nuno Gomes no jardim das traseiras.
(Fotografia de Leonel de Castro/GI)

“Portugal tem uma especificidade: muitas pequenas editoras que, como nós, trabalham por amor à camisola. A nossa editora é suportada por outros projetos e pela carolice”, prossegue Nuno, que, além de editor, é biólogo. Através da empresa Bluemater, disponibiliza soluções de tratamento de águas inovadoras e ecoeficientes – inventou sistemas já patenteados ou em vias disso.

Na edição, tudo começou com a Planeta Vivo, ligada à natureza, e que agora é uma das coleções da Exclamação, coordenada pelo próprio. Há várias, com diferentes curadores. Entre elas, a Avesso, dedicada a autores relevantes e muito pouco conhecidos, coordenada por Rui Manuel Amaral; a Novíssima, centrada em novos talentos da poesia e coordenada por Nuno Brito e Maria Bochicchio; ou a Afrikana, coordenada por António Cabrita.

Umas das peças da exposição “Livros-Objecto”, de Isabel de Sá.
(Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Nas prateleiras, além da Exclamação, estão representadas outras pequenas e microeditoras, assim como algumas editoras maiores e outras chancelas, que se enquadram ali. Lado a lado com títulos da Hélastre, da Orfeu Negro ou da Língua Morta, estão outros da Assírio & Alvim, da Tinta da China e mais.

Existe uma loja online, mas vale bem a pena visitar a livraria, com um pequeno jardim nas traseiras, rés-do-chão e primeiro andar. Neste último, ficam as obras ligadas à natureza, à arte e infanto-juvenis – o ideal é celebrar os livros logo desde a infância.


Relíquias

Há algumas relíquias expostas na livraria, desde uma prensa do século XIX até uma máquina de escrever, dos anos 1930, que funciona com ponteiro.


SUGESTÃO DO LIVREIRO:

“Antes de mais e depois de tudo”, de Regina Guimarães
Editora Exclamação
14,90 euros

Eis a primeira antologia poética da autora portuense, com seleção e posfácio de Rui Manuel Amaral. “A Regina escreve poesia ao pequeno-almoço, num e-mail… Este é um livro que se lê em qualquer altura, como ela escreve em qualquer altura. É uma poesia de alegria”, defende Nuno Gomes.

(Fotografia de Leonel de Castro/GI)


Livraria Aberta, Porto
Espaço para se ler as margens

Foi no fim do primeiro confinamento que Paulo Brás e Ricardo Braun começaram a pensar em abrir um espaço próprio. Surgiu então a Aberta, primeira livraria de temáticas queer no Porto. LM

(Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Paulo, investigador na área da literatura, produtor cultural e performer, e Ricardo, tradutor, encenador e professor de dramaturgia, pensaram em abrir um espaço cultural após o primeiro confinamento. “Não pensámos necessariamente numa livraria, mas sim num espaço para a cidade onde pudéssemos desenvolver o nosso trabalho”, conta Paulo. Mas logo perceberam que o espaço tinha de ser sustentável. “Podia vir para aqui fazer programação cultural mas como é que isso se pagava?”. Idealizaram, então, uma livraria, que inauguraram em junho e, agora que foram levantadas as limitações devido à pandemia, querem ter lá exposições, conversas, lançamentos de livros, entre outros eventos.

Desde o início que assumem o espaço como uma livraria queer, sendo assim a primeira do género na cidade. “Já tinha havido uma livraria LGBT [lésbica, gay, bissexual e transgénero] em Lisboa, a Esquina Cor de Rosa, da Jó Bernardo (funcionou entre 1999 e 2005)”, lembra Paulo. Aqui, optam pelo termo queer por uma questão de inclusividade. “A par das minorias sexuais, é importante falar de outras. A questão da intersecionalidade é muito importante. As lutas pelos direitos humanos não são todas a mesma coisa mas podem ser lidas em conjunto e podem aprender umas com as outras”, reflete. “Queremos ser abrangentes, por isso, para além das minorias sexuais, falamos de minorias raciais, de classe, de género”.

O espaço da livraria e o seu catálogo, ainda em construção, refletem isso mesmo. A loja é um espaço minimalista e arrumado, com muito espaço vazio “para que carros de bebés ou pessoas em cadeiras de rodas possam passar”. Nas prateleiras, os livros não estão dispostos por género literário, mas sim por ordem alfabética de autores. Começa pelos anónimos, “quase como uma brincadeira ao início da história da literatura” – o primeiro livro é mesmo o “Épico de Gilgameš” – depois vai de A ao Z. Na última prateleira estão as antologias e os livros com vários autores. As novidades estão junto ao balcão.

