Coimbra: bienal leva arte contemporânea ao convento

Corredor do Convento de Santa Clara-a-Nova, que é a grande sala do Anozero. Fotografia: Maria João Gala/GI
Um edifício com frases na fachada, uma sala tornada floresta e uma zona de estar, ao ar livre, feita com madeiras empilhadas. Eis uma amostra do que se pode ver no Convento de Santa Clara-a-Nova, no âmbito do Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, a decorrer até dia 29, com entrada gratuita.

A terceira edição do Anozero é composta por obras de 39 artistas, de diversos países, espalhadas por lugares como o Colégio das Artes, o Museu da Ciência ou as instalações do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC). Mas é o Convento de Santa Clara-a-Nova, na margem esquerda do Mondego, que concentra a maior parte dos trabalhos.

A bienal ocupa uma parte do edifício que albergou monjas clarissas e, mais tarde, foi usado para fins militares. “Vim aqui à inspeção” é frase habitual entre os homens que ali chegam de visita. Entretanto, ficou ao abandono, tendo sido integrado no programa governamental Revive, que visa concessionar edifícios públicos carentes de reabilitação a privados, para efeitos turísticos. Com a bienal, o convento ganha vida de dois em dois anos e vira espaço de inclusão, porque o acesso é livre.

Na antiga de sala de praças foram plantadas árvores.
Fotografia: Maria João Gala/GI

O público facilmente passa horas a deambular pelas diferentes áreas de exposição, incluindo torreões, oficinas e espaços exteriores; mas também ali pode beber um chá e comprar livros de arte (a cafetaria La Romana fica na antiga sala de oficiais; e há uma livraria temporária da Almedina). Outro atrativo é a vista que se obtém lá do alto, autêntico postal combinando rio, casario e Universidade.

A zona da cafetaria, na antiga sala de oficiais.
Fotografia: Maria João Gala/GI

“O Convento de Santa Clara-a-Nova é um edifício de enorme importância do ponto de vista cultural e arquitetónico e, embora visível de todo o lado, estava mais ou menos esquecido”, observa Carlos Antunes, diretor do CAPC, entidade que organiza a bienal, em parceria com a Câmara Municipal e a Universidade de Coimbra.

A iniciativa surgiu para promover uma reflexão em torno da classificação da Alta, Universidade e Sofia como Património da Humanidade. Daí a estreita ligação entre arte contemporânea e património. “Esta bienal é pensada para Coimbra na sua circunstância, e não podia existir noutro lado”, defende Carlos Antunes, frisando que não pretende ser um mero evento, mas “ter uma ação continuada”.

“Ir y volver”, de Marilá Dardot.
Fotografia: Maria João Gala/GI

Alguns dos espaços que viraram salas de exposição.
Fotografia: Maria João Gala/GI

A terceira edição do Anozero tem como tema “A Terceira Margem”, uma referência ao conto “A Terceira Margem do Rio”, do escritor brasileiro João Guimarães Rosa. A curadoria-geral é de Agnaldo Farias, professor de arquitetura e crítico de arte, também brasileiro, e a curadoria-adjunta é dividida entre Lígia Afonso e Nuno de Brito Rocha.

Para Carlos Antunes, “era o momento de ter uma ambição internacional mais evidente”, o que foi conseguido. Os artistas são “maioritariamente não portugueses, e mesmo os portugueses são de várias geografias”, observa, adiantando que esta é também a edição com mais paridade homem-mulher.

Outro dado que destaca é o número de obras comissionadas, ou seja, encomendadas propositadamente para a bienal. São 20, e uma delas é “Verônica”, de Daniel Senise, artista brasileiro que trabalha em torno da memória, e recuperou parte das paredes de um corredor com 200 metros. “É uma obra muito silenciosa, quase espectral, muito delicada.”

Além de exposições, há zonas de estar, como o Speaker’s Garden – Disseminário, “um lugar de encontro informal de pessoas para lançar ideias”. No interior daquela construção, que resulta do empilhamento de madeiras que já ali estavam, há vegetação espontânea e cadeiras.

Carlos Antunes, diretor do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, no Disseminário.
Fotografia: Maria João Gala/GI

A lista de artistas participantes inclui o realizador Steve McQueen, Susan Hiller, Tomás Cunha Ferreira, Ana María Montenegro, Ana Vaz, Anna Boghiguian, António Olaio, Belén Uriel, Bouchra Khalili, Bruno Zhu, Cadu, Daniel Senise, David Claerbout, Erika Verzutti, Eugénia Mussa, Joanna Piotrowska, João Gabriel, João Maria Gusmão + Pedro Paiva, José Bechara, José Spaniol, Julius von Bismarck, Laura Vinci, Luis Felipe Ortega, Lynn Hershman Leeson, Magdalena Jitrik, Maria Condado, Mariana Caló e Francisco Queimadela, Mattia Denisse, Maya Watanabe, Meriç Algün, Przemek Pyszczek, Renato Ferrão e Rita Ferreira.

“The pure necessity”, de David Claerbout.
Fotografia: Maria João Gala/GI

Paralelamente às exposições, têm lugar outras atividades, como oficinas, visitas guiadas ou performances.

 




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