Como fazer e cuidar do seu canteiro de ervas aromáticas

Um campo de equináceas no Cantinho das Aromáticas. (Fotografia: DR)
Se estiverem felizes, as ervas aromáticas são fáceis de cuidar e podem servir para condimentos, infusões e até alegrar o ambiente com os seus aromas. O agrónomo Luís Alves, do Cantinho das Aromáticas, dá conselhos sobre como as escolher no viveiro, cultivar em casa e ainda cuidar e colher.

Umas folhas de tomilho no assado, outras de segurelha no feijão, um toque de hortelã na limonada e na sangria e aquele cheiroso ramo de coentros no arroz de peixe… Quem não tem imediata memória dos aromas e dos paladares destas ervas aromáticas? E quem não sabe o que é querê-las e não as ter à mão… Isso pode ser relativamente fácil para quem tiver algum espaço exterior em casa, desde uma varanda a um terraço, desde que sejam soalheiros. Aberta que está a época da sementeira e depois de conferir se tem as ferramentas necessárias, esta pode ser uma boa aventura para fazer durante este período de reclusão social.

Luís Alves, que cultiva plantas aromáticas em modo de produção biológica há quase 20 anos, recomenda apenas alguns cuidados na hora de as comprar e de instalar em casa. E assinala ainda que é preciso aceitar as aromáticas como elas são, nomeadamente na sua necessidade de ar livre e de serem regularmente podadas/cortadas. “Não são plantas de interior e não as podemos ter em vasinhos, como encontramos à venda no supermercado, nem sobrevivem naquelas paredes de aromáticas muito bonitas que vemos na televisão. Isso é apenas decorativo e pode induzir as pessoas em erro”, assinala o agrónomo, fundador do Cantinho das Aromáticas.

(Fotografia: DR)

“A maioria das plantas aromáticas precisa pelo menos de um terraço ou de uma varanda, até porque quase todas elas precisam de sol. Em ambientes fechados, com humidade e com pouca luz, acabam por morrer”, refere Luís Alves. Podem, contudo, ser cultivadas em paredes e em bancas, mas cá fora, na varanda. A vantagem é que, quando estão num ambiente confortável, “são as plantas mais fáceis do mundo”, sublinha.

Antes de tudo, é preciso perceber se existe na nossa casa esse espaço exterior com sol para acomodar um canteiro ou vasos de aromáticas, que plantas gostaríamos de ter e perceber quais é que podemos ou não cultivar na mesma floreira. Depois, é preciso adquirir as floreiras ou vasos necessários porque os pequenos vasinhos onde as trazemos do viveiro servem apenas para isso: para as transportar.

“Deixá-las ficar no vaso é um erro, porque ele não deixa a planta desenvolver-se. Antes de comprar, devemos preparar as floreiras maiores para as plantar, de forma a que possa desenvolver as raízes, crescer e dar-nos aqueles cortes que nos deixam felizes”, refere Luís Alves. Para preparar as floreiras, deve-se ter em conta as plantas que não se podem misturar. Por exemplo, as plantas muito parecidas, como coentros e salsa, porque o primeiro gosta de sol e a segunda gosta de sombra e lugares húmidos.

(Fotografia: DR)

Também não se deve misturar hortelãs (incluindo o poejo e a erva-peixeira) com outras plantas, porque elas tendem a invadir todo o espaço. “O ideal é ter uma floreira só para elas, como aquelas redondas de terracota grandes, e cultivá-las sozinhas. Elas crescem e tomam conta da floreira ao longo do tempo e já não invadem o resto do jardim”, refere o agrónomo. Já outras aromáticas podem ser cultivadas juntas na mesma floreira, que pode levar entre 4 a 6 espécies: tomilho-limão, tomilho bela-luz, cebolinho, segurelha, manjericão e manjerona, por exemplo.

Outro erro comum entre os hortelões principiantes é regar demais, porque regra regra geral as aromáticas precisam de pouca água. “É preferível que passem um bocadinho mais de sede do que serem demasiado regadas porque apodrecem facilmente”, sublinha Luís Alves, que partilha um truque para saber se é preciso ou não regar. Consiste em retirar um bocadinho de substrato e fazer uma bola na mão; se ao apertar ficar húmido e coeso, o substrato tem água q.b, se pingar muito tem água a mais. “É preciso dar-lhes água suficiente e o qb é a maior lição da vida… Mas depois de fazer isto duas ou três vezes, aprende-se”, refere.

(Fotografia: DR)

Depois de termos o nosso canteiro em produção, além do prazer de o cheirar e ver crescer, é preciso podá-lo com regularidade. Podar, contudo, significa colher. E no caso das aromáticas, esse corte pode ser mais do que apenas uns raminhos para o assado. “É preciso podar mesmo que isso signifique que se fica com mais colheita do que aquela que precisamos. Se não o fizermos, a planta fica lenhosa, apodrece mais facilmente e já não será tão boa para colher nos dias seguintes”, indica o agrónomo.

Isto pode ser, porém, a oportunidade para pensar em formas de as conservar, secando-as para utilizar como condimentos ou infusões. Ou ainda guardando-as alguns dias no frigorífico (coentros e salsa, por exemplo, aguentam vários dias numa taça com tampa) ou congelando para ir usando na comida.

 

BOAS PRÁTICAS PARA CULTIVAR AROMÁTICAS

1. Escolher um bom lugar soalheiro na varanda, terraço ou quintal para fazer o canteiro de aromáticas. Não são plantas de interior e precisam de ar livre e sol.

2. Comprar vasos e floreiras de acordo com as plantas que quer cultivar. Lembre-se que não se deve misturar as hortelãs com as outras, por isso adquira uma floreira só para elas.

3. Compre as suas plantas aromáticas no horto ou no viveiro entre aquelas que estão cá fora. Escolha as mais pequenas para que façam o ciclo de crescimento em sua casa (as plantas muito desenvolvidas são plantas já mais perto do seu fim).

4. Transplante as aromáticas dos vasinhos para as floreiras logo que possa, depois da compra. Os vasos do horto só servem para transportar, não têm espaço suficiente para que a planta cresça e desenvolva raízes.

5. Distribua as plantas pelas floreiras de acordo com as suas características. Não misture as hortelãs com as outras, porque são invasivas, mas pode juntar entre 4 a 6 espécies no mesmo vaso.

6. É melhor regar a menos do que a mais, porque as aromáticas precisam de pouca água. Faça uma bolinha com o substrato na mão e aperte para testar a humidade (se pingar, tem água a mais).

7. Faça cortes regulares, mesmo que fique com colheita a mais do que aquela que deseja usar. As aromáticas precisam de ser podadas para estar bem. Use o excesso para secar, congelar ou guardar no frigorífico.

 

O agricultor Luís Alves, do Cantinho das Aromáticas. (Fotografia: DR)

SOBRE O AGRICULTOR:
Luís Alves, portuense, pai de dois filhos, sempre se sentiu atraído pela terra e pela agricultura, optando muito cedo por esse caminho. Foi estudar para a Escola Agrícola Conde de São Bento, em Santo Tirso e daí para o curso de Engenharia Agrícola da Universidade de Trás-os–Montes. De volta ao Porto, geriu durante seis anos os 18 hectares dos jardins da Fundação de Serralves. Há 18 anos, fundou o Cantinho das Aromáticas, um projeto de produção de plantas aromáticas e medicinais em agricultura biológica urbana, em Canidelo, Vila Nova de Gaia, cujas infusões têm ganhado diversos prémios internacionais e pode encontrá-lo ainda no Instagram.

 

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