À parte, estão as secções infantil e juvenil. “São muito abrangentes, pois não era possível ter um catálogo exclusivamente queer em Portugal”, diz. Alguns dos livros disponíveis já foram publicados com esse objetivo, há outros que não, mas que permitem “ter essa conversa com as crianças e os adultos responsáveis por essas crianças”. Desde que os livros “falem de diversidade, de inclusão, já nos sentimos à vontade para os ter cá”.

Na parte dedicada aos jovens, há alguns clássicos para “se ler as margens de outra maneira. Muitos livros juvenis falam de crianças órfãs ou que estão sozinhas. Todos contam de alguma maneira histórias de superação a partir do isolamento ou da marginalidade. Faz todo o sentido ter aqui, por exemplo, ‘O Diário de Anne Frank’”, conclui.

(Fotografia de Leonel de Castro/GI)


Editora queer

Outra das facetas deste projeto é ser uma editora, dedicada à publicação de livros antigos de autores portugueses e estrangeiros. O primeiro será “O Barão de Lavos”, de Abel Botelho, originalmente publicado em 1891 e que é o primeiro romance homoerótico português.


SUGESTÃO DOS LIVREIROS:

“Menino, Menina”, de Joana Estrela
Planeta Tangerina
12,90 euros

“Este livro para a infância é de uma autora e ilustradora incrível do Porto e reflete o que queremos para esta secção. De forma descomplicada, fala de género para as crianças, mas ainda mais para os adultos responsáveis por essas crianças. Começa por falar das distinções de género, dos seus clichés, para depois os desconstruir”.

(Fotografia de Leonel de Castro/GI)


Térmita, Porto
Um sítio para agregar livros e pessoas

Os donos do Café Candelabro, onde antes funcionou um alfarrabista, nunca deixaram cair a ligação aos livros, mas quiseram dar-lhes casa própria. Em fins de 2020, abriram a livraria Térmita mesmo ao lado, num antigo armazém de madeiras. CF

A equipa que se divide entre a livraria Térmita e o Café Candelabro.
(Fotografia de Pedro Correia/GI)

A pandemia não demoveu os primos Hugo Brito e Miguel Seabra, mentores do Café Candelabro, de abrir uma livraria na porta contígua: a Térmita. O nome assenta-lhe bem. Afinal, nasceu num antigo armazém de madeiras então tomado por bichos de natureza gregária que fazem daquela matéria-prima – e dos livros – refeição. “Os sítios também falam um bocado do que poderão ser”, comenta Hugo Brito, frisando que o projeto – de que também faz parte o livreiro Hugo Miguel Santos – pretende “agregar pessoas, livros, ideias”.

O espaço sofreu obras sem apagar as marcas do tempo, condizentes com a sua nova vocação. Na Térmita, livros usados e fora de edição surgem ao lado de outros bem recentes, “escolhidos a dedo”, de pequenas editoras como Sr Teste ou Edições do Saguão. Tanto se encontra publicações de aspeto cuidado, acabadas de sair, como velhos clássicos, monografias históricas, livros técnicos ou de arte. “Queremos ser um sítio onde o livro seja tratado de forma especial, e não simplesmente colocado por ordem alfabética”, resume Hugo Brito. Essa “desorganização organizada” gera surpresas, “faz parte da magia de ir a uma livraria: podes encontrar um policial na secção de filosofia”.

Os móveis e estantes desenhados pelo ateliê Still Urban Design, de Sofia Pera Fernandes, convivem com objetos curiosos, como figuras de robôs ou uma cadeira de cinema, a puxar pela leitura. Há ainda alguma música de editoras portuenses e espaço para apresentações de livros, oficinas e exposições – a propósito, “Pise com cuidado”, de Amanda Copstein, acaba de chegar ao armazém dos fundos.

A exposição “Pise com cuidado”.
(Fotografia de Pedro Correia/GI)


SUGESTÃO DOS LIVREIROS:

“Regras para a direcção do espírito”, de Pedro Eiras, com desenhos de Pedro Proença
Editora Flop
18,50 euros

A obra, em prosa, apresenta-se numa caixa contendo 31 cartas e um cartaz. É um objeto literário, foge ao formato tradicional do livro. “Este tipo de leitura convida à hipertextualidade; não tem de ter uma ordem”, sublinha Hugo Brito.

