Atribui-se ao alho-porro uma simbologia fálica, mas também os molhos de erva-cidreira ou os cravos são associados a amores felizes ou casamento à vista. Já o aromático manjerico é a planta namoradeira oferecida entre apaixonados, que leva uma quadra alicerçada em elementos são-joaninos, do balão à fogueira, passando pelo orvalho ou pela água das fontes. Descubra mais sobre estas plantas e, se gosta delas, saiba como as cultivar em casa.
1 | CIDREIRA
Nome científico: Melissa officinalis
O remédio para tudo
Esta planta aromática associada ao amor feliz na romaria de São João, com o seu cheirinho limonado e folhas de verde vivo, é um tesouro botânico. “É a panaceia da ernavária portuguesa”, refere o agrónomo Luís Alves, por ser aliada em tantos problemas A cidreira ajuda na digestão, é sedativa, acalma e ajuda a dormir. A sua infusão tem um aroma agradável e pode fazer-se com as suas folhas, secas ou frescas. É esse o conhecido “chá de cidreira”, provavelmente a primeira e mais frequente infusão que tomamos desde crianças.
A planta pode ser consumida dessa forma, mas também usada para aromatizar refrescos ou para decorar doces. Ou ainda para perfumar o ar e alegrar os olhos, se assim bastar, mercê do bonito verde das suas folhas.
A cidreira pode cultivar-se facilmente em casa, porque não precisa de muito espaço. É preciso, contudo, ter o cuidado de a instalar num lugar com sombra e meia sombra e num solo que se mantenha húmido.
2 | ALHO-PORRO
Nome científico: Allium ampeloprasum L.
Atrevido e picante
O alho-porro ou alho-francês (Allium ampeloprasum L.) é uma das espécies afins do alho comum (Allium sativum L.), planta da família das Lilácias (Aliácias). Segundo o livro “Plantas aromáticas em Portugal. Caracterização e Utilização” (Proença da Cunha et al, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 2014), é uma das cerca de 20 espécies espontâneas de alhos bravos em Portugal, tem um cheiro picante e pode atingir os 60 cm de altura, terminando por umbela (um conjunto) de flores avermelhadas.
A sua parte tenra é muito usada na culinária pelo gosto que dá, parecido com o da cebola – dela se faz sopa, guisados e salteados, por exemplo. Com grandes vantagens nutritivas, porque o alho-francês tem baixo teor calórico e fornece grande quantidade de minerais e fibras, vitaminas C e do complexo B. Além disso, segundo aquela mesma obra, ajuda a reduzir o colesterol e tem sido usado como emoliente da tosse. É uma das hortícolas mais populares nas hortas portuguesas.
3 | CRAVO
Nome científico: Dianthus caryophyllus
Flor dos amores
O cravo é a flor associada aos festejos são-joaninos e era tradição atirar-se, das janelas, estas flores ao andor de São João. Reza a história que as raparigas solteiras atiravam cravos ao passar do andor e caso as flores nele caíssem, o casamento com o seu par estava assegurado. Há um fado chamado “Cravo de São João” (letra de Aníbal Nazaré e música de Martinho da Assunção) , que começa assim: “Quando a vi, ela trazia/Bem juntinho ao coração/Como um grito de alegria/Um cravo de São João”. António Zambujo cantou este fado no seu disco “Por meu cante” (2014).
Os jardins estão por esta altura cheios de cravos, uma flor muito presente na tradição portuguesa, com um perfume inconfundível e que ficou como poético símbolo da Revolução do 25 de Abril.
Por ajudarem a afastar pragas da horta, é comum encontrar cravos nas suas bordaduras. Calcula-se que existam cerca de 300 espécies de craveiros (a planta do cravo) e muitos híbridos.
4 | MANJERICO
Nome científico: Ocimum minimum
O arisco perfumado
O manjerico é primo do manjericão (Ocimum basilicum), as plantas que são, para muitos, o cheiro oficial do Porto no verão e de alguns dos petiscos da época – como as saladas e os refrescos. Apesar de ter folhas mais pequenas, o manjerico tem um aroma travesso e fresco muito parecido com o manjericão, e pode usá-lo da mesma forma na culinária. Vai bem com ovos, massa, queijos e tomate, assim como em molhos. Plantado em floreiras junto às janelas, ajuda a manter os insetos afastados, e é essa a melhor maneira de o ter à mão sempre fresco. Pode cheirá-lo como quiser e não apenas com a mão, nem está concebido para morrer cedo, como rezam os mitos. Ele é uma planta anual, que deve cultivar-se no final do inverno para ser colhido no verão e morre no outono. Segundo o agrónomo Luís Alves, do Cantinho das Aromáticas, o manjerico é fácil de cultivar em varandas ou terraços, porque precisa de boa exposição solar, dá-se bem em altitude ou junto ao mar, só é pouco resistente ao frio. A rega deve ser frequente nos dias de calor, junto ao solo e sem encharcar. Deve-se cortar regularmente e fazê-lo assim que florir, para estimular nova rebentação. Pode-se colher ao longo de toda a época de crescimento, mas deve-se deixar sempre algumas folhas na planta.
Esconjuros das plantas
Diz-se que a cidreira colhida na noite de São João cura feitiços e que o alho-porro afasta o demónio. Com variações locais, diz-se que o orvalho da noite de São João confere a estas e a outras plantas poderes de afastar mau-olhado e o diabo.