Cheira bem, cheira a São João: 4 plantas para o arraial em casa

O alho-porro é uma das plantas associadas às festas de São João. (Fotografia: Maria João Gala/GI)
Alho-porro, erva-cidreira, cravos e manjericos. As plantas que circulam na romaria de S. João estão ligadas a rituais de casamento e fertilidade.

Atribui-se ao alho-porro uma simbologia fálica, mas também os molhos de erva-cidreira ou os cravos são associados a amores felizes ou casamento à vista. Já o aromático manjerico é a planta namoradeira oferecida entre apaixonados, que leva uma quadra alicerçada em elementos são-joaninos, do balão à fogueira, passando pelo orvalho ou pela água das fontes. Descubra mais sobre estas plantas e, se gosta delas, saiba como as cultivar em casa.

 

1 | CIDREIRA
Nome científico: Melissa officinalis
O remédio para tudo

Esta planta aromática associada ao amor feliz na romaria de São João, com o seu cheirinho limonado e folhas de verde vivo, é um tesouro botânico. “É a panaceia da ernavária portuguesa”, refere o agrónomo Luís Alves, por ser aliada em tantos problemas A cidreira ajuda na digestão, é sedativa, acalma e ajuda a dormir. A sua infusão tem um aroma agradável e pode fazer-se com as suas folhas, secas ou frescas. É esse o conhecido “chá de cidreira”, provavelmente a primeira e mais frequente infusão que tomamos desde crianças.
A planta pode ser consumida dessa forma, mas também usada para aromatizar refrescos ou para decorar doces. Ou ainda para perfumar o ar e alegrar os olhos, se assim bastar, mercê do bonito verde das suas folhas.
A cidreira pode cultivar-se facilmente em casa, porque não precisa de muito espaço. É preciso, contudo, ter o cuidado de a instalar num lugar com sombra e meia sombra e num solo que se mantenha húmido.

 

2 | ALHO-PORRO
Nome científico: Allium ampeloprasum L.
Atrevido e picante

O alho-porro ou alho-francês (Allium ampeloprasum L.) é uma das espécies afins do alho comum (Allium sativum L.), planta da família das Lilácias (Aliácias). Segundo o livro “Plantas aromáticas em Portugal. Caracterização e Utilização” (Proença da Cunha et al, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 2014), é uma das cerca de 20 espécies espontâneas de alhos bravos em Portugal, tem um cheiro picante e pode atingir os 60 cm de altura, terminando por umbela (um conjunto) de flores avermelhadas.
A sua parte tenra é muito usada na culinária pelo gosto que dá, parecido com o da cebola – dela se faz sopa, guisados e salteados, por exemplo. Com grandes vantagens nutritivas, porque o alho-francês tem baixo teor calórico e fornece grande quantidade de minerais e fibras, vitaminas C e do complexo B. Além disso, segundo aquela mesma obra, ajuda a reduzir o colesterol e tem sido usado como emoliente da tosse. É uma das hortícolas mais populares nas hortas portuguesas.

 

3 | CRAVO
Nome científico: Dianthus caryophyllus
Flor dos amores

O cravo é a flor associada aos festejos são-joaninos e era tradição atirar-se, das janelas, estas flores ao andor de São João. Reza a história que as raparigas solteiras atiravam cravos ao passar do andor e caso as flores nele caíssem, o casamento com o seu par estava assegurado. Há um fado chamado “Cravo de São João” (letra de Aníbal Nazaré e música de Martinho da Assunção) , que começa assim: “Quando a vi, ela trazia/Bem juntinho ao coração/Como um grito de alegria/Um cravo de São João”. António Zambujo cantou este fado no seu disco “Por meu cante” (2014).

Cravo (Fotografia: DR)

Os jardins estão por esta altura cheios de cravos, uma flor muito presente na tradição portuguesa, com um perfume inconfundível e que ficou como poético símbolo da Revolução do 25 de Abril.
Por ajudarem a afastar pragas da horta, é comum encontrar cravos nas suas bordaduras. Calcula-se que existam cerca de 300 espécies de craveiros (a planta do cravo) e muitos híbridos.

 

4 | MANJERICO
Nome científico: Ocimum minimum
O arisco perfumado

Manjerico (Fotografia: João Manuel Ribeiro/GI)

O manjerico é primo do manjericão (Ocimum basilicum), as plantas que são, para muitos, o cheiro oficial do Porto no verão e de alguns dos petiscos da época – como as saladas e os refrescos. Apesar de ter folhas mais pequenas, o manjerico tem um aroma travesso e fresco muito parecido com o manjericão, e pode usá-lo da mesma forma na culinária. Vai bem com ovos, massa, queijos e tomate, assim como em molhos. Plantado em floreiras junto às janelas, ajuda a manter os insetos afastados, e é essa a melhor maneira de o ter à mão sempre fresco. Pode cheirá-lo como quiser e não apenas com a mão, nem está concebido para morrer cedo, como rezam os mitos. Ele é uma planta anual, que deve cultivar-se no final do inverno para ser colhido no verão e morre no outono. Segundo o agrónomo Luís Alves, do Cantinho das Aromáticas, o manjerico é fácil de cultivar em varandas ou terraços, porque precisa de boa exposição solar, dá-se bem em altitude ou junto ao mar, só é pouco resistente ao frio. A rega deve ser frequente nos dias de calor, junto ao solo e sem encharcar. Deve-se cortar regularmente e fazê-lo assim que florir, para estimular nova rebentação. Pode-se colher ao longo de toda a época de crescimento, mas deve-se deixar sempre algumas folhas na planta.

 

Esconjuros das plantas
Diz-se que a cidreira colhida na noite de São João cura feitiços e que o alho-porro afasta o demónio. Com variações locais, diz-se que o orvalho da noite de São João confere a estas e a outras plantas poderes de afastar mau-olhado e o diabo.




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