(Fotografia de Pedro Correia/GI)


Gato Vadio, Porto
A livraria da contracultura

No início de 2020, a livraria Gato Vadio – da Associação Saco de Gatos – saiu do espaço onde estava desde a sua abertura, em 2007, na Rua do Rosário, para reabrir numa artéria próxima. O espaço continua a juntar livraria, bar e espaço para eventos. LM

(Fotografia de Rui Oliveira/GI)

“Isto não é apenas uma livraria, é um espaço onde se fala de livros”, começa por elucidar Jorge Leandro Rosa, responsável pelas escolhas editoriais que aqui se encontram. O ensaísta e tradutor não quis, nesta nova fase do Gato Vadio após a mudança de instalações, deixar de parte a tradição ligada à poesia, mas quis aprofundar a atenção para outras áreas, “sobretudo o ensaio político, as alternativas ecológicas e o ensaio sobre arte”.

Assim, foi reforçada a presença de revistas nestes campos, “principalmente estrangeiras – espanholas, francesas, norte-americanas – porque não há muitas portuguesas”, diz. A linha continua a ser o pensamento alternativo, a contracultura, a atenção aos pequenos editores, ao fanzine e aos livros de autor. “O pequeno editor de qualidade interessa-nos muito – por exemplo, temos livros de uma editora aqui do norte, a Contracapa, que tem lançado antologias de poesia árabe, sueca, hispano-americana, italiana…”. Esta coleção vai ser o centro de vários eventos durante os próximos meses.

Como espaço de convívio que é, a Gato Vadio quer “promover a vida social em torno do livro”, mas não só. Continua a organizar sessões de cinema regulares às quintas-feiras e alguns jantares informais. Em novembro, pretende organizar um encontro internacional de revistas de pensamento alternativo.


SUGESTÃO DOS LIVREIROS:

Revista Salamandra (23-24)
Edição: Grupo Surrealista de Madrid
15 euros

Está à venda no Gato o mais recente número da “Salamandra”, a revista editada pelo Grupo Surrealista de Madrid. Aqui, em mais de 400 páginas, há ensaio, poesia e arte visual, sempre no espírito da “rebelião surrealista”. Para ser lida “à noite, com um bom suporte e com tempo disponível”.

(Fotografia de Rui Oliveira/GI)


Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 


Das raridades aos fundos de catálogo: quatro livrarias independentes na Grande Lisboa

A Snob, a Tantos Livros… Livreiros, a Stuff Out e a Culsete são algumas das livrarias independentes que estão a mexer com o mercado literário em Lisboa e Setúbal. Conheça aqui as suas histórias e o que têm para oferecer.

Snob, Lisboa
Diversidade com nova morada

A Snob foi fundada online, ganhou loja física em Guimarães e de lá se mudou para Lisboa com milhares de livros na bagagem, novos e em segunda mão. Os leitores têm agora um novo ponto de encontro. AR

Qual nómada, a Snob já habitou vários lugares. Nasceu na Internet por iniciativa dos amigos Duarte Pereira, Eduardo Fernandes e Emília Araújo, ocupou um espaço físico em Guimarães e há quatro anos mudou-se para Lisboa. Primeiro, para um espaço da Cossul (uma associação cultural com 135 anos de existência), e depois para a Travessa de Santa Quitéria, no Rato. “Felizmente os leitores acompanharam-nos e permitiram que abríssemos em maio de 2020, depois do confinamento”, conta Duarte ao lado de Rosa Azevedo, no pátio traseiro desta livraria independente.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

O facto de ter tido sempre vendas à distância deu-lhe a resiliência necessária para resistir aos abalos dos confinamentos. Por outro lado, a manutenção dos hábitos de leitura e as vendas personalizadas também ajudaram. “Rato de biblioteca” assumido, depois de ter estudado línguas e culturas europeias e orientais, de vender livros porta-a-porta e de trabalhar em livrarias como a Centésima Página e a Fnac, Duarte foi percebendo que havia vários nichos de mercado que as livrarias grandes não cobriam. “Quisemos explorar áreas com potencial, com base nos nossos gostos”, justifica.

Em paralelo com a montra digital, a Snob acolhe nove mil livros, apenas “um quarto” do que têm em catálogo, dispostos num corredor e numa pequena sala. A oferta baseia-se em obras de editores independentes e em edições próprias ou em parceria. E divide-se entre literatura portuguesa e estrangeira (ficção e não-ficção), poesia, filosofia, ensaio literário, humanidades, artes (cinema, fotografia, arquitetura, música, teatro, banda desenhada, ilustração) e infanto-juvenil. Também há revistas de literatura, poesia e ensaio literário e jornais como o Mapa e Batalha.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

Cada secção tem livros em destaque em mesas ao centro, e junto ao balcão encontra-se uma estante dedicada aos livros raros, como é o caso de exemplares em fim de circulação, edições há muito esgotadas, primeiras edições e livros curiosos. Descobrir obras difíceis de encontrar é, de resto, uma atividade de “detetive” que a Snob também faz, para felicidade dos leitores. “Uma vez encontrei um livro de que um senhor andava à procura há 35 anos. Disse-nos que foram os 12 euros mais bem gastos da vida dele”, conta Duarte.

Com a aproximação do Natal e o querer oferecer presentes literários começam também a chegar os pedidos de recomendação, e quem é cliente atesta o serviço personalizado. Enquanto o tempo permitir, é de pegar num livro e ir para o pátio da loja, um recanto que em breve deverá ganhar outra vida com ilustrações de João Mário Pinto. Apetecerá ficar por ali a ler na companhia de um copo de vinho ou, então, a escutar um disco de vinil com a comunidade. Prometido está também o regresso dos encontros literários.


Exposições na parede
A livraria reserva uma parede para expôr pequenas mostras de arte. Neste momento, podem ver-se ilustrações da moçambicana Susy Bila.


Sugestão do Livreiro: “A Trilogia da Cidade de K.”, de Agota Kristof. Relógio de Água, 22 euros

“Um livro desconfortante, para ter uma experiência de leitura diferente, mais do que ler uma história bem contada”. Esta compilação de três livros da autora foi editada pela primeira vez em Portugal, nos anos 90, e replicada noutros países.


Tantos Livros… Livreiros, Lisboa
O mundo cabe numa loja

No Saldanha, uma fachada luminosa convida a descobrir um mundo de livros para todos os públicos e circunstâncias, com direito a cafetaria e mimos para os animais. AR

Tantos livros, tanto espaço e tão pouco tempo para os ler. Numa adaptação livre, podia ser este o slogan da Tantos Livros… Livreiros, aberta recentemente na zona do Saldanha. Em bom rigor, são 100 mil livros que se expõem nesta loja dividida entre um amplo e luminoso piso térreo, um pequeno mezanino e um piso inferior. A ligá-los, uma escadaria em patamares curvilíneos. É fácil, por isso, dar de caras com a coleção das grandes obras da Europa-América, editora onde Almira Vilanova e Frederica Benedita trabalharam quase 30 anos.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

A Publicações Europa-América publicou 51 milhões de livros de 1.900 autores portugueses e estrangeiros, foi uma das maiores editoras do país, mas em 2019 teve de leiloar os bens móveis no decurso de uma insolvência. “Não sabendo fazer outra coisa na vida”, diz Almira, as duas amigas decidiram comprar parte do seu fundo de catálogo (o que vendem na loja) e abrir duas lojas, com nome próprio, em moradas que a editora alugava, na Parede (Cascais) e em Lisboa. A primeira loja abriu em fevereiro de 2020 e a segunda em junho.

Cada uma tem o seu público, pelo que é um “trabalho minucioso” selecionar as obras que decidem vender. Mas diversidade é a palavra-chave para descrever a oferta da Tantos Livros… Livreiros, que aposta em referências de “grandes e pequenas editoras” e na promoção das novidades editoriais. Romance, história, política, religião, psicologia, livros práticos sobre os mais variados temas, livros técnicos, poesia e literatura portuguesa e estrangeira (francesa e inglesa, por exemplo) são algumas das secções existentes.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

Ao longo da escadas e no piso de baixo há também obras de géneros tão distintos como ficção-científica e policial, uma secção exclusivamente dedicada às crianças e outra zona com materiais de papelaria e artes manuais. A arte, aliás, está um pouco por toda a parte, ou não fosse este piso também galeria, com obras de artistas portugueses e estrangeiros – consagrados e emergentes – expostas nas paredes. De momento, há ali peças do importante ceramista António Vasconcelos Lapa.

De regresso ao piso com luz natural, vale a pena ainda subir ao mezanino que conserva algumas raridades, algumas para folhear sentado e outras só para ver, como a primeira página do Diário de Notícias de 28 de outubro de 1914 emoldurada. Graças à decoração, todo o ambiente remete para o conforto aconchegante de uma casa, convidando a ficar por ali sentado nos sofás a ler e a beber um café, ou chá.


Loja pet-friendly
Os cães que acompanham os donos também são bem-vindos, tendo um bebedouro à entrada e oferta de biscoitos.


Sugestão do livreiro: “Os Animais Falam”, de Penelope Smith. 4 Estações Editora, 15,90 euros

“Uma abordagem pioneira ao campo da comunicação animal”, ideal para quem tem amigos de quatro patas em casa.


Stuff Out, Lisboa
O maravilhoso mundo da segunda mão

Sob o signo da economia circular, Pedro e Rui criaram uma plataforma de venda de artigos em segunda mão que se tornou uma livraria com presença física. A oferta é plural e mais económica. AR

Formados em gestão e sistemas de informação, Pedro Sousa e Rui Castro Prole, de 24 e 25 anos, tinham carreiras estáveis quando decidiram abandoná-las para criar uma plataforma de venda de artigos em segunda mão, no final de 2019. Inspirados pela filosofia da economia circular, mais sustentável, e pela ideia de que a vida dos livros não se esgota numa única leitura, focaram a oferta na literatura com o objetivo de salvar livros e democratizar o acesso à cultura. Em julho, a Stuff Out ganhou um espaço físico ao lado da cafetaria Tease, entre São Bento e o Príncipe Real.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

Luminosa e decorada com algumas antiguidades, a livraria é um espaço fotogénico. Tem um mosaico de livros velhos na parede e uma televisão a preto e branco em frente a duas poltronas que convidam à leitura, porque também quer ser um local para se estar. Já os três mil livros à venda na loja distribuem-se por várias estantes/secções: livros antigos e raros; arte, design e fotografia; literatura portuguesa e estrangeira; banda desenhada e infanto-juvenil; literatura lusófona e traduzida; ficção; livros técnicos e práticos; ciências sociais; história; textos políticos.

Todos contam duas histórias – a que trazem escrita e a do percurso até à Stuff Out – contam os jovens, que se encarregam de os adquirir a particulares, fotografar, classificar segundo o estado de conservação e colocá-los à venda, embalando e enviando para o destinatário. “Queremos dar rigor, transparência e rapidez a estes processos”, sintetiza Rui. Se um cliente não encontrar o que procura, pode pesquisar no website e, se o livro existir, em poucos minutos é trazido do armazém para as mãos do novo dono. A livraria ganha um dinamismo singular.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)


Sugestão do livreiro: “Austerlitz”, de W. G. Sebald. Penguin Books, 6 euros

“Um livro bom para refletir sobre como a memória é mais um processo reconstrutivo do que recordativo”. Um clássico do século XX.


Culsete, Setúbal
Novo capítulo em casa histórica

A histórica livraria independente Culsete tem vivido uma montanha-russa desde a sua fundação, há 48 anos. Esteve em risco de fechar, mas, ao fim de três mudanças de mãos, renovou-se e está de boa saúde. AR

A livraria setubalense Culsete é uma sobrevivente. Fundada em 1973 pelo casal de livreiros Manuel e Fátima de Medeiros, firmou-se como um importante pólo cultural da cidade, formou públicos, recebeu livros e autores nacionais, organizou feiras do livro. Após a partida de Manuel de Medeiros, o autointitulado Livreiro Velho de Setúbal, a sua mulher tomou a decisão de retirar-se por motivos de saúde e procurou quem quisesse ficar com a gestão da Culsete.

(Fotografia de Orlando Almeida/GI)

Durante uns tempos, a cidade temeu vir a perder a histórica livraria, mas dois novos grupos de sócios haveriam de escrever-lhe novos capítulos. Quando Rita Siborro e Raul Reis souberam que o espaço “estava para trespassar/vender” novamente, decidiram “arriscar” e ficar com ele. “Tivemos de correr o risco de mudar radicalmente a loja”, recorda o casal formado em Psicologia e Design. Mantiveram algumas das mobílias, mas tornaram o espaço mais moderno, amplo e luminoso.

O conceito de livraria independente que sempre caracterizou a Culsete manteve-se. Há livros de literatura infanto-juvenil, literatura lusófona e traduzida, poesia, ensaios, ciências sociais e humanas, gestão, fotografia, ilustração, saúde e bem-estar e espiritualidade, assim como revistas como a Fome e a Gerador e espaço para edições de autores locais.

(Fotografia de Orlando Almeida/GI)

A loja também vende canetas, blocos de notas e cadernos escolares vintage, postais, cadernos e discos. Para meados de outubro está pensada a retoma da programação cultural regular, que passará por encontros com autores, exposições, oficinas e horas do conto. O ilustrador André Ruivo terá obras expostas na livraria, no âmbito da Festa da Ilustração, que decorre em outubro e novembro na cidade.


Sugestão do livreiro: “Maremoto”, de Djaimilia Pereira de Almeida. Relógio d’Água, 17 euros

“Livro ideal para estar na estante da boa literatura contemporânea”.


Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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